Depois de tantas garfadas, aquela refeição incrível chegou ao fim, deixando-me com o estômago completamente cheio e a sensação de que a minha barriga tinha crescido mais um ou dois centímetros. Quem diria... ficar de barriga cheia num mundo dominado pela morte e pelo caos.
Levantei-me da mesa, sentindo-me na obrigação de ajudar a levantar a loiça. Afinal, depois de uma refeição daquelas, era o mínimo que podia fazer. Aproximei-me de uma das senhoras de avental, provavelmente uma das cozinheiras, e perguntei, com gentileza, se podia dar uma ajuda. Aproveitei para lhe agradecer pela comida maravilhosa.
Levei alguns pratos e talheres para uma das casas, que tinha sido transformada numa espécie de cozinha industrial. Nada comparado ao que existia antes, claro, mas surpreendentemente moderna para um mundo em ruínas. Ali, pelo menos, ainda se cozinhava de verdade. No meu dia a dia, a comida era quase sempre fria, aquecida com uma vela ou, com sorte, numa fogueira improvisada. Mas isso era um luxo para poucos.
- Obrigada pela ajuda, querida - disse a cozinheira com um sorriso caloroso. Ela fazia-me lembrar a minha avó quando era viva. Baixinha, cabelo grisalho e rugas que contavam histórias. Essas senhoras eram verdadeiras deusas na cozinha, transformavam qualquer coisa numa refeição deliciosa, até mesmo um simples pão, como a minha avó fazia.
- De nada. Posso ajudar em mais alguma coisa? - perguntei, entusiasmada por finalmente sentir-me útil.
- Se quiseres, podes ir lavar a loiça com as meninas.
Procurei-as com o olhar e não demorou muito até encontrá-las. Suspirei e juntei-me a elas. Quem diria que eu acabaria a lavar loiça no fim do mundo? Ainda ia estranhar muito os costumes deste acampamento.
...
Segui até um pequeno riacho junto à muralha, onde algumas barras de sabão azul e branco estavam dispostas. Começámos a lavar e a dividir a loiça, cada uma ocupando-se da sua parte.
- Aqui também lavamos a roupa. Como é dentro da muralha, estamos seguros. A água passa pelos pequenos espaços entre a madeira, mas nada mais consegue atravessar. - Contou-me a rapariga ao meu lado.
Achei fascinante. Tudo ali parecia demasiado bem coordenado para ser verdade. Todos tinham um propósito: os que iam para o exterior procuravam recursos e lutavam, enquanto os que ficavam tratavam da sobrevivência da comunidade. Era incrível. Quem não gostaria de viver assim?
Terminei a minha parte quando ouvi passos apressados a aproximarem-se. Levantei o olhar para ver o que se passava.
- Abigail, vim convidar-te para conheceres a vigia da noite. Falei previamente com o rei e ele concedeu-me essa honra. - Mike aproximou-se de mim, estendendo a mão num gesto convidativo.
- Vocês importam-se de levar a loiça da Abigail? Fico-vos a dever uma. - Acrescentou, lançando um sorriso encantador às raparigas que estavam connosco.
Mas que mulherengo este Mike, meu Deus.
Não tive escolha senão ir com ele, até porque, mesmo que quisesse recusar, ele já me puxava pelo braço.
- Tinha um pressentimento de que vinhas. - Disse Fill, lançando-nos um olhar estranho, como se estivesse a tentar insinuar algo.
Larguei imediatamente o braço de Mike.
- Sabes trabalhar com isto ou preferes as tuas katanas? - Perguntou Fill, entregando-me uma arma. Pelo peso e formato, parecia uma AK-47.
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Vozes Entre Ruínas || Volume I
Science FictionEM REVISÃO... BREVEMENTE TODOS OS CAPÍTULOS POSTADOS. OBRIGADA PELA COMPREENSÃO♡ 🥇| 1° Lugar na categoria de melhor casal | Concurso flor de lótus ... E se o mundo que conheces desmoronasse de um momento para o outro? Um dia, Abigail tinha uma vid...