Seria estranho dizer que morrer foi a melhor coisa que já lhe aconteceu?
Não, Minho não morreeu no sentido literal da palavra, mas foi quase isso. Algo do tipo. Tecnicamente, sim, mas também não. Longa história. É complicado, então comecemos por quando ele ainda "era vivo", antes de descobrir que caixões são os lugares mais desconfortáveis para se deitar – caixões de pobre, claro. Ainda não tivera a chance de experimentar um de rico (e muito provavelmente jamais teria).
No que pareceu um piscar de olhos Song Minho passou de cativado por uma jovem dama de família nobre para cativo, no sentido mais literal da palavra.
Suas memórias eram confusas e ele não lembrava de muita coisa sobre o que veio depois de (tentar) admirar o céu noturno com os olhos cheios de lágrimas e a mente turbulenta com pensamentos tristes e aleatórios, mas sua nuca latejante era um bom lembrete de que tinha sido atingido.
Só sabia disso: de que foi nocauteado e aprisionado por Jacques de’Noir. Como tinha tanta certeza disso? Ora, se não fosse ele seria sua mãe, a madame de'Noir, mas o tempo que conviveu com aquelas pessoas lhe permitiu conhecer o suficiente daquela família para saber que a madame era uma mulher prática demais para permitir que ainda estivesse vivo. Se fosse ela, não teria perdido tempo em se livrar do bardo o mais rápido e discretamente possível em vez de encarcerá-lo, não dando tempo de surgirem rumores maldosos no meio da criadagem sobre sua já não tão querida família.
Jacques, por sua vez, era um homem cruel que tinha uma necessidade triste de demonstrar poder e controle sobre os outros. Ele não simplesmente o mataria e encerraria o caso, como seria do feitio de sua cautelosa mãe. Não, ele o guardaria, mostraria seu rosto para Minho só pra ter o prazer de rir na sua cara e pessoalmente o humilhar, depois o torturar só para sentir o gosto do poder que, apesar da nobre linhagem, tão pouco lhe foi concedido.
Sua suspeita se confirmou horas mais tarde, quando o senhor feudal veio dar o ar de sua graça.
Minho estava desacordado, sua cabeça pendendo sobre seu peito. Teve sua consciência recobrada ao sentir um líquido gelado bater contra sua cara e entrar pelo seu nariz, o fazendo ter um acesso de tosse.
– Oh, ele parece acordado – o jovem mestre ergueu o copo para o homem ao lado num comando silencioso de que o enchesse.
Minho ergueu o olhar de onde estava acorrentado no chão para Jacques, sentado em uma cadeira de madeira diante de si sorrindo como uma criança animada com um novo brinquedo, o que contrastava com seu olhar gelado. Talvez a pancada tivesse afetado a cabeça do bardo, pois Minho sem medo ou hesitação alguma encarou Jacques de'Noir nos olhos de forma intimidadora, deixando bem claro seu ódio por aquela pessoa. A ousadia daquele simples ato diminuiu o sorriso de Jacques e intensificou a frieza em seus olhos. Aquele senhorzinho rural vivia da pouca autoridade de seu nome e linhagem e tê-la questionada o deixava inseguro e louco.
Minho pouco se importava. Já que ia morrer, pra que continuar seguindo a etiqueta? Ao menos não morreria de cabeça baixa.
O bardo lambeu os lábios para identificar o líquido que começava a grudar em sua pele e o fazia se sentir sujo. Cerveja. Que desperdício! Aquela cerveja era boa demais para ser usada daquele jeito.
– Meu senhor teve pena de usar um dos vinhos? Não entendo o porquê já que eles nem são de tanta qualidade.
Jacques forçou uma risada nojenta e inclinou-se na direção do músico, apesar de não se dirigir a ele.
– É um sujeito engraçado, não acha, Clóvis? Devemos brindar a gracinha deste palhaço? – A última palavra saiu num grito entre dentes trincados, acompanhado do copo de cerveja colidindo contra a lateral da cabeça do músico com força o suficiente para danificar a madeira do copo. – Eu permiti que se hospedasse sob meu teto para que me fizesse rir, não para se esgueirar para baixo das saias da minha irmã! – Bateu novamente no rosto de Minho. – Pena que graça nenhuma vá te salvar do que vou fazer contigo, estrangeiro imundo – cuspiu em seu rosto.
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Mademoiselle
Fiksi Penggemar[COMPLETA] Amores proibidos são temas de muitas histórias e músicas, tantas que chega a ser clichê. Não importa qual seja o povo, sempre haverá ao menos uma música ou lenda do tipo. Song Minho bem o sabe. Sendo um músico viajante, o repertório...