Promessa

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Já estava de tarde, e elas esperavam em cima do capô da caminhonete, Max estava deitada na coxa da Chloe que, só pela sua presença, afastava maus pensamentos sobre tudo que estava acontecendo, porém certamente no fundo o sentimento persevera contra as duas.
Os ventos daquela tarde já não estavam soprando tão fortes como os da manhã.
A iluminação que o Sol trazia estava medianamente forte, com o calor quase que na mesma proporção, fazendo as folhas refletirem seu brilho.
Chloe acariciava os cabelos de Max e sentia as brisas quentes passarem junto do tempo, tentava relaxar naquele momento que as duas estavam tendo sozinhas, num lugar que o som não habitava e a quietude era uma graça.
A situação, agora já estava normalizada, mesmo que não parecendo. As duas estavam certamente apreensivas com a integridade da garota recepcionista - com sérios problemas mentais - que havia sido agredida por um ex-namorado com o mesmo nível de loucura, no qual tentou assassina-la.
Acreditavam que ela estava dizendo a verdade e tão pouco pensaram no garoto que havia caído ali ensanguentado, apenas olharam os fatos que lá estavam como o facão no qual tentou cortá-la.
Elas ignoraram o fato de que; havia sangue para tudo quanto era lado bem atrás delas, sendo claramente um cenário de filme de terror ou de séries policiais, apenas se fixavam em não pensar em mais nada, já que passaram por tanta coisas juntas em tão pouco tempo, o pensamento era; "A gente não precisa se preocupar com isso".
O tempo foi passando e elas sequer perceberam isso, estava tudo realmente muito calmo.
- Ei... - Max chamou pela atenção de Chloe. - ...Acha que ela está bem? Quer dizer... - Ela a atrapalhou.
- Aquela caipira maluca? Com certeza. - Afirmava com convicção. - Se ela conseguir contar da forma que contou pra gente, ela sai dessa. - Chloe pensou nessa possibilidade.
- Ela provavelmente levaria um sermão do policial. - Max estava imaginando o policial brigando com a Stacy, levantando sua voz contra ela... E Stacy fazendo o mesmo.
- Hmm... Se bem que eu acho que é ela ali...- Chloe olhava para dentro de um carro policial chegando perto e que dentro havia um homem. Estava estacionando do lado oposto a da caminhonete delas.
Max se levantou de onde estava e olhou para o carro chegando e estacionando, parando aos poucos.
A garota com uma tipóia - que foi dada pelo hospital -, saia do carro, só que continuará ensanguentada.
- Oi, pessoal -- Stacy cumprimentava as duas. Um homem de meia idade colocara sua cabeça para fora do carro e abria sua boca para começar a gritar.
- DA PRÓXIMA VEZ EU TE DEIXO NA PRISÃO, CACETE!!! - Ele deu de ré com o carro e Stacy virou de costas, e deu "tchau", agradecendo-o.
- VALEEEEEU TIOOO - Ela gritou num tom de voz bastante alto.
Max desceu da caminhonete junto a Chloe, indo ao encontro da garota que gritava para alguém que era aparentemente seu tio.
- Quem era? - A primeira pergunta veio de Max.
- Tio Sam - Ela parecia ironizar o nome dele.
Seu tio foi um soldado, muito patriota - diferente de Stacy -, agora já aposentado e é um protetor que vinha de vez em quando visitar sua sobrinha.
Quando Stacy era mais jovem, ela foi treinada por esse soldado como se o mundo estivesse em guerra contra sua família, a lutar, atirar, caçar e claramente a se cuidar, o tio pensou que estava fazendo a coisa certa, deixando ela preparada para quase tudo, entretanto isso acabou causando uma paranóia intensa nela, achando que não estava preparada para toda e qualquer tipo de situação, o que acabou acarretando nessa situação. Todo o preparo do tio não foi páreo para a situação real, havia duas vidas em jogo, ela estava com medo de matar e de ser morta, foi quando sua raiva tomou conta do seu estado de espírito e não se importou em dar um tiro no ex. Agora era uma garota de 20 anos, treinada por um militar e uma recepcionista de um motel que quase apareceu nas manchetes de uma Breaking News.
