Capítulo 1 - O rei dragão

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Os mapas, cartas e documentos espalhados por cima da longa mesa de madeira antiga de minha sala de conselho estavam começando a me irritar. Notícias velhas sobre os bruxos, sobre a morte de Breedja e a renovação do acordo do clã que voltara a se chamar Cyfar com a rainha Iriel. Poucas informações sobre os feiticeiros de Ghastath, relatórios sobre reservas de metais, grãos e animais das fazendas que finalmente estavam com os trabalhos normalizados. Respirei fundo e coloquei os pés sobre o tampo gasto, tentando não pensar sobre a guerra que para nós, mal havia terminado.

Mas o que me incomodava de verdade era o fato de que haviam se passado duas décadas e até agora, nenhuma notícia vinda do reino de Vicerne. Já imaginava isso, que ele tentaria protelar o máximo que podia os termos de nosso acordo de paz, e embora eu não tivesse nenhum interesse em obter uma humana como esposa, a satisfação de tirar algo de valor sentimental daquele rei que se aliou aos nossos inimigos feiticeiros para conseguir uma trégua, seria muito satisfatório. Ainda mais depois das dezenas que perdemos na guerra, um número relativamente menor aos deles, mas humanos e feiticeiros se reproduziam como coelhos, uma vida para eles não valia o mesmo que para nós.

Passos suaves se aproximaram pelo corredor, esperava duas pessoas, mas não acreditava que minha irmã chegaria tão cedo a Draken, ainda mais trazendo um ovo com ela. Pelos passos longos, só podia então ser minha general e conselheira.

― Nenhuma novidade, majestade. ― Alafen, como imaginava, entrou na sala com um bolinho de papeis nas mãos para acrescentar mais volume as pilhas já existentes na mesa. Ela também vestia sua pele humana, que de vez em quando era mais cômoda que garras, presas cauda e asas. A aparência do corpo humano que minha conselheira vestia era atraente para os padrões humanos, o que ela usava como um modo de conseguir melhores resultados em negociações, disfarçando além da aparência, os séculos de vida que carregava, mas os olhos azuis pálidos mal escondiam a magnificência da criatura por baixo daquela pele. Uma das poucas fêmeas restantes de azul-espinhento.

― Algo do reino de Hortal? ― perguntei. Alafen meneou a cabeça negativamente e colocou os papéis em minha frente para que olhasse por mim mesmo.

― Mas Eraw enviou relatórios na última carta, tudo tranquilo e prosperando com eficiência, acertou em colocá-lo como governante do reino entre as montanhas. ― comentou, aproximando-se de mim e dando tapinhas para que eu tirasse os pés de cima da mesa ― Ah! O filhote de Kyonna saiu da casca. Um macho, mestiço como esperado, tem a aparência de um negro puro, mas deu um banho fervente em uma das criadas! ― Alafen deu uma risadinha e sentou ao meu lado, parecia ter notado que eu estava mais quieto que de costume.

― Então ela vai demorar mais a chegar, se o filhote já eclodiu.

― Talvez só venha depois que o inverno em Hortal acabar, majestade. ― A conselheira franziu o cenho para mim ― Algo errado?

O dragão-fêmea me observou em silêncio por alguns instantes antes de perceber o que eu encarava um tanto apático. O círculo em tinta vermelha no mapa, marcando aquele pequeno reino humano imundo. Alendal.

Alafen suspirou e voltou seus olhos para os arcos de pedras azuladas polidas do teto, tão alto agora, enquanto mantínhamos as formas humanas pequenas. Todo o castelo havia sido projetado e construído para que vivêssemos em nossas reais formas, mas durante a guerra, para que pudéssemos abrigar o máximo de dragões possível que escapavam das áreas de risco, perto dos reinos de bruxos, a maioria dos sangues-puros começaram a se encolher nas peles humanas para que todos pudessem ter abrigo.

― Você ainda é muito jovem, Connal, mesmo para os nossos padrões... a garota humana vai envelhecer e morrer antes mesmo que você perceba, só precisa... ser gentil! ― Alafen encorajou-me, apertando meu ombro, ser sentimental não era o forte dela. Embora tenha me ensinado como lidar com fêmeas mortais usando sua própria pele humana, para que não ferisse a princesa de Alendal, eu não tinha esperanças de conseguir Alafen como uma parceira, já havia tentado antes e tive que observar ela rir por mais de meia hora. Sua resposta foi "Estou velha demais para ser babá! ". Eu sequer tinha chegado a um século de vida, havia herdado o trono quando meu pai for morto em Cidade-Arca por um bruxo, enquanto tentava se aproximar de Iriel para negociar comércio.

O espelho negro de Dracken - duologia Cyfar - livro 2 (degustação)Where stories live. Discover now