Elizabeth - O princípio
Por Vanessa de Oliveira Lima
Capítulo 1. As Memórias de Elizabeth.
Pensei. Para entender melhor os fatos que irei narrar, devemos voltar alguns anos no tempo e tomar conhecimento do princípio de tudo.
28 de setembro de 1997. Era tarde, Elizabeth Derrie voltava da casa de seu "recém intitulado" namorado, como ela mesma dizia. Saltitava de alegria e rodopiava por toda parte, nem se dava ao trabalho de olhar para as ruas por onde passava. Parecia envolta em uma bolha de pensamentos que a mantinham distante da real paisagem: casas velhas caindo aos pedaços, becos escuros, do céu nem se tinha sinal com tantas nuvens disputando espaço, ratos corriam para lá e para cá. Tudo estava deserto. Exceto por ela... E alguém. Alguém cuja presença ela nem imaginava existir.
Mas estava ali. Caminhava sorrateiramente atrás da garota, quem poderia esperar?
"Elizabeth"- ecoou a voz em sua mente- "sei que não pode se mexer e que está assustada comigo, mas não entre em pânico. Vire-se, estou atrás de você".
Foi então que o corpo de Elizabeth paralisou. Todos os seus instintos lhe diziam para fugir dali o mais rápido que pudesse, mas era como se seu corpo não lhe obedecesse. Por mais que se esforçasse, nada se mexia.
"Adoraria, mas você me mandar não entrar em pânico não muda o fato de eu já estar", pensou.
"Não tenha medo, vire-se"- a voz lhe disse.
Tomando coragem Elizabeth se virou, e lá estava ela: Pálida como a neve, órbitas vazias. Porém, nada de capuz e bata preta como todos a descreviam, usava terno, estava à trabalho.
-Morte? Disse Elizabeth.
"Sim, todos me chamam assim, muito grosseiro não acha? Prefiro que me chame Sebastian".
-Ma-mas como? Por quê?- a morte a interrompe:
"Sempre as mesmas perguntas, eu deveria imaginar. Pensei que você, pelo menos, seria um pouco mais original minha cara Elizabeth. Mas tudo bem, já estou acostumada com tantos clichês, vamos direto ao assunto. Eu vim buscá-la".
Então, Elizabeth enfim percebeu que aquilo tudo era sério. Não era um sonho, ela não estava tendo alucinações, aquilo era totalmente real.
"Se me permite lhe dizer, daqui a aproximadamente cinco minutos um carro perderá o controle e acabará por tirar sua vida. Portanto apresse-se, tenho mais pessoas a levar hoje".
"Não pode ser, por que logo agora?" Pensou Elizabeth. Finalmente, nesses 16 anos, tudo em sua vida estava entrando nos eixos. Havia conquistado o garoto a quem tanto queria, estava de bem com mãe, pai, vizinhos, amigos, e todos com quem se importava. Não, ela não queria ir embora assim. Não podia. Não dessa forma tão patética.
"Desculpe interromper seus devaneios, mas aí vem sua carona. Então, vamos?".
Elizabeth virou-se para a esquina e nesse exato momento, viu uma Mercedes prata a 150km/h, e pra seu desespero, vinha em sua direção. Dentro do carro, dois adolescentes aparentemente embriagados, supõe - Sebastian faz que sim, confirmando. Eles batiam um no outro enquanto um deles dirigia.
"Você tem mais um minuto Elizabeth". E como que por mágica, Sebastian responde o que Elizabeth estava prestes a perguntar: "Como sei seu nome? Eu sempre sei minha cara, o de todos, todos eles".
Ao ver que o carro se aproximava, já sem controle, Elizabeth diz:
-Por favor, por favor, espere eu tenho algo a lhe dizer - e pensando melhor - tenho algo a lhe propor.