- I want YOU for U.S.ARMY. - Disse Chloe, apontando para Stacy com a mão direita e um semblante sério.
- Todo mundo faz piada com o nome dele... Até eu faço quando ligo pro celular dele. - Ela costuma gritar "TIO SAM, SOCORRO!!!", sendo quase que cerimonial, algo que eles tinham um com o outro, o tio estava acostumado a ouvir o grito de socorro dela, tanto que quando era ela que ligava, ele afastava sua cabeça do telefone.
"Ainda bem que não foram embora.", Stacy pensou, aliviada.
- Então... Eu gostaria de ajudar vocês com o que eu puder. - Ela foi na frente chamando elas. - Vamos! Eu vou levar vocês no "armazém".
Ela virou as costas para as duas, indo em direção á uma abertura entre os quartos e a recepção, Chloe e Max a seguindo-a. - Armazém? - Max questionou.
- Sim! É onde eu guardo as coisas das quais eu "provavelmente irei usar" - Disse engrossando a voz.
Passando pela recepção, já puderam ver o armazém do qual ela falava.
- Não já era pra ter alguém demolido isso? - Disse Chloe sem papas na língua e ainda, com a certeza.
O lugar estava realmente caindo aos pedaços, era um celeiro antigo, a pintura branco-amarelada apresentava lascas por quase toda parede, estava com algumas fendas no telhado e um cadeado no portão ao qual dava para qualquer guaxinim passar por de baixo dele e fazer a festa dentro daquele armazém.
Parecia um local para ser gravado cenas de filme de terror em que um cara com máscara de hóquei e com um machado a cima da cabeça apareceria arrombando aquele portão e lançando o machado na primeira pessoa que ele visse.
- Chloe! - Max exclamou olhando para Chloe e ela olhando de volta dando de ombros, como se dissesse "Mas é verdade" enquanto andavam para o armazém deveras sinistro.
- Pois é. - Stacy concordou. - Mas eu salvei meu bebê da destruição, e você ouviu bem, MEU BEBÊ. - Disse ela sendo possessiva.
- Meu tio ficava falando... Colocando na minha cabeça que eu deveria ser auto suficiente, pra eu nunca depender de ninguém... O que acaba por ser verdade... Só que bem, eu acabo exagerando e acabo guardando, e não uso nada, então... -
- Vira lixo. - Chloe deduziu.
- De ótima qualidade. - Ela afirmou. - "Você precisa ser auto suficiente, senão vai passar fome quando eu não estiver em casa" - Ela disse engrossando a voz fazendo uma imitação bem porca do tio. Stacy pegou uma chave de baixo de uma pedra que estava por perto. - Ma que... - Disse Chloe supresa. Se levantando para chegar pertodo cadeado e pegar ele com a outra mão abrindo assim as portas daquele armazém.
- Eeeeeeeee aqui estamos. - Apresentando com animação o lugar que por fora era um muquifo de quinta categoria e que por dentro demonstrava ser um muquifo de primeira categoria.
Nas paredes haviam cabeças de animais (Um urso, um cervo e um lobo) empalhados e havia caixas de papelão e de madeira - algumas fechadas, outras abertas e outras completamente lacradas - por todo redor, o chão era apenas gramado e terra plana.
A estrutura do lugar estava totalmente desgastada pelo tempo, lascas de madeira, aberturas no teto e sem pintura, fazia daquele lugar um bom lugar para guardar cadáveres.
- Meu Deus... Isso é... Pior do que eu imaginava. - Chloe voltou a afirmar.
- Parece que você gostou, quer passar uma noite aqui? - Stacy perguntou ironizando o fato de que elas pareciam estar num filme de terror, simulando com suas mãos facadas desordenadas.
- Não, eu agradeço a tentativa de assassinato, mas hoje não. - Rejeitou por fim.
- Hmm... - Ela estava se lembrando do que havia no seu armazém. - ...Eu acho que tem algumas roupas por ali. - Ela apontou para o lado esquerdo. - E perto do mesmo lugar tem comida... Eu vou pagar a gasosa que provavelmente deve estar... - Ela se virou na procura de uma escada e quase tropeçou num caixote.
Olhando a sua frente estava uma escada que levava ao andar superior, estava totalmente quebrada, literalmente partida ao meio, sendo impossível escala-la.
