Chapter Two

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Merry Vision

O luar se derrama pelo chão, brilhante o suficiente para enxergar o caminho coberto por pedregulhos poluídos com musgo. Sob a luz prata, o rubor da pele de Merry é quase imperceptível. Mesmo uma noite tão reluzente acima de sua cabeça, sabia que uma forte chuva viria, e só de imaginar a expressão dos comerciantes enfurecidos por não poder prosseguir apenas animava merry, odiava ter que aturar tanta baderna durante a noite.
A floresta em que vivia era como um atalho para bastardos atrasados com suas entregas, apenas não sabiam que Merry estava sempre preparada para fazer uma árvore qualquer cair com a força cortante de sua foice de vento, era o suficiente para deixá-los assustados demais para prosseguir ou ao menos acampar em meio as árvores de médio porte.

Podia ser impossível acreditar que a garota de aparência desleixada e tediosa antes fazia parte da família do duque. Utilizando vestidos com bordados e laços extravagantes, penteados com tantos grampos que seu couro cabeludo estava sempre ferido; essa era a antiga realidade de Merry.
Quando tinha esperanças, acreditava que poderia sentir algo que a puxasse para cima, que a tirasse daquele poço de solitude, que preenchesse seu espírito das mais belas cores e sensações, que a fizesse ver magia em viver, seria cômico se não fosse trágico que tivesse achado um pouco dessas coisas em alguém que representava tanta desgraça para outras pessoas, vinda de alguém como Merry. Uma mulher. O fato de gostar apenas de garotas foi um choque para sua família, que não pôde aceitar, já que de acordo com a "lei" do mundo dos mortos, as pessoas foram unicamente feitas para ter uma família e reproduzir, e para Merry aquilo era patético. Não queria passar o resto de suas vidas servindo a um homem que ao menos lhe daria os créditos, e que mesmo com tudo lhe dado de bandeja, ainda se atreveria a levantar a mão e preencher sua bochecha pálida com a marca de sua mão; sabia disso pela experiência em relação aos seus pais. Merry sentia apenas remorso ao lembrar que de imediato seu pai, Duque Armstrong assim que soube do "boato" que circulava pelos corredores (no qual Merry seriamente tinha lhe falado) ele procurou pretendentes para a mais nova da família Armstrong, que por sua vez estava cada vez mais decepcionada ao ouvir as palavras de quem considerava seu pai antes de lhe falar que "só é uma aberração porque não tem um devido homem para lhe concertar".
Sua família era composta por três irmãos, dentre eles William Armstrong, o mais velho e também mais querido dentre os portadores de nosso sangue. Kristina Armstrong, famosa por criar rumores, foi ela que espalhou para todos os serventes da família que Merry estava se encontrando com uma garota nas escondidas. Mas aquilo era obviamente mentira. E por fim, Merry Armstrong, desde criança ouvia coisas não apropriadas para crianças de sua idade, de como tinha quebrado a linhagem Armstrong por não ter características de toda a família, como olhos verdes como esmeralda; ao invés disso seus olhos eram quase como carvão.
Com isso, é bastante perceptível o quão desprezada era em sua antiga vida, era óbvio que qualquer outro deslize os membros de sua família não hesitariam em jogá-la em um calabouço qualquer para morrer de fome.
Quando se viu em tal situação, não precisou de nem mais um segundo sequer para pensar, apenas preencheu uma mochila com suprimentos para viagem e dinheiro, sabia como se segurar as pontas nem que por pouco tempo. Depois que saiu naquela noite fria de inverno, se sentiu livre. Pela primeira vez em 17 anos de sua existência pôde finalmente respirar fundo e dizer para si mesma que não precisaria mais se esconder por baixo de uma máscara composta por espartilhos apertados, garotos prometidos, vestidos exagerados. Dessa vez Merry poderia dizer que estava no comando do próprio corpo.
Merry se infiltrou no lado oposto do seu, ou seja, os inimigos de seu pai. Se queria uma vingança, precisava lutar do lado dos mais fortes.
Depois de três anos finalmente pôde arrumar algum lugar que ninguém viesse lhe dizer o que fazer, ou tivesse alguma despesas, por isso apenas se acomodou na floresta pouco visitada, e geralmente quando acontecia era impossível alguém vê-la dentre os galhos.
E mesmo em meio a tanta liberdade não estava feliz, porque talvez eu não mereça coisas boas, porque estou pagando por pecados dos quais não me lembro.

Estava tão dispersa em seus pensamentos que não percebeu a chuva que já tinha se formado a alguns minutos atrás, os raios se foram; deram lugar as lágrimas vergonhosas e ardentes  que escorrem pelo meu rosto. Um trovão retumba em algum lugar distante. Ar quente, sem umidade. O calor diminuiu. O verão acabará logo. O tempo passa. A vida não mudou, não importa o quanto eu deseje que mude.
Se sentia patética por chorar ao lembrar do passado, algo que devia passar longe de seus pensamentos. Por isso ali mesmo, jurou que não choraria por coisas que não valessem a pena. Não o faria novamente até que sentisse que precisava, não o faria novamente até ter certeza que aquele erro valeria a pena.
Se levantou do galho espesso que estava sentada e voltou para o chão, por um segundo passou pela sua cabeça o rumor que iria trazer algumas pessoas de refém para nosso reino. E algo dizia para Merry que algo interessante podia acontecer juntamente a esse evento importante.

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