SEM REVISÃO
GAEL
Meu ano sabático estava próximo a terminar. Não tinha intenção nenhuma de deixar a empresa nas mãos de pessoas de confianças, mas depois do que aconteceu, essa decisão foi alterada. A verdade foi que eu quis sumir do mundo. A única pessoa que sabia do meu paradeiro era meu advogado, Rafael Bandeira.
Tudo o que queria era silêncio total. Me isolei do mundo... de todos. Apesar do bairro ser bem localizado, a maioria das pessoas que moravam aqui, passavam o dia trabalhando. Bem, assim foi as informações que o Rafael me passou e depois de conferir com os próprios olhos, confirmei. Única residência que encontramos, estava a venda e era apartamento. Não queria compartilhar espaço com ninguém, queria mesmo uma casa com muros altos, mas como não encontrei, tive que comprar os dois apartamentos daquele último andar. Não queria ser incomodado, já bastava os vizinhos dos outros andares.
Vivi na minha paz por seis meses, até eu presenciar alguns homens entrando no prédio com caixas. Não tinha nenhum apartamento desocupado, eu mesmo fiz questão de averiguar, pois se tivesse, daria um jeito de alugar ou comprar, só para não ter mais novos vizinhos. Mas, talvez só seja algum vizinho reformando a casa, afinal os homens também estavam levando móveis.
Desci do carro relaxado, peguei a sacola com as novas tintas que havia comprado e entrei no prédio. Subiu os dois andares e nenhum sinal de que aqueles homens tivessem entrado em dos apartamentos, quando caminhei em direção ao último lance de escadas, que dava acesso ao terceiro andar, exatamente onde ficava meu apartamento, estaquei quando vi os homens entrando na porta da frente ao que eu morava.
Enfurecido por aquela cena, voltei a me movimentar e subindo de dois em dois degraus, entrei no apartamento cheio de caixas espalhadas pelo chão.
─ O que porra tá acontecendo aqui? ─ caminhei entres os cômodos da casa e vi que dois quartos tinham se transformado em um. ─ Quem mandou trazer essas coisas? ─ perguntei a um dos homens que tinha acabado de levar uma caixa de papelão, escrito cabides.
─ A dona da casa.
─ O que? ─ mordi o lábio, tentado segurar o sorriso de reprovação.
Encerrei a interrogação e saí daquele apartamento furioso e entrei na porta da frente. Larguei a sacola com as compras no chão, saquei o celular do bolso frontal da minha calça jeans e liguei para Rafael. Andando de um lado para o outro, esperei o babaca do meu advogado que se diz meu amigo, atender. Da janela da sala, observei quando um carro chegou e saíram duas mulheres que nunca tinha visto.
Quando finalmente o telefonema é atendido e estou prestes à xingá-lo, a voz de uma mulher soa em meus ouvidos.
─ Bom dia, Gael! Quem está falando é Genilda. ─ a secretária dele já me conhecia e por eu gostar dela, respirei fundo acalmando minha irritação para não descontar nela.
─ Cadê aquele babaca? ─ escutei um som parecido com uma risada dela. Genilda sabia meu temperamento, afinal trabalhava com o Rafael há quase dez anos.
─ Ele está em uma reunião. Posso ajudar com alguma coisa?
─ É sobre o apartamento, não sei se saberia me responder.
─ Esse assunto só com ele.
─ Pelo visto sabe de alguma coisa.
─ Talvez o mesmo que você. Que ele agora está alugado.
─ Esse filho da... ─ soquei parede a minha frente ─ Estou indo aí agora. A próxima reunião, será comigo.
─ Mantenha a calma Gael.
─ Obrigado, Genilda.Contive a vontade de arremessar o celular contra a parede. Passei a mão nos meus cabelos ajustando o coque que eu tinha feito quando acordei.
Olhei pelo olho mágico antes de sair para saber se o local estava movimentado, e para minha surpresa a porta da frente estava fechada. Saí de casa e desci as escadas praticamente correndo, entrei no carro e dei partida em direção ao escritório do meu advogado. Rafael Bandeira estava seriamente encrencado.
Desde que fui humilhado por Rebeca, ao ser abandonado no altar nunca mais quis contato com outra mulher. Genilda era uma exceção, quando eu precisava falar com Rafael e ele não me atendia, o que era raro acontecer. Quando precisava de algo, comprava pela internet, salvo quando era urgência que eu ia à algum estabelecimento.
Apesar dos protestos pelas buzinas dos motoristas, o transito não fluía e já estava a ponto de largar o carro na avenida e ir andando. O trajeto de meia hora, durou o dobro, o que não fez nada em diminuir minha raiva por Rafael ter agido pelas minhas costas. Ao estacionar o carro de qualquer jeito, desci e bati porta com força, caminhando a passos pesados para dentro do escritório.
─ A reunião já terminou?
─ Sim. Ele está te esperando.
─ Ótimo.
Mal cumprimentei a funcionária do meu amigo e entrei porta a dentro de sua sala. Com a cara mais cínica do mundo, ele brincava com uma caneta enquanto me avaliava com um sorriso no rosto.
─ O que deu na sua cabeça? ─ esbravejei caminhando em sua direção.
─ Nada, ela continua em cima do meu pescoço.
Apoiei as mãos em cima da mesa e me aproximei para encará-lo de perto.
─ Cancele o contrato agora. Tire aquela mulher do meu apartamento.
─ Tem medo de mulher, agora?
─ Você sabe muito bem o que eu quero, Rafael.
Ele se levantou, acompanhei com o olhar seu trajeto até o armário, tirou uma pasta preta de dentro e uma garrafa de bebiba.
─ Beba um pouco, você está muito tenso. ─ pousa a garrafa em cima da mesa de trabalho.
─ Não queira me ver tenso.
─ Relaxa gostosão. Aqui está o contrato de aluguel. A mulher assinou por 1 ano. Antes disso, não posso tirá-la de lá. Cláusula 22 diz isso. ─ ele apontou para o número indicado. Aluguei aquele apartamento, por que estou cansado de ver você gastando dinheiro sem necessidades.
─ Eu não preciso de mais dinheiro. Tenho o suficiente para viver.
─ Sei disso. Olha Gael, vou ser sincero com você. Estou cansado de ver você desperdiçar sua vida, se trancando de tudo. Pessoas não mordem. Você tem que ter uma vida social.
─ Você não sabe o que é melhor pra mim.
─ Quero que você saia desse luto particular. Você tem que curtir sua vida.
Abri a pasta preta e comecei a ler os dados.
─ Você colocou seu nome, como locador?
─ Claro. Se eu falasse do aluguel, você não aceitaria. Ahhh... a mulher que alugou é gata demais. Você já a viu?
Ignorei sua pergunta e li o nome da locatária: Maria. Trinta anos. Estilista. Pulei para a tal cláusula 22. Fechei a pasta furioso.
─ Relaxa meu amigo. Talvez nem seja ruim ter um vizinha. Quem sabe, quando estiver precisando conversar você não vai na casa dela?
─ Vai se foder, Rafael. ─ me afastei da mesa e caminhei até a porta. ─ Se ela me causar problemas, você vai se virar para tirá-la de lá, por que eu não vou atrás de outro lugar para morar.
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GAEL // Degustação
Short StoryO livro ficou completo até dia 13/12. Lançamento na Amazon dia 18/12 #1 na classificação Feminino ( 08/10/2019) PREPARE-SE PARA SE APAIXONAR...