- Ok, vai da maneira difícil. - Ela atravessou as duas indo em direção a porta. - Ah, vocês duas já podem ir pegando as coisas, eu tenho que fazer uma coisa.
- Eu vou ir tentar ver o que eu consigo encontrar. - Disse Chloe, para Max, apontando para o lado que iria.
- Ok. - Disse Max concordando.
Max e Chloe foram em direções opostas uma da outra, Max foi diretamente ao ponto em que Stacy apontou para ela ir, que ficava perto da porta.
Foi até um dos caixotes e o abriu, havendo lá dentro sacos plásticos transparentes que continham roupas dentro, quatro deles, entretanto ela decidiu pegar apenas 2, já que parecia haver muitas roupas apenas dentro de uma sacola.
Com as portas do celeiro estando escancaradas a brisa da tarde entrava sem o mínimo de esforço, quente como um abraço caloroso, junto com o cheiro da floresta que trazia consigo uma sensação que remetia o passado. Max percebeu esses detalhe e pensou consigo mesma estando naquela situação. "É como uma caça ao tesouro...", se lembrando do seu passado e tentando com muito esforço tirar o lado bom disso.
O chacoalhar das árvores estavam mais altos naquela tarde, as folhas caiam como chuva.
Retirou as duas sacolas e carregou elas no colo, estavam um pouco pesadas, indo em direção as próximas caixas.
As outras quatro caixas que ela abriu, estavam cheias de roupa ela considerou pegar mais uma, entretanto percebeu que já estava carregando o bastante. Na quinta caixa aberta - Está de madeira. - havia comida enlatada, muita comida enlatada.
O chacoalhar das arvores ficaram mais bruscos e se debatiam cada vez mais agitadas, o que Max achou estranhou já que não estava ventando muito.
Do céu, vem uma garota quebrando o pouco do que já estava quebrado do armazém cessando os barulhos das arvores, fazendo um grande barulho e assustando as que estavam ali.
- AIAIAIAI, MINHA BUNDA!!! - Disse gritando de dor com a bunda completamente rachada.
- Ô CARALHO!! - Gritou Chloe assustada.
- VOCÊ TÁ BEM?! - Gritou Max preocupada.
- Eu... Tô bem, só vou ficar com minha bunda dolorida por uma semana!!! - Ela respondeu.
Stacy checou para ver se no braço estava tudo bem, ela suspirou aliviada.
Se levantou e foi até uma barreira de madeira que já estava completamente desestruturada, fácil de quebrar. Ela se apoiou naquela barreira fazendo-a rangir e se inclinar.
- Como você subiu aí?! - Gritou Max para que sua pergunta chegasse até ela.
- Quando eu era mais nova, minha avó não deixava eu subir aqui em cima, tirando a escada dali, então eu escalava uma árvore, e virou um costume meu, então foi bem fácil. - Explicou. - Ei! Conseguiram pegar algo de que precisavam? - Perguntou Stacy do andar superior.
- Sim! Eu encontrei essas roupas! - Exclamou Max.
- Hum... Sim! Sim, encontrei algumas tralhas por aqui. - Disse Chloe.
- Claro... - Suspeitou Stacy dado o lugar em que Chloe estava. - ...Bem, Max, você que está mais perto, tem uma bolsa térmica pra lá. - Ela apontou a direção contraria a de Max, para os caixotes que estavam perto da cabeça do cervo empalhado.
- Você pode colocar a comida lá! - Sugeriu. - Chloe, vai ajudar!!!
- Claro! - Disse Chloe em imediato, olhando para o lugar em que queria estar.
- Eu já já desço com a gasa. - Ela deu de costas e foi encontrar o galão de gasolina.
- Pode pegar a comida, Chloe? Por favor, estão naqueles caixotes de madeira ali... - Perguntou Max, apontando a direção com a cabeça.
- Tudo bem. - Ela foi em direção aonde lhe foi mostrada.
Max foi em direção a perto do cervo entalhado. O olhar daquele animal morto empalhado na parede, para ela era vivido como uma foto que tirara.
Para Max, olhar para aquele cervo era como olhar para todos os outros que encontrará no passado, era uma sensação estranha que começou a ignorar desviando o olhar do cervo.
