keep the faith

they all got the same heartbeat, but hers is falling behind

Acordei estressada e de mau humor. Não que seja novidade, eu sempre acordava de mau humor, mas hoje estava até fora do normal. Levantei com custo e fui até o espelho, analisei cada pedaço do meu rosto e corpo. Quando Deus perguntou pra minha mãe se ela preferia um rosto bonito para a sua filha, um corpo bonito para a sua filha ou um pacote de biscoitos, ela respondeu... bom, a minha mãe adora biscoitos. Isso prova que a culpa é toda dela!

-OBRIGADA VIU, MÃE? - gritei emburrada, esperando que ela ouvisse lá de baixo.

-BOM DIA TAMBÉM, QUERIDA - gritou de volta, dando bastante ênfase no "querida". Ah, verdade. Eu puxei a ironia dela, não foi?

Lavo o rosto, escovo os dentes e dou uma leve penteada nos meus cabelos pretos, para depois carregar meu olhos também azuis ou sei lá de rímel, de forma que os destacassem. Dizem que meu pai é loiro de olhos claros... se for verdade, eu só puxei os olhos.

Nunca conheci o meu pai, mas sempre tive uma grande vontade. Dizem que ele abandonou a minha mãe quando ela ainda estava grávida de mim, eu prefiro acreditar que ele tinha muitos motivos para isso. Ou talvez apenas um motivo, mas um motivo bem convincente.

-VOCÊ ESTÁ ATRASADA, CRIATURA DO SATÃ! - mãe, sempre tão delicada!

-DÁ PRA PARAR DE GRITAR, CARALHO?! - gritei de volta. Isso soou completamente contraditório, mas tudo bem.

Olhei no relógio e percebi que tomei no c... ops. Eu estava mesmo atrasada. Até esqueci do mau humor e fui correndo para o guarda roupa. Vesti uma blusa do pink floyd que eu tinha comprado em uma loja de artigos de rock qualquer, coloquei algumas pulseiras, uma calça jeans escura e calcei o meu querido all star preto. Tão clichê, eu sei, mas não posso fazer nada se eu amo eles! Tenho uns 15, de todas as cores e estampas possíveis!

Olho no espelho e constato que eu estou menos feia, o que é bom. Desço as escadas correndo e corro risco de morte 2 vezes! AI MEU DEUS! Tudo bem, eu só tropecei, mas eu poderia mesmo morrer! A tia da amiga da minha mãe morreu assim!

Pego uma rosquinha e enfio na boca, enquanto coloco um copo de refrigerante. SIM, REFRIGERANTE! Eu não tomo leite, me julguem. Antes de sair, dou um beijo estalado na bochecha da minha mãe. Mesmo com todas as brigas, ela é a melhor. Ela me criou sem nenhuma figura masculina pra ajudar e além disso, tinha que colocar comida em nosso teto. Hoje temos uma situação financeira muito boa, diga-se de passagem, mas já passamos por dias difíceis.

- TCHAU MÃÃÃÃE! - fecho a porta com força, só pra irritar. Ela odeia quando eu faço isso.

Sai de casa no momento em que o Lucas chegou e me senti MUITO FODA por isso. Dei um pulo em cima dele, o que fez com que nós dois caíssemos em cima da bicicleta dele, o que gerou uma cena hilária.

- HEEEEY BOY! EU SOU VIDENTE, VIU SÓ?! HAHAHAHAHAHA! - fiz uma dancinha estranha pra mostrar a minha felicidade. - Ei, eu já te disse que você fica muito gay com essa blusa?

- Bom dia também, Gabs. Parece que alguém acordou de bom humor hoje! - disse com um sorriso enquanto se ajeitava da queda.

- Meu Deus, eu tinha até esquecido! Eu tô de mau humor!

- Oh, droga! Eu mesmo de ferrei, não é?

Acenei com um sorriso de lado maldoso, aquele sorriso que ele diz que só eu sei fazer. Depois de tentarmos subir na bicicleta 500 vezes (com eu de "carona") sem sucesso e depois de 20000 piadinhas do Lucas como "saudades academia hein, gabs?" e "alguém aqui tá gordo e não sou eu!" desistimos e resolvemos ir andando. Quem sabe na volta.

Enquanto ele me contava alguma coisa chata sobre o curso de engenharia que ele estava fazendo, comecei a pensar... sempre tem aquela pessoa. Aquela pessoa com quem você se solta e não tem nenhum receio de ser você mesma. Aquela pessoa que você sabe que vai estar lá sempre que você precisar. Essa pessoa, pra mim, é o Lucas. Somos melhores amigos desde sempre e vamos ser para sempre. Como deve ser.

-Heeeeeey Gabs! Tá aí, sebosa?! - disse, abanando a mão nem frente aos meus olhos.

- Que é, escroto? - eu sou delicada como a minha mãe.

- O que você acha de uma maratona de filmes hoje a tarde? Você nunca faz nada da vida mesmo. - disse, estralando os dedos. Lucas só estrala os dedos quando tá nervoso. Estranho...

- Pode ser. MAS EI! Só se você tocar pra mim. Me prometeu há um século e nunca toca... teu violão deve ter teias de aranha ou sei lá.

- O que tem teia de aranha é priquita de velha, o meu violão tá bem bonitinho. - rebateu com voz de magoado. Não aguentei e ri.

- Como você é babaca! - revirei os olhos, ainda rindo.

- Eu amo a tua risada.

- Você ME ama, Lucs! Dã!

- Ah, cala a boca, ridícula! - é impressão minha ou ele... ele corou? Bem na hora chegamos no colégio, ele me deu um beijo na testa e foi pegar as coisas no armário. - Até o almoço, babe! - gritou de costas.

Dei um sorriso e fui para o meu armário.