Pʀᴏ́ʟᴏɢᴏ

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Ela tinha medos, não gosta do inesperado, não era boa com mudanças radicais. Ela gosta das coisas certinhas e nos seus lugares.

Se ela foi sempre assim? De forma alguma, crescer, às vezes, muda uma pessoa de forma drástica, afinal a vida faz isso. Porém, quando criança era uma aventureira e corria igual a um cabrito.

Como uma boa analista, ela estudou muito bem como seria seu primeiro beijo para não correr o risco de perder, de levar um fora, ser humilhada, de se arrepender no futuro, afinal de contas, era seu primeiro beijo, correto? Quantas vezes ela tinha ouvido sobre beijos ruins e como, depois de uma merda, conviveria para sempre com a lembrança de quem primeiro lhe beijou. Ela não queria correr o risco de arrependimentos.

Então o garoto foi escolhido a dedo e não seria surpresa se ela houvesse escolhido seu melhor amigo para esse feito. Lembrava muito bem a forma que havia chegado nele. Ele jogava um daqueles jogos online pelo celular com as costas na cama dela, já que ele estava sentado no chão com as pernas estendidas. Enquanto ela deitada na cama olhando o teto, antes de começar sua argumentação do porquê devia acontecer.

Mas primeiro ela chamou sua atenção:

- Marlon?

- Hum?

- Gostaria de falar com você, falta muito para acabar com isso aí?

- Um momento e eu juro que já paro - Ele disse ainda com os olhos na tela. Marlon não era tão viciado assim.

Ela se manteve calada até que ele terminasse depois de 10 minutos. Ela não estava nervosa. Ela só queria que seu beijo fosse aos 15 anos e planejou, sendo Marlon um ano mais velho.

Ela virou de barriga para baixo quando o garoto deixou o celular de lado e virou para olha-la, esperando que ela começasse a falar.

- Eu quero que você seja o cara com quem eu dê meu primeiro beijo. Mas antes que fale algo, quero explicar os motivos para tal decisão. Número um: Você é meu melhor amigo. Número dois: Eu tenho certeza de que quando me lembrar do beijo no futuro, não vou me arrepender amargamente por ter sido com alguém que eu gosto tanto. Número três: Você não seria babaca comigo depois. Número quatro: Não, não vamos ficar estranhos depois disso, porque eu gosto de você como amigo e você gosta de mim como amiga. Uma vez que você tem um abismo pela Marly Holnd. Número cinco: Você já tem certa experiência nesse mundo e...

Marlon tinha os olhos fixos e um pouco sobressaltados com aquelas declarações. Sabia como a amiga era, então observava sua resposta com cuidado, afinal ele sabia que ela havia planejado isso e dependendo da sua resposta, ela poderia não saber como lidar e acabar travando.

- Tudo bem. Eu acho uma boa ideia. Você quer agora ou em outro momento? - Marlon concordou com a ideia dela.

Ela sorriu, sem fracasso nenhum. Ela levantou sentando na beirada da cama. Escolheu uma música querendo criar um clima mais envolvente. O garoto se levantou sentando-se ao lado dela e olhando sua expressão levemente animada.

- Abra a boca - Mandou enquanto pegava um daqueles sprays para hálitos.

- Eliza, está insinuando de forma indireta que eu estou com bafo? - A sobrancelha levantou um pouco, aquelas sobrancelhas bonitas que você fica com inveja por não ter falha nenhuma. Já a dela tinha que ser preenchida em alguns lugares estratégicos para ficar do jeitinho que ela gostava.

- Não, mas é só para melhorar.

O primeiro beijo dela foi calmo e delicado, Marlon foi gentil, quando antes de tocar os lábios dela, lhe beijou a testa fazendo os olhos cor de mel se fecharem. A mão grande dele segurou a lateral do rosto dela, o que ficava meio engraçado, por ela ter um rosto pequeno perto da sua mão. Em nenhum momento ela ficou nervosa, ela estava calma e satisfeita com a escolha. Ela não se arrependeu, pois não deu nada errado, não houve batidinhas de dentes, não houve saliva demais. Foi do jeito que ela havia idealizado. Então ela ficou feliz. Não perdeu seu primeiro beijo atoa.

Para Eliza, perder não era uma opção. Por não saber lidar com a derrota, ela fazia tudo milimétricamente calculado. Ela analisava todas as probabilidades possíveis e nessas ações metódicas ela escolhia o que iria fazer. Eliza não se arriscava demais, afinal quem se coloca em uma opção no que pode perder? - seres humanos - Viver nessa linha de equilíbrio que ela criou, evitava fracassos, mas também evitava tudo. Não, ela nunca se arrependeu, mas deveria. Pois quantas coisas ela já perdeu e quantas ainda iria perder caso continuasse daquele jeito?

ᴀ ɢᴀʀᴏᴛᴀ ϙᴜᴇ  ɴ̶ᴜ̶ɴ̶ᴄ̶ᴀ̶  ᴘᴇʀᴅᴇᴜOnde histórias criam vida. Descubra agora