Havia algumas frestas na janela do quarto. Elas permitiam a entrada sorrateira de raios solares que traziam uma luminosidade frágil ao ambiente, acompanhada por correntes estreitas de ar gelado da manhã. O corpo de Newt encontrava-se esticado sobre a cama, com os cobertores até a altura das clavículas. Ele encarava o teto como se esperasse encontrar ali algum plano ou ideia para manter Tina em segurança, daquele dia em diante.
Pensara em pedir a Theseus para que rastreasse cada passo dos moradores e visitantes da cidade de Castle Combe na esperança de identificar suspeitos, mas Newt sequer sabia se aquele método imaginado poderia ser reprodutível.
Pensara também em pedir para que Benjamin e Oliver vigiassem Tina em cada um de seus movimentos, mas Newt detestaria invadir a privacidade da mulher americana caso levasse aquele pensamento em consideração.
Pensara, então, em sugerir a Tina que viesse compartilhar aquela casa consigo. Porém, ainda que considerasse aquela a melhor de suas ideias e que se animasse em dividir aquela mesma cama de casal com ela durante todas as próximas noites, ele possuía certeza de que jamais teria coragem de dizer tamanha ousadia em voz alta.
Tina remexeu-se ao seu lado, como se reagisse àquele pensamento, e para ela ele voltou os olhos.
Em algum momento ao longo daquela madrugada, ela arrastara-se pelo colchão em direção a Newt, enlaçando o braço do rapaz como uma criança com um urso de pelúcia, e a cada hora, como se houvesse entre eles um campo magnético, Tina continuava a avançar novos centímetros em sua direção. Naquele instante, parcialmente iluminada pela pouca claridade presente, ela deitava-se de lado, rosto e corpo voltados para Newt, e suas expirações suaves trespassavam o material de linho da camiseta do rapaz para beijar-lhe a pele em cumprimentos constantes.
Em outras circunstâncias, ele teria demorado-se em suas observações da bagunça de fios de cabelo escuro sobre o rosto pálido, ou teria sorrido, encantado pelo ritmo calmo e gracioso daquela respiração. Todavia, o cenho aflito, responsivo ao medo, que insistia em apresentar-se nas feições inconscientes da jovem era tudo o que clamava por sua atenção e ele entendia, descartando todas as suas mais loucas ideias, que não havia coisa alguma que pudesse fazer para evitar aquela apreensão.
O canto dos pássaros passou a tomar conta dos sentidos do rapaz como um alarme ressoado à distância. Ele sabia que havia prolongado sua estadia naquele leito por mais tempo do que julgaria correto. Com o máximo de delicadeza que pôde, Newt desvencilhou-se do abraço firme de Tina e ela, sem abrir os olhos, libertou murmúrios baixos e manhosos em um pedido silencioso para que ele ficasse.
Ele sorriu triste ao olhá-la da porta, desejando secretamente que pudesse ficar.
Poppy estava relativamente mais arisca naquela manhã. Enquanto Marlow e Tom invadiam o galpão em um protesto impaciente contra a demora das nozes, ela permanecia à espreita, julgando o comportamento dos outros dois esquilos com olhos cor-de-mel entediados.
Tom foi o primeiro a aproximar-se de Newt. Enfiou as duas castanhas na boca com facilidade, adquirindo bochechas gigantes que tanto divertiram o jovem zoólogo, e logo disparou para o ambiente externo, para entre os canteiros carregados de frutos.
"De nada." - Newt riu para si mesmo.
Marlow o encarava com olhos tão grandes quanto os de Tom. Newt apressou-se em atender ao pedido das mãozinhas impacientes e, como esperava que ele o fizesse, Marlow escorregou pelo rastelo encostado ao balcão de trabalho e, pelo solo, foi perdido de vista na gramínea baixa aos fundos de seu quintal.
Chegava a vez de Poppy, a mais quieta e sorrateira dos três irmãos. Desde quando era apenas um filhote, o esquilo demonstrava sinais de liderança e senso de sobrevivência como nenhum outro que um dia tivesse cruzado os caminhos de seus estudos. Ainda que Newt oferecesse nada além de alimento, cuidado e proteção, nada parecia capaz de mudar a personalidade forte de Poppy.