Capítulo único - Remember

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CAN DIVIT

Sanem estava bem quieta desde cedo. Meus planos de ficar na ilha deserta para me resolver com ela não haviam dado certo, até então. Eu sabia que eu tinha sido um idiota todos esses dias desde que saí do hospital, tratando ela com indiferença, enquanto ela só queria me fazer lembrar do que a gente viveu. Mas toda aquela pressão, não só dela, estava me deixando irritado e confuso. Eu simplesmente não conseguia, e isso me deixava frustrado.

Depois de tudo que Sanem me disse nas pedras, senti que estava perdendo ela de vez. Não posso negar que, mesmo não lembrando, senti algo por essa garota desde o primeiro momento que a vi no hospital quando entrou junto aos meus familiares no quarto, ainda quando eu acreditava que fosse apenas alguém que trabalhava lá. Tudo mudou assim que eu entendi a situação, ficar perto dela se tornou sufocante, ao mesmo tempo que eu não queria me afastar. Estava vivendo um conflito interno que me matava aos poucos.

Ela estava chateada comigo, e com razão. Ainda mais depois de ouvir o que eu disse ao meu pai, apesar de eu ter dito apenas para convencer a mim mesmo. Ela não tinha culpa de nada disso acontecer e não merecia passar por isso. Resolvi vim até Ağva atrás dela no mesmo instante em que soube sobre sua viagem. Sanem queria ficar longe de mim, pensar, mas eu não queria deixar que ela desistisse de nós dois. İnventei uma desculpa sobre o jet ski estar quebrado para que finalmente eu conseguisse algumas horas a sós com ela sem sermos interrompidos. Em algum momento ela cederia espaço para o diálogo ou ao menos para me ouvir. Eu estava respeitando o espaço dela, até então, era importante também entender que ela foi a mais impactada com toda essa história.

Sanem estava sentada próxima a fogueira que eu havia feito para nos aquecer, com os joelhos próximos aos seus seios e os braços apoiados em seus joelhos. Olhava o horizonte, distraída em seus pensamentos. Eu estava encostado às pedras enquanto a observava. Estava iluminada pela claridade do fogo e a luz do luar. Tão linda que eu sequer conseguia prestar atenção a qualquer outra coisa. O vento batia levemente fazendo seus cabelos se movimentarem suavemente na direção contrária ao seu rosto. A vontade de me aproximar era grande, mas o medo de incomodá-la era maior.

Eu estava inquieto e decidi arriscar. Nunca fui um homem de me podar, sempre gostei de desafios. Mas com ela era diferente. Ela me fazia ceder, recuar, ponderar. Ninguém jamais causou um efeito desses em mim.

Criei coragem e fui até ela. Pedi permissão para me sentar ao seu lado e, assim que recebi um aceno positivo com a cabeça, me sentei, ficando na mesma posição em que ela estava. Sanem não me olhava, continuava mirando o mar escuro a nossa frente. Fiz o mesmo. Percebi que ela queria falar, seus lábios se moveram e então se fecharam. Virei meu rosto em sua direção e ela abaixou a cabeça como se dissesse a si mesma que não valia a pena.

Toquei seu queixo e guiei seu rosto para cima, ganhando um olhar curioso da garota encantadora a minha frente. Ela tinha uma sobrancelha arqueada. Engoli a seco controlando a vontade de beija-la e fiz um carinho leve em seu rosto, passando o polegar por suas bochechas. Sanem fechou os olhos e apertou as próprias mãos. Nessa hora eu percebi que não adiantava eu tentar me enganar, meu toque causava nela efeitos que surtiam em mim. Era uma troca e, de fato, nós tínhamos uma puta conexão. Todo o meu corpo se energizava ao ver como ela se arrepiava ao meu toque. Eu queria toma-la para mim, mas era muito cedo e qualquer atitude precipitada me faria perder todo o progresso que tivemos.

Ela já havia fugido de um beijo mais cedo, não queria arriscar que ela se fechasse novamente. Sorri para ela e me levantei. Precisava respirar. Andei até o mar, sentindo o olhar dela sobre mim. Cheguei até a beira e molhei os pés. Percebi que ela se levantou e sorri com isso, tinha conseguido fazer ela se aproximar de mim.

Ela parou ao meu lado com os braços cruzados e molhou os pés, assim como eu fiz. A água estava fria, mas numa temperatura agradável. Por mais que estivéssemos em silêncio, não havia uma energia ruim entre a gente. Parecia que ambos queriam eternizar aquele momento como se fosse os últimos da nossa vida ao lado um do outro. Não queríamos estragar aquela noite com palavras, por isso adiamos o máximo que podemos a conversa que sabíamos que precisávamos ter.

