Nícholas não ficava olhando muito para Nathy, o que de certa forma a deixava feliz, pois podia ver como ele era belo sem se constranger.
Ele a levou até uma pousada de aspecto antigo, porém bem cuidado e aconchegante. Ao invés de abrir a porta, ele encostou suas mãos nela e começou a sussurrar palavras que Nathy não entendeu.
Para sua surpresa, a porta a levou a um grande e espaçoso corredor de mármore branco, com colunas gregas esculpidas lindamente, quase tão lindo quanto ele, ou seja, o Nícholas.
Ao pensar nisso, ela deu uma risadinha.
-O que foi? - perguntou ele.
-Nada. - disse ela, segurando o riso.
Ele sorriu, como se pudesse ler seus pensamentos.
Ele a guiou até um dos quartos. Era comum, porém bonito, sem muitos objetos pessoais do dono que chamassem alguma atenção, e imensamente bem-organizado.
Tinha duas camas, um armário para roupas e ela podia ver uma porta, provavelmente para um banheiro. Ela pôde notar livros, inclusive de poesia, em estantes.
Vendo que ela analisava o quarto, Nícholas pigarreou.
-Bom, este é o meu quarto. Você vai ficar aqui, até que providenciem outro para você. Há toalhas e roupas novas para você naquela parte do armário - ele apontou.
-Você parece bem desconfortável.
-Não, todo bem. É só que... -ele hesitou, e enrubesceu - não estou acostumado a dormir no mesmo quarto que garotas.
Foi a vez de Nathy enrubescer.
-E aquela história de que você iria me explicar tudo? O que esse lugar representa? - ela perguntou, ambos felizes pela mudança de assunto.
-Olha, eu acho que você está tão cansada quanto eu agora. É uma história complicada, e você provavelmente terá muitas perguntas. Amanhã eu vou lhe explicar. Agora, Eu vou deixar você tomar banho antes de mim, se quiser, e se aprontar para dormir. A não ser, é claro, que você esteja com fome.
Além de bonito é gentil, ela pensou.
-Muito obrigada, mas eu não estou com fome. E obrigada por... - ela hesitou - tudo isso que você está fazendo por mim.
-Por nada.
Ela se aprontou para dormir, deitou na cama, mas não conseguiu dormir. Até que Nícholas foi deitar também, e ela, fingindo que estava dormindo, encarou detalhadamente o lindo rosto dele com olhos semicerrados. As suas camas não estavam tão longe.
Ele estava virado na direção dela, aparentemente dormindo. Antes de dormir, ela se perguntou se ele estaria fazendo o mesmo que ela.
Nathy nunca iria saber, mas a resposta para sua pergunta mental era sim.
...
Quando Nathy acordou, Nícholas não estava mais lá. Não se preocupou; de algum modo, sabia que podia confiar nele. Ela se espreguiçou docemente e foi trocar de roupa. Para seu alívio, quando saiu do banheiro, Nícholas estava no quarto.
-Oi - disse Nathy.
Nícholas de virou para ela e a encarou ardentemente. Por que sempre que ele a encarava assim o rosto dela começava a esquentar?
Ele fingiu não notar que o rosto de Nathy estava da mesma cor que os cabelos dela.
-Bom dia, Nathy. Posso te chamar assim, certo? - ele não esperou resposta - venha, você deve estar com fome.
Enquanto eles caminhavam, Nícholas começou a falar:
-Pode ser difícil você entender. Bom, aqui nós somos uma espécie de matadores de demônios. Somos chamados de Guardiões da Luz. Somos uma raça bem parecida com a dos humanos, que chamamos de mortais. A diferença é que temos no nosso sangue o sangue de anjo. O primeiro guardião foi criado quando um mortal ingeriu uma mistura de sangue de anjo e sangue mortal, dada por um anjo.
Nathy ouvia tudo com atenção. Era fácil prestar atenção em pessoas bonitas. Droga, ela pensou, pare de prestar atenção na beleza dele.
-Você conseguiu me ver, e ainda fez o seu amigo me ver - o que era aquilo na voz dele? Ciúme? Não, claro que não, pensou ela, deixe de ser ridícula; isso seria impossível!- Se você fosse uma mortal comum, você não teria conseguido me ver, pois eu estava usando magia. Isso prova que você é uma de nós, mas não tem treinamento. Precisamos saber quem são seus pais, e se eles são guardiões de sombras também.
-Minha mãe é uma pessoa normal, e meu pai está desaparecido ou morto desde antes de eu nascer.
-Provavelmente é seu pai então. Desculpe dizer isso, mas é normal que nós, Guardiões da Luz, morremos ou fiquemos desaparecidos. Bem, chegamos.
Ela desviou o olhar do rosto dele e seguiu o seu olhar. Estavam numa espécie de refeitório. Havia uma mesa grande com vários bancos. O café da manhã estava disposto na mesa. Era um verdadeiro banquete, tanto para o seus olhos quanto para o seu estômago.
Havia três pessoas sentadas na mesa: Aline, para sua surpresa, e mais dos garotos que ela não conhecia. Um com uns 8 anos e o outro com uns 18.
O mais novo parecia com Vitor quando era mais novo, só que tinha cabelos escuros. Tinha olhos azuis, cabelos escuros, era pálido e franzino.
O mais velho tinha cabelos escuros também, mas seus olhos eram verde-água, ele era alto e musculoso.
Nathy deduziu que pelo menos os garotos da mesa eram irmãos.
-Aline? O que você está fazendo aqui?
-Você já explicou a ela o que somos? - ela se dirigiu a Nícholas, que assentiu - bom, eu sou uma Guardiã da Luz também, e estes são meus irmãos, Sammy - ela apontou para o mais novo - e Leo - este era o nome do mais velho. - e Nícholas é nosso irmão adotivo. Ficamos a maior parte do tempo nesse lugar, que chamamos de fundação.
-Assim que você tomar o café da manhã, eu levarei você até o nosso instrutor, Jordan, que quer falar com você. Não se apresse.
Nathy estava se sentindo à vontade lá. Estava quase terminando o café da manhã, quando escutaram um barulho estrondoso.
-Ah, droga. - disse Nícholas - Aline, leve Sammy e Nathy para fora da fundação. Proteja-os. - ele pegou uma espada, sussurrou alguma coisa que a fez brilhar e se posicionou como se fosse lutar - Leo, me ajude aqui.
Leo também pegou uma lâmina e sussurrou alguma coisa que a fez se alongar e brilhar. Ele se posicionou da mesma forma que Nícholas, ao seu lado.
-O que está acontecendo? - perguntou Nathy, escondendo seu pânico, mas não só por ela, pelos outros também, principalmente por Nícholas.
-Mercenários - foi tudo que Aline disse, enquanto corria puxando Nathy e Sammy com ela.
