5 - Sou uma Derrie.
Com lágrimas lhe escorrendo pela face, Elizabeth fechou o pequeno diário, e colocou-o em cima de sua cabeceira. "Então Alice não é minha mãe?" perguntava-se enquanto chorava baixinho para que ninguém ouvisse.
29 de julho de 2014, dezesseis anos depois. Elizabeth acordou como em qualquer outro dia, mas hoje havia algo de diferente. Assim que abriu seus olhos viu, em cima de sua cama, um caderno de veludo, preto, com seu nome escrito em dourado na capa, e logo abaixo a data "1982 -1998" escondida atrás de um bilhetinho que dizia "leia-me". Pensou que era apenas mais um de seus cadernos e que Alice houvesse colocado ali, por engano, da última vez que esteve em seu quarto, mas olhando novamente para a capa notou que a data ali marcada terminava na data de seu nascimento. "Deve ser algo em homenagem aos meus 16 anos", pensou. Ao abrir o caderno notou que não havia o nome do autor, ou uma editora, mas ainda assim havia uma dedicatória que dizia:
"Elizabeth, por meio deste caderno venho lhe contar a história de suas origens. Tome conhecimento do sofrimento daqueles que te trouxeram ao mundo, e honre sua luta. As decisões que tomar de agora em diante irão refletir diretamente no seu futuro".
O caderno narrava à história de uma garota de dezesseis anos, também chamada Elizabeth. Conheceu Sebastian, ou a morte, e com ela fez um contrato onde teria de carregar sua criança para que não morresse ali mesmo. Durante todo o livro, ela sofria de alguma forma, sendo torturada psicologicamente com sonhos e vozes que ouvia, até que conheceu Alice, e seus sonhos perturbadores cessaram. Por um tempo. Tinha uma amiga chamada Lorena em quem confiava e lhe pediu que cuidasse da criança caso algo desse errado. O livro não continha detalhes sobre o período da gestação de Elizabeth, mas acabava com sua morte causada por Alice, que se tornou Sebastian no momento de despedida.
Após refletir alguns segundos, percebeu que não se tratava apenas de uma história, havia muitas coisas que a intrigaram naquele caderno, como por exemplo, sua data de nascimento e uma personagem de nome Alice, o mesmo de sua mãe. Aquilo não podia ser só coincidência. Aquela história lhe era muito natural apesar de parecer algo tirado de um filme. "Alice nunca me disse quem era meu pai..." pensou. De repente uma lágrima desceu em seu rosto e caiu em cima da última página que permanecia ainda aberta sobre sua perna. "Estou... chorando?" e então mais uma e outra, que deram início a uma seqüência delas de forma a ensopar a folha. "Por que estou chorando?" perguntou-se. Elizabeth sentia um vazio imenso em seu coração, era como se de alguma forma aquela história fizesse parte de si, um pedaço de sua essência, algo que a muito não sentia, desde o berço, parte de um passado que por ela havia sido esquecido. Ouve-se batidas na porta.
-Liza, está acordada? Vai se atrasar para a escola querida. Tenho uma pequena surpresa para você.
Elizabeth enxugou suas lágrimas e vestiu-se o mais rápido que pode, então abriu a porta de seu quarto.
- Bom dia mãe, eu já estava acordada, o que tem pra mim?
- Você estava chorando? - Perguntou Alice passando a mão sobre os olhos de Elizabeth.
- Não é nada, eu só estou... - Pensou por alguns segundos procurando uma resposta convincente. - ...emocionada por estar completando dezesseis.
- Sei como é, ah se eu pudesse voltar no tempo... Você pode não achar minha filha, mas eu sou muito mais velha do que aparento, para mim é como se já passasse um século desde que estava com dezesseis. - Falou e riu.
- Não seja exagerada mãe - Disse Elizabeth, e continuou - a propósito, foi você quem deixou aquele caderninho, que parecia um diário, na minha cama?
Alice a encarou olhando em seus olhos, mas por um momento parecia estar vendo além dela. Voltou sua atenção para o fim do corredor e disse:
- O café está na mesa.
