II

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O carro onde estava Kim Namjoon e o pai mal se arrastara para fora do beco quando Kim Taehyung avançou na janela com tudo e olhou para cima a fim de descobrir quem era o dono da sombra no prédio oposto, mas não viu nada além dos tijolos sujos da parede.

Droga!

Com um salto rápido Taehyung estava na saída de incêndio subindo as escadas com o coração na mão, torcendo para aquilo não ter passado de uma ilusão de ótica causada pela fadiga de horas de trabalho ou alguma paranoia sua. Ninguém podia saber o que acontecera no apartamento 57 naquela tarde, não que ele temesse a prisão – a pena de um ano ou dois mais uma multa era o mesmo que férias para ele –, mas porque a informação do cadáver ser falso e, logo, de Namjoon estar vivo poderia colocar a vida de seu amigo em perigo na mira das pessoas almejavam atingir seu pai.

Taehyung rangeu os dentes, subindo quase que num instante os dois andares até a laje do prédio. Pelo seu único e melhor amigo no mundo, para protegê-lo, ele estava disposto até a gastar seu réu primário cometendo um assassinato.

Sua própria linha de pensamento o assustou. Como mataria alguém quando tinha medo até de enfrentar uma mariposa? Mas não teve tempo de considerar uma resposta ao seu último questionamento, pois assim que pisou os pés na laje percebeu que ela estava vazia.
Vasculhou o ambiente com os olhos, procurando sinais de que alguém estivera lá até um instante atrás – ou ainda estivesse.

Uma estrutura coberta próxima à porta que dava nas escadas que levavam de volta ao interior do prédio chamou-lhe a atenção. Olhando de perto mais parecia uma pilha de entulho jogada no canto, mas assim que puxou a lona que cobria o local encontrou uma espécie de “cantinho”. Um beliche velho servia de sustentação e sofá em sua parte de baixo, decorado com alguns pisca-pisca agora desligados e ao lado de uma poltrona remendada com pedaços de tecido diversos e um pequeno frigobar com algumas cervejas e guloseimas.

Tumblrzinho, pensou antes de franzir as sobrancelhas confuso, mas não teve tempo de elaborar uma hipótese, pois logo a porta para a laje foi aberta e uma senhora de cara fechada o abordou depois de um momento de surpresa de ambos.

– Que faz no meu prédio, rapaz?

– Era a senhora que estava aqui até nestante? – perguntou ignorando a pergunta da mais velha.

– Acha que sou desocupada pra estar aqui e depois descer só pra subir de novo? Responde logo quem é tu ou vou chamar a polícia – bufou irritada.

Taehyung relaxou. Pela forma dela agir e sua fala não tinha sido ela a testemunha e se fosse ela a estar ali naquela hora não viu nada do seu negócio sujo. A ameaça vazia da proprietária não surtiu efeito algum no Kim, pois sabia que a última pessoa a vir bater naquele lugar seria um policial.

Como ela aparentava não ser ameaça alguma Taehyung juntou as mãos na frente do corpo e se curvou com um sorriso educado para a mais velha.

– Desculpe a intromissão no seu prédio, estava atrás de um lugar para morar e dei uma olhada por aqui, mas – olhou para o lugar coberto novamente pela lona e chutou uma lata de cerveja perto de seu pé – não me sinto seguro sabendo que um estranho mora no telhado.

A mudança no rosto da senhoria foi imediata e Taehyung se assustou com o quão amigável e sorridente ela se tornou.

– Aigoo, por que não disse antes?  Sou Park Mi Kung, dona daqui – se apresentou com entusiasmo apertando a mão de Taehyung que sequer estava estendida. – E o senhor é...?

– Kim – respondeu.

Taehyung não era de usar seu nome verdadeiro, mas não via mal em vez ou outra dar seu sobrenome real quando quase metade do país compartilhava do mesmo.

– Sr. Kim, posso lhe garantir que meu prédio é muito seguro. Essa “baguncinha” não passa de nossos jovens moradores sendo jovens. O senhor não é velho, deve compreendê-los.

Acenou com a cabeça para fingir que ouvia o que a senhora falava e quando ia pedindo licença para sair pisou numa embalagem de leite de banana ainda na metade.

– Tem crianças aqui? – perguntou receoso. Aquilo certamente foi colocado ali hoje e se foi uma criança que viu o que tinha feito já não tinha tanta certeza sobre como procederia.

A senhora Park seguiu o olhar de Kim Taehyung e agitou a mão no ar como que para negar com ainda mais avidez a pergunta.

– Não, não. Os moradores mais jovens daqui são universitários, então não se preocupe com gritaria de fedelhos. Isso deve ter sido do garoto do 56, ele que tem esses gostos infantis.

Aquela nova informação chamou-lhe a atenção. Alguém foi morto no 57 e o morador do 56 pode ter estado no telhado enquanto tiravam o corpo. Talvez aquele cara do 56 soubesse bem mais do que imaginava.

E a história só melhora...

– A senhora o viu descendo agora?

– Não sou fiscal de escada, rapaz – respondeu no automático, mas depois coçou a garganta para disfarçar a ignorância. – Além disso ninguém nunca vê o 56 a não ser nos horários de ir e voltar pra Universidade, parece até um bicho do mato o garoto! Mas chega de falar dos vizinhos, não? Que tal conhecer um dos apartamentos, hum?

– Ficará pra outro dia, senhora Park. Lembrei de um compromisso urgente para o qual estou atrasado.

E saiu rapidamente sem dar tempo da senhora Park pronunciar qualquer reclamação. Tinha de achar logo o cara do 56 e dar um jeito nele.

Mister StalkerOnde histórias criam vida. Descubra agora