Prólogo

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Talvez o primeiro sentimento que aprendi a reconhecer na vida foi a sensação do abandono, o frio da solidão, a certeza de não pertencimento a lugar algum, a me sentir inútil fraco, um bichinho assustado. É tão familiar para mim quanto o ar que respiro, qualquer tipo de relacionamento que iniciou tenho duas certezas avassaladoras que me atingem com uma força impiedosa: serei o que amará mais e no final das contas estarei sozinho. Então, diante de tudo isso, por que com ele fluxo das coisas modificou-se? Por que justo com ele eu resolvi partir primeiro? Oh Sangwoo, o alvo da minha luxúria, admiração e... paixão doentia. Não me importava em ser consumido por esse sentimento e toda as sensações que me causava, estar com Sagwoo me desfazia em pedaços, derretia, eu simplesmente desaparecia em seus braços, a cada estocada, mordidas e puxões de cabelo. Tudo com ele era de uma intensidade absoluta, feroz, violento, profundo e sufocante. Se eu me dava conta da situação em que eu estava? Claro que não, só descobrimos que estamos doentes quando nosso corpo mostra os primeiros sinais de debilidade e foi assim comigo, perdi a coisa mais preciosa da minha e meu mundo inteiro desabou, foi naquele momento que pela primeira vez, fui o que virou as costas e foi embora. Eu pensava que assim as coisas estariam resolvidas. Ledo engano.

TRÊS MESES ANTES

– Tio Bum! – a pequena mãozinha carinhosamente alisava os cabelos do tio ainda adormecido, grandes olhos verdes e inocentes expectantes observando cada reação, quando viu que a tática mais educada não funcionou partiu para o ataque.

– Tio Bum acordaaaaa! – a criança de cabelos castanhos pulava em cima da cama gargalhando alto.

– Ah meu deus! Estou sendo atacado por um gigante! – Apesar da maneira nada comum de despertar, Bum adorava a energia matinal do sobrinho sapeca. Agarrou o garoto enchendo-o cocegas e beijos fazendo uma gargalhada alta e gostosa ecoar por todo o quarto.

– Princeso, essa ansiedade toda para às... – olhou rapidamente para o relógio na cabeceira da cama. – Seis e meia estar assim, todo lindinho e arrumado é só por causa do passeio ao jardim zoológico?

– Simmmmmmmm! – respondeu o garotinho animado com o sorriso faltando os dois dentinhos da frente.

– Eren, meu bem, você sabe que o passeio é só às oito horas! – falou o tio tentando administrar a ansiedade do sobrinho.

– Eu seiii, mas é tão chato esperar... – fez biquinho cruzando os braços.

– Fica quietinho assistindo Steven Universe, enquanto eu tomo banho e me arrumo. Prometo que vou fazer panquecas bem gostosas para você.

– Tudo bem! – Eren saio saltitante para assistir ao cartoon preferido.

– O que seria de mim sem você, meu pequeno príncipe? – Bum falou para si mesmo, sorrindo feliz.

Vendo o meu pequenino e exótico principezinho, com seu cabelo liso castanho, seus olhos verdes profundos e levemente puxados, toda a felicidade e luz que ele traz para minha vida faz parecer que aqueles tempos sombrios há pouco mais de quatro anos atrás uma memória estrangeira e aleatória. Naquela noite chuvosa em agosto de 2015, eu era apenas um garoto de vinte um anos fazendo faculdade e trabalhando meio período em um lanchonete, morando em um casebre com um bebê de cinco meses nos braços, morando em um casebre. Hoje olhando para nós, tenho muito orgulho da minifamília que formamos, eu Eren e Salém, o nosso gato. Temos um apartamento confortável no East Village em Manhattan, meu pequeno estuda em uma boa escola e sou chefe do setor de revisão e editoração de livro na Editora Hades um emprego que amo e posso dizer com orgulho que sou ótimo no que faço. O Yoon Bum que sou agora precisou superar dificuldades e a maior delas foi a si mesmo, mas ainda sinto por muitas vezes, o esqueleto do frágil Bum assombrando algum armário no meu subconsciente.

Folhas ao VentoWhere stories live. Discover now