Ilusão Coletiva.

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          Antes da fase do Ensino Médio (tema desse pequeno livro), a grande maioria esmagadora das pessoas passam pelo Nono ano do Ensino Fundamental. E pelo menos nove em cada dez, dizem que foi o melhor ano das suas vidas. Gosto muito dessa frase, "melhor ano", pois não faz o menor sentido. Se a pessoa não terminou de passar pelo Ensino Médio é óbvio que o nono ano vai ser o melhor ano. NÃO TINHA NEM VISTO O TRAUMA QUE É O ENSINO MÉDIO. Mas você que já viu e está aqui agora dizendo: "alá que exagero dessa menina, a vida adulta é muito pior." Esse é o ponto: a vida é um joguinho (que ninguém te ensina a jogar) e que cada fase é mais difícil que a outra. Sem dúvida achar que a fase anterior foi mais fácil é comum. Mas 3/4 das pessoas não pensam assim. Mas eu também não estou contando uma coisa aleatória que ninguém sabia. Em minha defesa, é um compilado de coisas vindas de umas redes sociais, de uns filmes de uns sites e de umas conversas reflexivas, para ser mais prática e definir melhor: quem sou eu na fila do pãozinho de queijo para saber falar alguma coisa sozinha.


          Voltando ao querido nono ano, todo mundo diz que foi o melhor ano porque todos ainda eram amigos (spoiler: no Ensino Médio geral brigou, mas sem autorização, só da minha vida eu pretendo falar.) mas que ilusão coletiva: as lendas dizem que amigo que é amigo continua sendo sempre amigo. Acho bom filtrar e ressaltar: amizades não precisam ser assim que nem a lenda, mas como tudo acaba seguindo durante os 3 anos seguintes... prova que as pessoas nem sempre são o que parecem ser.

          No nono ano eu não era eu. Fui parte da ilusão coletiva: fui outra pessoa totalmente diferente do que eu sou agora ou do que eu era antes daquilo tudo. Eu não era uma pirralha mimada, quem me dera eu fosse isso, na verdade aos meus olhos, eu era horrível. Pessoalmente falando, as coisas que eu via e fazia eram muito aleatórias: as pessoas descobrem muitas coisas na fase dos 13, 14, 15 anos e eu fui uma delas. Mas era tudo para agradar. Fazer parte de um grupinho que me achava estranha. Não valeu a pena nem por um segundo qualquer coisa que eu fiz naquela época. Hoje eu me sinto um péssimo ser humano.

          Olha, apesar de tudo que eu fiz, foi fichinha para muitos, foram só coisinhas constrangedoras, eu sou um exemplo de inocência e pureza. E talvez um pouquinho de veneno. Quem me conhece confirma.

          Isso foi a ilusão: todo mundo fingia ser alguém. Por quê? No final do ano a escola ia literalmente expulsar 32 pessoas e elas que dessem seu jeito, outras iam procurar escolas diferentes, algumas já tinham se conformado em ficar eternamente na mesma escola. Mas estava no inconsciente: todo mundo queria fazer dar certo, cada pessoa sabia que ia perder algo no final do ano e que ia ter um novo desafio no ano seguinte, a última coisa que qualquer um queria era causar alguma ruptura na amizade que parecia que todo o nono ano compartilhava.

          A colação de grau foi a coisa mais emocionante que existia: todos choravam. Bem comum. Eu estava esgotada. Pensava em quantas pessoas iam embora e quantas iam ficar. Pensava em como eu estava cansada de fingir. Imaginava se outras pessoas tinham o mesmo sentimento. Eu sabia que continuaria na escola depois da colação, mas mesmo assim, era um alivio, simplesmente sentia como se uma fase estressante estivesse chegando a uma conclusão.

          Vale ressaltar que eu fui uma das oradoras da turma. Dizem que o orador é uma pessoa que representa os alunos, que as pessoas gostam e que se porta bem. Uma pessoa que sabe como ler, sou eu, mas eu não estou nem na lista de pessoas que os alunos gostavam para ser a última, em noventa e seis nomes eu seria aquela que os alunos na verdade odeiam em primeiro lugar, e ainda ocupando o segundo e o terceiro lugar por garantia do pódio ser meu. Não faziam nem questão de esconder esse ódio na verdade, devo ser a única aluna que simplesmente não fazia parte do "amizade compartilhada por todos". Eles não suportavam ouvir a minha voz, tanto que uma vez foram tão gentis comigo que eu li um texto e eles tamparam os ouvidos. Esse fato me persegue até hoje, como eu vou gostar do nono ano? Depois eles tiveram que engolir como oradora? Depois eles tiveram que me engolir como oradora e foi ótimo ter conseguido fazer isso naquela época.

          Quando eu peguei meu canudo, falei "Finalmente. Chega. O Ensino Fundamental foi uma péssima fase e o Ensino Médio pode ser o que for, vou superar"

          No minuto seguinte depois da colação de grau foi que tudo começou a cair. 


Como não surtei enquanto estava no Ensino Médio.Where stories live. Discover now