Cansei da distância que existia entre a gente e resolvi a abraçar pelo ombro, colando seu corpo ao meu. Ela pareceu surpresa com a minha atitude, mas não reclamou. İnclinou sua cabeça em direção ao meu ombro e se permitiu aproveitar um carinho que eu fazia em seus braços.

Surpreendendo ela mais uma vez, a puxei pela cintura fazendo ela ficar de frente para mim e mantive nossos corpos colados. Ela me olhava com um misto de tristeza e curiosidade, podia ver em seus olhos que ela implorava que nós voltássemos a ser como antes, que ainda havia esperança que eu a amasse tanto quanto antes. Senti a sua dor me atingir e resolvi falar o que era necessário, ela precisava ouvir que era importante na minha vida.

- Eu te magoei e peço perdão por isso. Sei que eu agi muito mal esses últimos dias, sei que não tem sido fácil pra você. Sei também que você me conhece bem o bastante pra saber que eu me fecho quando os problemas surgem. A minha vida mudou muito desde que eu te conheci e tudo isso é novo pra mim agora. Mas, como eu te disse mais cedo, a parte boa disso tudo foi poder te conhecer de novo, me apaixo...

Fui interrompido pelo seu dedo posicionado a minha boca, impedindo que eu dissesse a frase final.

- Não diga isso. Que se apaixonou por mim de novo. Eu não quero que você esteja comigo só porque já vivemos uma história e todos te dizem que era linda.

- E o que você quer, Sanem?

- Você sobreviveu ao acidente, Can Divit. Nada mais importa. Se ficaremos juntos ou separados, isso não importa mais. Se você morresse, eu morreria junto. Então viva... Como quiser viver. Desde que você esteja bem, eu ficarei bem.

Eu estava em choque com aquelas palavras. Ela queria que eu fosse embora? Que eu desistisse dela? Era o que eu queria? Enquanto eu refletia sobre tudo o que ela tinha me dito, nosso contato visual se quebrou. Ela agora estava de cabeça baixa, mas eu ainda estava com os braços ao redor da cintura dela. Notei uma lágrima escorrendo pelo seu rosto e isso bastou para a minha decisão final. Coloquei uma mão em seu pescoço e aproximei meu rosto do seu. Esse gesto fez com que ela fizesse o mesmo movimento. Seus olhos alcançaram os meus e eu pude notar a dúvida neles como se me questionassem um"tem certeza?". 

Eu tinha. Total e absoluta certeza de que não queria viver sem ela. A beijei, da forma mais apaixonada e intensa que eu pude. Quando me dei conta as lágrimas rolavam pelo meu rosto também. Nosso beijo ganhava um gosto salgado que se misturava ao doce da boca de Sanem. Era exatamente como ela.

E então começaram os flashes, minha mente de repente foi bombardeada por imagens de nós dois e eu me afastei, assustado com tantas informações.

Ela pareceu não entender, chamava o meu nome e perguntava se estava tudo bem. Eu segurava a minha cabeça como se tudo aquilo pudesse escapar de novo. Me sentei, fechando os olhos e usando o joelho como apoio para minha a cabeça. Quando me dei conta, Sanem estava agachada ao meu lado me acariciando e olhando preocupada. Eu sorri de volta, da melhor forma que eu pude, pois minha cabeça doía. Alguns flashes mais vieram a tona enquanto eu a olhava e eu alarguei ainda mais o sorriso. Ela ficou ainda mais confusa.

Eu me sentei com as costas apoiadas a parede de pedra atrás de mim e a puxei para sentar entre as minhas pernas. A abracei com força e inalei o máximo que eu pude do seu cheiro no pescoço. Nossas mãos estavam entrelaçadas e ela sorria como se não acreditasse em nada daquilo. Sussurrei em seu ouvido, com a minha melhor voz rouca/sedutora um "eu lembrei, erkenci kuş" e mordendo o lóbulo da sua orelha.

Ela virou um pouco desesperada e incrédula, me bombardeou de perguntas, me abraçou, ameaçou levantar, e então eu a puxei de volta, ela voltou a fazer mil perguntas e eu já não conseguia mais conter o riso. Quando finalmente se acalmou, consegui explicar que havia sido durante o beijo. O sorriso da Sanem podia facilmente rasgar o seu rosto de tão gigante, o brilho nos olhos estavam mais fortes que o das estrelas no céu. Aquilo me trouxe paz.

- Se eu soubesse tinha te beijado antes...

Não consegui conter a gargalhada com essa afirmação. Ela era única, de fato. Minha única. İnsubstituível. Encantadora. Minha menina mulher que sempre surpreende e me enche de amor. Com toda a felicidade que nos dominava, eu a beijei mais e mais vezes. Agora tendo a certeza de que aquele era só mais um momento dos muitos que teríamos até o fim das nossas vidas.

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