PRÓLOGO

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Declínio

"As vozes do além sussurram, engolindo cada centímetro de seu corpo, enquanto mantiverem-se sedentas pelo sabor do destino ao qual tanto almejam."
— Awake, Valorie Broussard (adaptação)

O inferno foi descrito, por diferentes pessoas, de infinitas maneiras.

Alguns o descrevem em gritos angustiados de espíritos ardendo nas chamas eternas. Outrem, afirmam que ele é constituído por labirintos de longos corredores aterrorizantes, provido de demônios que padeciam das almas perpetuamente. Porém, o inferno é análogo a Terra, unificando-se ao colapso sombrio.
  
A escuridão do céu caótico repleto de espectros melancólicos que caminham à deriva recaiu de uma só vez, atormentando-os por um looping incessante do que mais temem: seu pecado.

E quem tinha pleno conhecimento disso era Park Jimin, primogênito de Lúcifer e futuro comandante do que vocês conhecem por profundezas do inferno.

Certa vez, enquanto Park caminhava pelos passadiços estreitos, quase opacos pela tenebrosidade bolorenta, o ser, de nascimento marcado do pecado mais prezado pelo diabo, desejou um dia saber como seria sua vida senão tomada pelo angustiante silêncio barulhento e latente. Um pequeno flash, semelhante a quando uma fotografia é tirada, fez-se presente em sua mente, preenchendo-a com o sorriso a qual via desde jovem, nos milésimos sonhos fragmentados — demasiados por incertezas.

Entretanto, os pensamentos se dissiparam quando pausou os passos frente a enorme porta de quartzo preto, junto às fagulhas do branco remoedor dos ossos aos quais conseguia ouvir se partindo ao se aproximar do objeto. Jimin conseguia visualizar as marcas, feitas pela impiedosa passagem do tempo, reluzindo nos pentagramas e frases de linguajar arcaico desenhados à sua frente, no dourado mais intenso que existia, oriundo do ouro utilizado para enrustir o mal.

A passagem entreaberta permitiu um feixe de luz cruzar o breu mudo, em um pequeno fio, feito uma lanterna percorrendo por um ambiente abandonado. Em contraste ao silêncio anterior, a voz autoritária e alta de Lúcifer aterrissou no interior do local, pronunciando frases que, para Park, não faziam sentido, não naquele momento.

"— Não permita que ele encontre aquele mundano desgraçado outra vez."

Ou outra com um teor ainda mais questionável, diante os orbes amarelados de Jimin, cativados pelo timbre cujo desdém era descomunal.

"ㅡ Demorei uma eternidade para fazê-lo esquecer, não desejo precisar exterminá-lo novamente."

O jovem endiabrado se apoiou contra a porta, ao passo que suas íris irritavam-se com tamanha luminosidade se chocando contra elas.

No outro lado da porta, Lúcifer permanecia estático, embora reconhecesse o sentimento enojador na ponta da língua partida em duas. O som lúgubre da voz nasalado do demônio contrastava com a serenidade do lacaio pertencente a sua guarda particularmente insaciável.

"ㅡ O lugar de Park é aqui, ao meu lado, para comandar em meu lugar. Espero que nada interfira nisso, Min Yoongi."

Jimin pôde sentir um calafrio inundando sua espinha e proporcionando um sopro gélido e, ao mesmo tempo, esbraseante, percorrendo por toda a derme tão branca quanto a neve. Naquele átimo, era como se o vazio dos orbes enfurecidos de seu pai, consumisse cada centímetro de seu corpo.

— O que faz aqui, Park? — O olhar maquiavélico de Lúcifer encontrou os de seu filho, na curta brecha de luz.

Park, por sua vez, expirou o pânico aprisionado à garganta ao fixar nas pupilas verticalmente vermelho-sangue recaídas sobre si. Uma nébula obscura pareceu circuncidá-lo de imediato quando arqueou os ombros e, por fim, empurrou a porta enquanto o desespero parecia cada vez mais abrasador em seu peito.

DARK • JIKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora