Eccentricity - Juliantina

II

Nem sei o que dizer em minha defesa, eu sei que demorei muito, mas espero que gostem!

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Valentina Carvajal acordou com sons de passos pesados e vozes no andar de baixo, olhou em seu celular e percebeu que faltavam 30 minutos para o horário que em normalmente acordava, suspirou e levantou da cama, não conseguiria dormir novamente.

Assim que se olhou no espelho Valentina percebeu as manchas pretas embaixo de seus olhos se formando, fruto das poucas horas de sono que teve na noite passada, ela tinha ficado horas conversando com seu pai sobre os mais aleatórios assuntos possíveis, era sempre assim com León Carvajal, sempre uma surpresa. Seu pai era, no mínimo, exótico.

A primeira visita que teve no dia foi sua gata Agatha, que estava deitada preguiçosamente em sua cama, em meio aos lençois bagunçados, ela era um dos muitos animais de estimação que Valentina tinha, animais eram uma de suas maiores paixões, ela não conseguia ver nenhum deles sofrendo nas ruas que era obrigada a levá-los para casa. Agatha era sua mais fiel e mais antiga amiga, foi a primeira gata que resgatou das ruas, ela tinha quase 12 anos pelas contas de Valentina.

Valentina pegou sua bolsa e desceu para encontrar seu pai, e descobrir o que estava acontecendo no andar de baixo. Assim que desceu as escadas não pode deixar de gargalhar com a cena que via, seu pai estava vestindo uma roupa completa de esgrima, menos o capacete, já que tinha um cigarro na boca, ele tentava de modo patético acertar seu competidor que desviava com facilidade de suas investidas. Quando a viu, seu pai abriu os braços e soltou a fumaça presa em sua garganta, Valentina podia dizer que o gosto por cigarros veio de seu pai.

__ Novo hobbie? – Valentina perguntou pegando o cigarro nas mãos de seu pai, ela pode sentir pelo gosto característico da erva, que aquele não era um cigarro comum, aproveitou então cada tragada que deu, antes de devolver o cigarro para o seu pai. O homem que estava "lutando" com seu pai tirou o capacete e Valentina reparou em sua postura impecável, seus cabelos, que começavam a ficar grisalhos, eram perfeitamente cortados, ele com toda certeza tinha anos de prática na esgrima.

__ Exatamente, eu nasci para ser um esgrimista, Vale. – seu pai, diferente do outro homem ao seu lado, tinha os cabelos grandes e mal cortados que começavam a encostar em seu pescoço, sua barba era longa e grisalha, seus olhos cansados mostravam a idade do homem a sua frente, mas o mais incrível era seu sorriso que se mantinha no rosto todo o tempo. Era um sorriso de quem sabia algo a mais sobre a vida, de quem vivia de seu próprio modo, ela tinha passado tal característica para sua única filha.

__ E desde quando você descobriu tal vocação? E por que raios você tinha que começar seus treinos às 06h30min de uma terça-feira? – O homem deu uma risada alta e coçou os pelos do queixo despreocupadamente.

__ Eu descobri minha mais nova paixão ontem no YouTube, fiquei fascinado e vi vídeos por 4 horas, foi aí que esse senhor surgiu. – Ele disse apontando para o homem ao seu lado, que mantinha a mesma postura e não parecia muito interessado em bater papo. – Ele é o melhor professor de esgrima da cidade, bem, pelo menos segundo o Google. - Desde que seu pai se "aposentou", ele tinha os mais variados hobbies, os mais estranhos que se possa imaginar. Ele já praticou triatlo, foi piloto de carros de corrida por 4 dias, já se disse escalador, escultor, ficou duas semanas fascinado por patinação no gelo, e até mesmo já tentou uma "carreira" de barman, o que foi frustrante para ele já que Valentina não bebia, não mais.

Seu pai era um dos maiores atores do México, e aclamado mundialmente, ele tinha sido indicado três vezes ao Oscar em sua carreira, e em seu último filme antes da pausa por tempo indeterminado, ele tinha finalmente ganhado a estatueta. Foi um momento agridoce para León Carvajal, já que tinha chegado no ápice de sua carreira no mesmo momento em que sua esposa estava em uma cama sem chances de recuperação. Valentina estava na plateia naquela noite e pode ver nos olhos de seu pai ao percorrer a plateia e não encontrar os olhos de quem ele mais queria, Dulce Carvajal morreu poucos dias após, vítima de um câncer de mama violento, depois que sua mãe se foi Valentina e seu pai nunca mais foram os mesmos.