CAPÍTULO ÚNICO

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NÃO SEI ao certo por onde começar esta narrativa, afinal, caros leitores, estou acostumado à narrar a vida de Galileu Evans e não as dos rapazes que fazem bullying para com ele.

Talvez deva iniciar dizendo que nem sempre Wolfgang Bach foi assim; ele costumava ser um rapaz amoroso que defendia os oprimidos da ira sem escrúpulos de seus colegas. O rapaz sempre gostou de se sentir bem consigo mesmo, de ser seu próprio herói.

Há uma grande probabilidade de que as desventuras de sua vida estivessem escritas nas estrelas, talvez estivessem tão predestinadas quanto o fato de que ele acabaria por se tornar um exímio violinista. É impossível sabermos ao certo.

As coisas podem ter começado a dar incrivelmente errado após seu pai tornar-se um herói de guerra, o único problema com este título é que — na maioria das vezes — ele vem junto à um cadáver acompanhado de um caixão adornado com a bandeira do país e um funeral em um cemitério militar.

Honraria a qual o rapaz descartaria facilmente se isso fizesse com que seu pai voltasse para ele.

Após a morte de seu pai sua mãe surtou, talvez tenha sido acometida pela depressão e pelo desespero de fazê-la desaparecer. As noites da matriarca passaram a ser regadas à drogas e álcool, pouco a pouco a mulher que ele amava e se inspirava desaparecia, definhava.

A pensão dada pelo governo, apesar de generosa, provou-se insuficiente, incapaz de suprir suas necessidades básicas. Apesar de saber que isto deve-se ao fato de sua mãe estar gastando o que ganhava para suprir seus vícios,  a esperança de melhores dias ainda predominavam sua mente.

E então o fatídico dia chegou, o dia em que o governo tomara-lhes a casa devido à uma hipoteca realizada por sua mãe. O dia em que a pouca esperança que o fazia levantar fora-lhe usurpada por completo... o dia no qual apercebeu-se de que o mundo é incrivelmente cruel com pessoas boas; que são as pessoas más que ganham a glória.

Deste dia em diante sua vida deu uma volta de cento e oitenta graus. O rapaz, que antes viva em um dos bairros mais ricos da cidade, viu-se obrigado a morar no bairro mais pobre, decadente e perigoso; em um casebre de madeira mal feito e com um padrasto tão drogado e inútil quanto sua mãe.

O dinheiro que sua mãe ganhava do governo? Este havia sido bloqueado no intuito de que as dívidas feitas por ela fossem quitadas. Agora a mulher tinha um emprego em um bar local, conhecido por oferecer prostitutas pelo preço mais barato e o dinheiro que ganhava era gasto em drogas e álcool.

Não direi-vos que Wolfgang importa-se com o dinheiro, isto sempre foi irrelevante para o rapaz, ele sempre soube que status social e dinheiro nunca o fariam melhor do que alguém, tudo o que ele almeja é uma refeição decente, coisa que; há muito, não tem.

Quanto os pertences de seu pai, o governo penhorou à todos, bem, quase todos... foram generosos o suficiente para deixar-lhe um velho violino que, inicialmente, pertenceu à seu tataravô. Uma relíquia de família na qual Wolfgang é apegado em demasia. Tão apegado que esconde-o minuciosamente antes de sair para o colégio, pois sabe que caso não o faça sua mãe o venderá.

Seus amigos? Estes abandonaram-no rapidamente após descobrirem sobre a drástica mudança em sua situação financeira, o único amigo que lhe restou foi Brett, seu melhor amigo de infância que, ao perceber a brecha aberta por todo o amargor da perda, começou a moldar-lhe o caráter.

Wolfgang jamais deixou-se ser moldado, prezava, sobretudo, o mantimento de seus valores; porém, com tudo o que lhe vem acontecendo, seus valores provaram-se tão inúteis quanto a TV à cabo em um dia de tempestade. Não orgulho-me em dizer-lhes que o rapaz quis ser moldado pois acreditava ser capaz de superar seus demônios caso se tornasse outra pessoa.

Contei-lhes um pouco sobre o passado do protagonista deste conto, agora contarei-vos sobre seu presente.

O rapaz de cabelos acastanhados está ainda mais magro do que o de costume, tal fato pode ser facilmente provado todas as manhãs quando seu reflexo o devolve um imagem beirando à cadavérica. Seus olhos estão fundos e profundas olheiras os adornam; seus lábios estão rachados, descamando e sua pele está muito mais pálida do que costumava ser.

Caso olhemos muito fundo em seus orbes acastanhados seremos capaz de ver o vazio que se esconde por detrás dos esboços de sorrisos que, vez ou outra, adornam-lhe os lábios.

O fato é que Wolfgang está cansado de se sentir inútil, impotente e incapaz de mudar seu próprio destino. O pouco dinheiro que ganha tocando no metrô é gasto para por algum alimento na mesa, para ter ao menos uma refeição digna durante o dia; sendo assim, nada lhe sobra para economizar e sair do lugar onde está, sair do fundo do poço.

Olhemos mais de perto para Bach, que agora está a arrumar-se para o colégio, trajando uma calça desgastada e a camiseta de uniforme que usara nos dois últimos anos e que agora parece larga em demasia para si.

— Você só tem que ignorar tudo e todos e fazer exatamente o que Brett mandar. — Ele repete seu mantra diário, de certa forma, culpar a Brett por suas ações é bem melhor do que admitir que, tal como o amigo, tornou-se um monstro

A velha mochila camuflada é jogada sobre o ombro direito e o casebre é deixado de lado, mais um dia se inicia na vida de Wolfgang Bach; mais um dia no qual ele não vive, apenas existe.

Ah, se ao menos ele soubesse do futuro brilhante que o aguarda, se ele soubesse que o universo recompensa pessoas boas, se ele soubesse que não falta muito para que sua vida volte aos eixos... talvez se ele tivesse ciência de tais fatos deixasse Galileu Evans em paz.

Todavia não cabe a mim contar-lhe seu futuro.
Wolfgang Bach tem de perceber por si mesmo que seu nome carrega a marca de um destino regado à glória e que dias difíceis são necessários para que possamos melhor gozar de nossos dias de glória.

Wolfgang Bach tem de perceber por si mesmo que seu nome carrega a marca de um destino regado à glória e que dias difíceis são necessários para que possamos melhor gozar de nossos dias de glória

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