Olhava através da janela os pequenos e brancos flocos de neve caindo elegantemente no chão no qual aos poucos ia se tornando da mesma cor, é incrível como a neve se forma, apenas quando as nuvens se encontram com temperatura inferior a 0°C, desse modo, o vapor de água se condensa formando cristais de gelo, que podem apresentar diversas formas, acho intrigante a forma como a natureza faz coisas tão belas para depois destruí-las. Receio que usei muito o verbo formar nesta frase.
- Alice? Alice!
- Q-que?- dei um pulo com o susto.
- Alice, por favor se concentre.- disse o doutor Gerald.
- C-claro doutor, me desculpe.- falei desviando o olhar da janela o fixando na pessoa de jaleco a minha frente.
- Muito bem senhorita, aonde seus sonhos te levaram desta vez?- pergunta cruzando as pernas.
Penso um pouco e olho novamente para a janela.
- Eu estava de baixo da água, em um rio, eu olhava ao redor e tudo que conseguia enxergar era a escuridão, fiquei lá por muito tempo mas não parecia me afogar, tentei nadar para cima, meu corpo não se movia.- suspirei- de repente sinto mãos frias em meu rosto... um fecho de luz, não, um trovão, um trovão iluminou o que estava me segurando.
- E o que era senhorita?
-... Vi olhos vazios e sem vida me observando, seus cabelos alaranjados espalhados por conta da água, vestida em uma camisola de hospital... foi assustador... era a minha mãe... Ela... falou algo, não consegui escutar apenas ler seus lábios pálidos e ressecaddos.
- E o que ela disse?- ele olha para mim.
-... "A culpa é sua"- falo e volto a prestar atenção nos flocos de neve.
Fico imaginando como seria se o verão e o inverno fossem trocados, pessoas nadando com roupas minúsculas em lagos congelados e enfiadas em cobertores grossos tomando chocolate quente em plenos 45°, não acho a idéia muito boa.
- Alice? Alice! Oh céus você estava viajando novamente?- me viro para ele e fixo meu olhar em seus olhos, no qual parecem um tanto desconfortáveis com tal ato.
- Doutor, o senhor não acha que é melhor viver no mundo dos sonhos do que ter que enfrentar a dura e dolorosa realidade?
- ... Sei que a senhorita passou por uma situação complicada, mas, por mais que seja atraente apenas fingir que não aconteceu nada, creio eu que quanto mais você foge de seus problemas, mais eles se intensificam, até ficarem tão imensos ao ponto de devorar a senhorita por inteiro.
- Ou eles podem simplesmente desaparecer, não é?
- infelizmente não é assim que funciona querida, mesmo que eles sumam por um tempo, uma hora ou outra eles irão voltar. Infelizmente sua única opção é enfrentarmos eles antes que eles te enfrentem.
- eu não acho a sua sujestão agradante.
- agradável senhorita, e não é uma sugestão, é um conselho.
- no panorama geral das coisas somos apenas partículas mínimas, que no final serão esquecidas, então não importa o que fizermos no passado ou como vamos ser lembrados, a única coisa que importa é o presente, este momento. O passado só serve para fazer as pessoas sofrerem, não acho que ficar relembrando ele vá adiantar de algo.
- mas fingir que nada aconteceu também não, o passando não é um estorvo senhorita, é história, nós escolhemos se vamos aprender com ele ou sofrer por ele. O passado não nos torna fracos, ele nos torna fortes, se você souber lidar com ele corretamente. Caso consiga, a senhorita se tornará resistente.
- e se eu não quiser me tornar resistente?
- temo que a senhorita não consiga viver direito.
- viver...- repito a palavra como um sonho distante- como posso "viver" sem um motivo?
- essa é a graça da vida, você não vive por conta de um motivo, vive para encontrar o motivo, o problema da raça humana é que somos medrosos de mais, temos medo do desconhecido, e isso nos limita.
- o que induz as pessoas a terem medo?
- bom, normalmente é receio de perder algo preciso.
- como o que?
- como a vida.
- a vida novamente, as pessoas dão muito valor a uma coisa insignificante.
- não é assim, no momento a vida é a coisa mais preciosa que a senhorita tem.
- hum... mesmo o senhor dizendo isso, não tenho "medo" de perdê-la.
- não?
- não- afirmo convicta.
- então não se limite. Se aventure em coisas novas, ache o seu motivo.
" O motivo"
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Minha doce loucura
FantasíaAlice é uma garota comum, ou pelo menos deveria ser. Quando passa por uma situação não muito "agradante" esta peculiar garota descobre um novo mundo onde pode simplesmente esquecer da vida, mas como diria o psicólogo Gerald, fugir dos problemas só f...