Abrindo o caixote estava uma bolsa térmica cilíndrica azul grande, parecendo que nunca foi usada ou retirada do lugar, empoeirada e deixada ali para mofar.
Pegou-a e a abriu colocando tudo que pegou dentro, dando palmadas nela para tirar a sujeira. Sem mais a bolsa no caixote, ela pôde ver um cantil que também decidiu pegar.
Indo até Chloe já carregando a bolsa, vendo ela com um amontoado de latinhas, salgadinhos e água, carregando tudo com os dois braços, ela por sua vez descarregou tudo colocando no chão.
Max abriu a bolsa e colocou no chão para pegar tudo que a Chloe conseguiu.
- Você não acha que a gente tá sendo muito aproveitadora, não? - Perguntou para Chloe, enquanto guardava as latinhas.
- Foi ela que se ofereceu pra ajudar. - Demonstrou um fato inegável.
- Mas... - Max foi interrompida por Stacy. - Eu posso ouvir!!! - Ela gritou. - Max, relaxa, eu realmente quero ajudar e de certa forma - Ela desceu de onde estava pulando pelo buraco em que estava a escada quebrada com o galão na mão - Vocês estão me ajudando!
- Ajudando? - Ela questionou.
- Sim! A tirar o lixo do armazém.
- Aaaa, então isso é lixo?! - Disse Chloe indignada.
- De primeira categoria. - Chloe chegava mais perto. - Nanananão, é brincadeira!
- As datas de validade vencem daqui a dois anos, das comidas enlatadas e os salgadinhos daqui a um mês. - Disse Max vendo a validade das coisas antes de colocar ela na bolsa, colocando a alça da bolsa para carregá-la - Digo, da pra usar antes de vencer. -, ela volta o olhar para Stacy. - Eu... Stacy, eu realmente não sei como agradecer... - Ela apenas foi de encontro ao abraço da recepcionista.
- Ooooownt meu bebê, esse abraço já tá de bom tamanho. - Disse Stacy como uma velhinha abraçando cada vez mais forte, mesmo estando com o braço doendo. - Vem cá você também. - Chamando por Chloe. Ela reagiu ao pedido com um rolar de olhos.
- Podemos ir? Isso tá muito pegajoso pra - Ela foi atrapalhada por um puxão de Stacy para o abraço se sentindo irritada, porém confortada.
Assim que se separaram desse abraço de avó, finalmente seguiram para a saída do armazém, Max carregando a bolsa, ao lado de Chloe, e Stacy logo atrás para fechar o portão. Chloe quando saiu do armazém sentiu uma mão afobada passar na sua bunda, ela olhou para Max que parecia estar disfarçando, olhando diretamente para a paisagem da floresta e os raios de sol que passavam dentre as arvores.
Retirando Max de sua distração, ela a pegou pelo braço pensando "Também tenho algo pra você." e a beijou na boca, fazendo ela corar.
Depois de ter se virado ao fechar o portão, Stacy pode ver esse ato e sua reação foi a de surpresa escandalosa;
- AAAAAAAH, QUE FOFINHO!! - Fazendo as duas se separarem daquele beijo. - NÂO, NÃO, CONTINUEM!! - Ela apoiava. - FINJAM QUE EU NÃO ESTOU AQUI!
As duas ignoraram, e continuaram coradas, entretanto foram de mãos dadas pelo resto do caminho. "GENTE, QUE FOFINHO.", pensava Stacy.
- Eu posso cozinhar pra vocês! - Disse sem pensar, sendo que mal podia entrar na recepção para começo de conversa, nem sequer deveria estar ali.
- Eu acho que a Max não quer mais te dar trabalho. - Disse Chloe, pensando na gentileza da mesma, contudo estando morta de fome.
- Gerenciar o motel da trabalho, vocês são minhas inquilinas, e ainda não receberam serviço de quarto. - Ela realmente não estava pensando no que estava falando, nem sequer havia serviço de quarto no motel. - Vão tomar banho enquanto eu preparo algo pra vocês.
- Tá bom, vovó. - Zombou Chloe.
Em resposta, deu o dedo do meio para ela e voltou para atrás da recepção as duas simplesmente seguiram de volta para o alojamento em que ficaram, o quarto 129.

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