III

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Aproveitem!

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O céu estava cinza, pesado. Era um dia frio na Cidade do México, um dos poucos dias frios do ano, as nuvens se estendiam como enormes avisos de que a chuva cairia logo. Valentina Carvajal não estava vestida para um dia frio, ela vestia jeans claros e uma blusa preta sem mangas, mas ela não sentia frio, estava determinada demais para isso. Suas mãos tremiam, mas não por conta da temperatura. Ela parou em frente a loja que tinha uma luz vermelha piscando "aberto 24 horas", havia um homem caído na porta e ela teve que desviar dele para entrar, a loja cheirava a urina e mofo, mas Valentina não se importava.

Ela foi ao fundo da loja e pegou o que precisava, colocou em cima da bancada e o homem à sua frente a encarou, ela tirou a identidade da bolsa e entregou para o homem de aparência entendiada. Sua identidade era falsa, era claramente falsa, o homem não se importou. Ela saiu com pressa com as duas sacolas pesadas nas mãos, precisava chegar em casa. Chamou um táxi na rua e o homem disse que devido ao horário o preço seria mais alto, Valentina não se importou, dinheiro nunca foi um problema para ela.

A garota chegou em sua enorme casa e percebeu que seu pai não estava em casa, ele nunca estava. A sala da casa estava em total desordem, garrafas vazias jogadas no chão, algumas cadeiras viradas, um resto de pó branco na mesa, isso não a interessava. Ela subiu as escadas o mais rápido que conseguiu até chegar ao quarto escondido no terceiro andar da casa. Ela sentou no chão e colocou o conteúdo das sacolas em sua frente, as lágrimas escorriam livremente por seu rosto, ela queria gritar, queria bater em algo, mas não foi isso que ela fez.

Sua garganta experimentou a ardência tão conhecida por ela, a garrafa já estava na metade e apenas poucos minutos tinham se passado, a bebida amarga se misturava com o salgado de suas lágrimas. Valentina sentia o peso de sua decisão em seus ombros, ela tinha escolhido aquilo, fazia dias que ela tinha decidido parar, mas ela não foi forte o suficiente. Poucas horas depois as três garrafas que ela tinha comprado jaziam vazias ao seu lado, seus sentidos estavam alterados, ela estava totalmente alterada. A dor a fazia querer por um fim em tudo, a dor dentro de seu peito, suas mãos tremiam, ela estava suada mesmo com o clima frio do lado de fora, sua garganta doía como se quisesse liberar algo, algo que Valentina nunca conseguiu colocar para fora.

As náuseas vieram rapidamente, ela não conseguiu se levantar, virou a cabeça e vomitou no chão de madeira. O cheiro do vômito se misturou com o ar carregado e com cheiro de suor do pequeno quarto, a última coisa que Valentina viu antes de perder seus sentidos foi uma foto de uma mulher que estava pendurada na parede do quarto.

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Juliana sorria abertamente do rapaz a sua frente, seu nome era Pedro e ele fazia uma interpretação completa da história que estava contando, todos do pequeno café o olhavam, mas ele não parecia se importar. Valentina gargalhava ao seu lado, mesmo já tendo ouvido a mesma história várias vezes, a mesa estava cheia de guardanapos e restos de sanduíches, os copos de café estavam cheios e as pessoas na mesa sorriam.

Eles estavam no café a quase uma hora e Juliana se sentia confortável com as pessoas na mesa, eram três amigos de Valentina, além de John que ela já tinha conhecido. O rapaz que contava animadamente a história se chamava Pedro e fazia História, Maria era uma garota pequena e tinha os cabelos pretos lisos e tinha uma pequena franja em sua testa, ela vestia roupas pretas e tinha um tom sarcástico em sua voz, ela fazia Arquitetura, a última garota tinha os cabelos ruivos encaracolados e curtos, ela tinha sardas no rosto e um sorriso gentil, seu nome era Lusia e ela fazia Ciências Sociais.

Os amigos de Valentina, como ela tinha prometido não eram bajuladores, eles eram ótimos e tinham uma energia contagiante entre eles. Valentina estava em frente a Juliana, e por vezes as duas trocavam olhares, Valentina analisava cada pequeno movimento da morena, era seu novo hobbie preferido, quando a morena sorria, Valentina sorria também, era instintivo.

Eccentricity - Juliantina  Onde histórias criam vida. Descubra agora