Às vezes bate uns calafrios
Que nao bate e nem fala
Apenas se cala
Queima o vazioÀs vezes arrepiam-se os pêlos
Não faz frio, nem cai neve
Embrulham por dentre as entranhas
O sangue ferve!Penso até ser fantasmas
Mas eles não existem!
Aperto as pálpebras
Esmago-nos entre os cílios
Teimosos!
Assoviam e persistem
Eles não existem!Ah! Se eu pudesse voar
feito eles,
Viajaria o mundo,
atravessaria paredes,
Amedrontaria os bandidos
Emaranhavam-nos na redeMas fantasmas
não são heróis!
Até mesmo porque
Eles não existem!São asqueirosos
e insistem em assustar
A voz, a calma, a alma
Dos bobos que neles acreditarOra essa!
essas bobagens
não me interessam
Sou Velho e tenho pressa
As horas hão de passarEntretanto, eles não existem.
Eu sei!
Por um milhão de vezes
já falei
Eles não existem,
Ora! Tolos que são.
Vivem assustando criançinhas
Delas, uma multidão.
Adultos, adúlteros!
Adulteram a constituição.Quem vos ensinou
A plantar batata
na horta de feijão?
E ainda plantam um espantalho
Feito Judas, aquele "trairão"!Espantar quem, meninos?
Com essa tora
fincada nos "cunhão"?
É pra rir ou pra chorar?
Um boneco de palha
Feito o Chico Bento
Numa condição ordinária
Jogado ao relento.
Rirei até morrer de chorar!Por isso repito.
Eles não existem e pronto
Sou velho. Não tonto!- "se bem que nuns pés-de-pau,
Ouviam-se galhas batendo nas telhas
Não ventava nem chovia.
Mas que diabos de barulhos
eram àqueles então?
Na roça do meu tempo,
Não existia ladrão.
A não ser de galinha!"Mas em cima dos telhados?
Nossas galinhas dormiam
todas no galinheiro.
- Pera um pouco...
- Nossa Senhora!
Bateu um desespero agora,
Pode ser que tenha sido
Um Lobisomem.
Mas dizem que:
o que é do homem
O bicho não come.
Se não acredito em fantasmas
Quanto mais no que conta
O assustado do homem!Pode até ser que eles
tenham ido à lua. Não duvido!
Porém quando aparecem,
suas almas não estão nuas.
Como assim, nuas?
Roupas não se fantasmizam!
E nem morrem.
Não possuem almas
Como as dos fantasmas!Eles não existem!
Mas persistem!
Em remeter-me ao passado,
Onde na memória
do eu menino
existe uma gaiola
Com almas penadas
De uns bichinhos
Que um dia
Os Despenei.