...Magia

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= Soneto da Lua Cheia =

Recordo do teu abraço ao lado do Teixo,
Sob a luz do cerúleo luar.
Sei que houve desejo,
Mas até quando iria durar?

Nas lembranças me conforto,
Em meio às lamúrias da fogueira,
Das noites escuras de festanças, de dança,
Dos corpos quentes em meio a bambueira.

A nossa volta, os elementos buscavam nos abraçar.
Ao Norte, a Terra a nos acariciar.
À Oeste, a Água a nos abençoar.

Ao Sul, salamandras se punham a festejar,
Enquanto a Leste, Elfos saltavam pelo ar.
E nas fogueiras de Beltane, esta recordação hei de enterrar.


= Círculo de Fogo =

E o encanto, mágico, etéreo
Vem de antes do mundo ser mundo
Das verdejantes terras distantes
Das ilhas esquecidas

Povoadas por seres mitológicos
Temidos, amados, enfurecidos.
E dentre todos, o mais perigoso era o ser que andava em pé ante pé
Mas sobre apenas dois pés

Que mesmo com fé
Aterrorizava todos os outros sua má-fé.
Enquanto isso, dragões, unicórnios e pégasos

Respeitados por todos, foram domados
Pelo homem que não tinha pudor
Nem respeitava sua dor.

O dragão de ébano tomou para si o lugar
De a Pedra de Fogo guardar
Daqueles que a viam com um troféu sobre um altar,
E só pretendiam ela roubar

No centro do vulcão ficava de vigia, um dragão serpente que jazia
como pedra
Ainda que seus olhos espertos estivessem sempre abertos
E seu companheiro alado, se mantinha altivo com sua pelagem prateada,
A clina caída, estudando o perímetro da caverna e suas pedras encravadas.

Mas enfezado mesmo era o danado do Unicórnio
Cujo jeito doce era provisório
O disfarce perfeito

Para a mais cruel e perfeita das criaturas imortais
Que ao círculo de fogo, pela eternidade,
Jurou lealdade.


= O Oráculo =

Sua busca eis que um dia finda,
Não o Tarot de Marselha ou Búzios admiraria,
Mas o singelo tilintar de pedras pelo ar,
Pois as Runas, o futuro, iriam lhe revelar.

Sobre um manto negro, sua mão sentia vida
Que emanava das pedras com um ardor fúlgido, ainda que vivido,
E em segundos a cartomante via
As escolhas ofertadas pela vida.

Passado, presente e futuro se mesclaram
Num emaranhado de imagens,
Belas, perigosas viagens.

Mas quem nela iria acreditar,
Que os perigos e o futuro as pedras estavam a lhe contar,
Se o deslumbrar das pedras, ninguém conseguia enxergar.


= As Estações =

Mais um ano, e as estações vem e vão
Outono, Inverno, Primavera e Verão
Cada uma do seu jeito, sempre aclimatizarão
Mas nenhuma é tão bela quanto a efêmera primavera

Com sua floral sutileza
Inerte em leveza
Brinda-nos com sua delicadeza
Em meio a sua primaveral natureza

Mas a vida é mórbida,
Mesmo para a bela rosa atrevida
Cujos espinhos lhe servem de defesa suicida

Eis que a árvore-da-vida arqueia
Sacode, tremula, bambeia
E ano após ano, anseia pelas folhas alheias.


= Estrela Cadente =

No céu, a estrela traça
Uma órbita engraçada,
Que avança,
Enquanto dança.

A estrela abençoada,
Por todos, observada
Anuncia sua chegada
Com uma cauda prateada.

E nas casas, famílias reunidas
Agradecem unidas
Desejando ao menino Jesus boas-vindas.

Mas para as crianças, Natal é só presente!
Sejam elas elegantes
Ou carentes!


= Feitiço da Lua =

Longe,
No horizonte,

A lua se ergue radiante
Com o brilho prata-azulado brilhante,

Da janela, cada ente,
Seja gente ou imaginação da gente,

Espreita o luar emocionado,
Que brilha isolado,

Num céu desnorteado,
Nada estrelado,

Atordoado,
O inocente Sol segue seu pôr calado,

Perdendo de vista rápido
O astro amado.


= Roda do Ano =

Parte I – Primavera

A Primavera é o alvorecer da roda do ano,
Quando a neve se esmorece ao olhar Balzaquiano
Revelando a relva ao bichano
Que espreita com olhar cartesiano.

Nos rios, o gelo derrete sem danos,
Sem rumo, sem enganos,
Velozmente insano e inumano
Num tormento quase diluviano.

Apesar do leviano olhar humano,
Os animais ficam encantados,
Amáveis e enamorados.

As flores desabrocham num oceano
De cores contagiantes de um rúbeo mundano
Em meio ao cinza urbano.

Parte II - Verão

Verão é quando a prima Vera vai embora
E o sol desponta rápido e brilhante
E fica lá até altas horas
Banhando a todos com sua alegria contagiante.

E a maritaca voa da roseira para a amoreira
Pois o bem-te-vi está cantando contente à sombra da parreira
Enquanto a andorinha ligeira,
Faz acrobacias ali, depois da amendoeira.

Na praia, as crianças correm incansavelmente
Pés descalços na areia quente.
No rosto um sorriso contente que remetem ao passado doce da
gente.

E o casal enamorado,
Deitado sobre o gramado,
Sonha com seu refúgio sagrado.

Parte III – Outono

Ainda não amanheceu?
O sol se escondeu?
O dia encolheu...
Mas a chuva não compadeceu!

Após o fuxico de um amigo seu
A maritaca se recolheu
Pois o plúmbeo céu
Anuncia um breu.

Douradas, as folhas dançam no horizonte ruço
Sobre a relva descansam do furdunço
Pois a rave alada, deu um descanso!

Em meio a tudo, a furiosa onça
Aguarda esperançosa
O nascimento da cria dengosa.

Parte IV - Inverno

Quanto a Terra inverna,
A temperatura se altera
O urso hiberna
E a dinâmica da natureza se alterna.

A neblina desce
A garoa se espessa
A geada aparece
E o céu cinza espanta a pressa.

O sorvete dá lugar ao chocolate
Que quente
Aquece a mão da gente.

E à noite, na lareira,
A roda de amigos se regorjeia
Contando 'causos' da vida passageira.

Fala sério... Poesias?!Where stories live. Discover now