Larissa Carmen

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                   Por mais fase aleatório que possa parecer eu estou no mundo teatral, mas esse não é o foco de hoje. Na verdade hoje o assunto é inocência. Eu sou muito inocente, não sei fazer nada, mas tem coisas da vida que aprendemos na marra e ao contrário das minhas amigas que estavam no dia, eu cresci num bairro que você aprende a reconhecer um bêbado antes mesmo de conseguir enxergar ele e um tarado na esquina da rua de cima. No caso do dia foram os dois.

          Aprendi que não devo conversar com estranhos e a internet me ensinou a mentir, e o teatro me ensinou a ser convincente. Isso não foi no Ensino Médio, foi na vida.


          Eu e minhas amigas passamos por um curso no período matutino e aula no período vespertino. No nosso almoço, tínhamos a oportunidade maravilhosa de descansar em uma sala fechada e cheia de colchonetes, até que um dia... A sala estava fechada, trancada e definitivamente não ia abrir naquele dia. Fomos até o gramado aberto pois era meio dia, o sol estava alto e era confortável ficar lá. Bom, nem tanto.

          Não sou a melhor para lembrar mas estavam arrumando alguma coisa no teatro aquele dia e haviam várias pessoas de fora da escola trabalhando e coincidentemente também era o horário de descanso deles. Ou pelo menos de um deles.

           Minhas amigas não se importaram nem um pouco com aquele homem mas quando a gente cresce passando do lado de um bar todo dia, é fácil reconhecer quando alguém bebeu demais. E quando se é uma menina que anda todo dia na rua, você sabe quando alguém vai tentar mexer com você. Mas eu tenho uma boca, quando eu aviso que alguma coisa vai acontecer é tiro e queda, e naquele dia avisei em alto e bom som: "aquele cara ta bêbado e vai mexer com a gente, melhor irmos embora." 

          Não sei quantos minutos se arrastaram mas enquanto elas conversavam tranquilas eu estava monitorando aquele homem. Estar em silêncio não é estranho para mim, em geral estou com os fones de ouvido, logo ninguém se preocupa se eu não falo nada. Mas eu abri a boca e falei: ele ta vindo. Foi o que bastou para elas levantarem e se prepararem para ir embora.

          Mas meu bom, outra coisa que eu aprendi é que se você correr a pessoa claramente vai atras e nunca se sabe se a atitude pode piorar. "Mantenham a calma." pois eu sou a mais sensata nesse tipo de situação, fui ensinada a saber lidar com isso. Elas, infelizmente não, porque aparentemente não sabem mentir.

          Uma por uma ele cumprimentou com um aperto de mãos e perguntou o nome. Para cada uma ele fazia uma observação sobre o nome. Minhas amigas não tem noção não. Disseram o nome real delas. Deu vontade de chacoalhar e falar "O QUE VOCÊ TA QUERENDO DA VIDA GAROTA?". Real oficial, recado: aprendam a mentir como se o dia não tivesse amanhã.

          Então foi a minha vez. Aquelas mãos úmidas de suor e aquele bafo de álcool me cumprimentavam e perguntavam qual o meu nome. Coincidência, eu fui a ultima, talvez se eu tivesse sido a primeira elas teriam seguido meu exemplo. Na feira eu devo valer um centavo, porque eu falei na caruda:

Larissa

          Apesar do meu nome ser completamente irrelevante para essa história, definitivamente não é Larissa. Não sei se foi a bebida ou se eu menti muito bem, mas ele comprou a mentira. Ainda me perguntou se eu era de Minas por causa do meu sotaque. Mas eu sabia que ele estava bem mais interessado nas minhas amigas, afinal aparência nunca foi meu ponto forte.

          Mexe comigo mas não mexe com as minhas amigas.

          Ele perguntava, quem respondia era eu, ainda mais porque eu era algum tipo de porta-voz do grupo. Incrivelmente, hostilidade é meu ponto forte, ser sutil e ao mesmo tempo fazer uma pessoa ir embora são habilidades que não se aprendem fácil. E ele foi.

          As meninas depois me perguntaram o que eu faria se ele procurasse por uma Larissa por ai. Bem simples.

Meu nome é Carmen.

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⏰ Last updated: Jul 07, 2019 ⏰

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Como não surtei enquanto estava no Ensino Médio.Where stories live. Discover now