Chapitre Treize

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- E então? - perguntou a madre apreensiva.

Jamais tomaria como possível a simples hipótese de que uma doença maldita daquelas poderia ter se adentrado em seu convento. Era impossível! Tal ideia era inconcebível na mente da religiosa, mas mesmo assim não pôde evitar um pequeno nervosismo ao aguardar a resposta do médico estrangeiro.

A palavra "impossível" já havia circulado uma centena de vezes na cabeça da madre quando Minho limpou a garganta e lhe respondeu.

- Bem, todas estão perfeitamente saudáveis - os ombros da Madre relaxaram brevemente em alívio até o médico voltar a se pronunciar -, mas a irmã Madeleine... Por sorte ela não apresenta um risco imediato, mas temo que seja questão de tempo até que manifestem os primeiros sintomas da doença e ela se torne contagiosa e depois disso não daria uma noite até todas as irmãs aguardarem um encontro com Nosso Senhor.

Minho fez o sinal de cruz quase que em sincronia com a madre. As mãos daquela mulher, tão firmes e seguras mesmo em sua idade já avançada, tremeram pela primeira vez enquanto apertava o crucifixo.

Era uma calamidade.

Não era como um resfriado ou febre que se podia cuidar e rezar pela irmã até que melhorasse. Ela não era ignorante, sabia que a chance de sobreviver à peste era quase nenhuma e que a notícia de uma irmã com peste em seu convento se espalharia como fogo! Pelo bem da reputação do convento e sua ela só via uma solução.

- Monsieur médico, pensando no melhor para as irmãs desta casa sagrada e da própria irmã Madeleine, poderia... ajudá-la a encontrar o Senhor mais depressa e afastar a peste do convento?

Minho se assustou com a frieza e velocidade com que a resposta que tanto esperava veio, mas não transpareceu isso e concordou silenciosamente com o perdido da madre. Por mais errado que lhe parecesse, a mulher idosa permitiu que o médico cuidasse de tudo e consolou-se com o pensamento de que não matara a menina.

Pobre criança.

Sim, coitada da moça, mas suas mãos continuavam limpas. Ela não era uma assassina, o médico sim. Lavaria sua alma rezando pela alma daquela que era mais uma pobre menina que a peste levara.

Oh, coitadinha...


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O tecido grosseiro que lhe cobria pinicava e a vontade de se mexer era enorme, mas não podia, pois fingia ser um cadáver.

Quando Mino disse que lhe mataria, Madeleine ficou assustada, mas logo entendeu o plano. Minho faria a madre acreditar que Madeleine tinha contraído a peste para que ela pedisse que se livrasse de Madeleine, então ele a envenenaria e levaria o corpo para longe.

O "veneno" a topou, mas Madeleine continuava viva e consciente de tudo ao seu redor. A rapidez e facilidade com que a madre concordou com sua morte a entristeceu, mas só por um momento, pois uma felicidade maior lhe aguardava.

Ouviu o som do alaúde acompanhado da voz de Minho e sentiu-se alegre. Estava livre e com ele, rumo ao desconhecido e incerto, mas juntos, e por isso felizes. Sentou-se na carroça e suspirou vendo o homem diante de si e precisou esticar a mão e tocá-lo para ter certeza de que não sonhava.

O toque chamou a atenção de Minho que virou-se para Madeleine sorrindo quando ela perguntou o que fazia.

- Compondo a música da nossa história de amor.

- Por que não me esperou? É a nossa história, não?

Minho riu alto e Madeleine sentou-se ao seu lado, apoiando a cabeça em seu ombro e entrelaçando seus dedos e Minho podia jurar que entendera o sentimento de estar feliz por ser amado.

A Europa não era o que se podia chamar de melhor lugar para viver, muito menos em tempos sombrios como aquele, mas mesmo assim Song sorria largamente.

O mundo entrava em colapso por todos os lados, metade dele morria e talvez ele mesmo voltasse ao pó cedo ou tarde, mas nada daquilo lhe importava. Seu mundo estava sentado logo ao seu lado ajudando-o a criar a melodia da canção de amor deles, narrando a sua história, criada e vivida por ambos.

Talvez a história daqueles dois fosse esquecida ou ficasse perdida entre os séculos, mas o importante é que estava vivo agora e, com todo seu coração, era capaz de amar alguém e ter a alegria de ser amado de volta e Minho não podia desejar por mais nada.

FIN

MademoiselleOnde histórias criam vida. Descubra agora