23 Novembro 2003

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-Tens a certeza que não queres vir? Temos mais um lugar vago! - Disse Zac debruçado na choça de carro que conduzia. Estávamos todos a regressar a casa de uma festa em casa da Caroline.

-Deixa. Eu vou com o Chad. Somos praticamente vizinhos e podemos ir a pé… - Respondi com um sorriso tímido na cara. Os outros começaram a rir-se freneticamente. Corei um pouco, cruzando os braços.

-Sim, diz que é por causa disso! - Comentou Zoey, a namorada de Zac, que estava sentada no lugar de pendura. - Paciência! Não te percas que senão, quando deres por ti estás é no quarto dele. - Brincou, piscando-me o olho. Afastei-me, subindo o passeio. Eles acenaram-me, arrancando depois.

Brinquei com uma pedra que estava no chão. Era a primeira vez que saía à noite sozinha. Onde eu morava era melhor andarmos sempre acompanhados que sozinhos, especialmente à noite. Nenhum dos meus amigos sabia exactamente a minha morada, nunca tinham entrado em minha casa. Era melhor assim.

Sentei-me na borda do passeio, cruzando as pernas, olhando para o céu nublado que estava sobre as nossas cabeças. Era uma sorte ainda não ter começado a chover. Aconcheguei o meu casaco, sentindo já algum frio. Não estava quase ninguém ali, só o Chad, que se despedia da Caroline, e alguns rapazes da equipa de futebol da escola, que por estarem tão bêbados mal se levantavam das espreguiçadeiras.

O Chad viu-me, acabando de dizer o último adeus à anfitriã da festa. Veio ter comigo e começamos a andar pelo passeio fora: eu na borda, de braços cruzados segurando no casaco para não se abrir, e ele na berma da estrada, a olhar para o chão. Nem assim conseguia ser mais alta que ele.

-Então… Festa interessante. - Disse ele depois de uns minutos em silêncio, numa tentativa de meter conversa. Um carro passou, apitando. Caiu o silêncio de novo.

-Sim, se queres ver bêbados a cair à piscina… - Respondi sem tirar os olhos do chão. Ouvi um riso baixinho.

-Tens razão. - E voltamos os dois ao silêncio constrangedor. Atravessamos a rua e caminhamos mais um pouco, entrando numa rua mais escura. Paramos mais à frente num cruzamento. - Sabes, se quiseres posso ir contigo até tua casa. Para não ires sozinha… - Ofereceu, coçando a cabeça.

-Não é preciso. Eu também moro já ali. - Apontei a rua à nossa direita. -Não vou ser raptada ou algo do género. Podes ir. A sério.

-Tens a certeza? - Perguntou. Acenei que sim. - Vemo-nos amanhã… ou logo, então. - E caminhou em direção à rua à nossa frente.

Fiquei a olhá-lo enquanto se afastava de mim e passava ao longo dos postes de iluminação, cada vez ficando mais pequeno. Olhei para a minha rua, que mal estava iluminada. Suspirei. Dei passos largos enquanto caminhava pelo passeio em direção a minha casa. Estava tudo em silêncio, mas isso não queria dizer que não estivesse ali ninguém. Todos ali sabiam o tipo de negócios se passavam naquela zona durante a noite. Desci a rampa ao fundo da rua apressadamente entrando no bloco onde morava.

Fechei a porta calmamente para não fazer barulho. Tinha prometido à minha mãe que chegava a casa à 00:00 e eram já quase 03:00h. Descalcei-me para não se ouvirem os meus passos e fui para o meu quarto.

Não acendi a luz. Não valia a pena. Já conhecia aquele espaço como a palma da minha mão e só precisava de vestir a minha t-shirt de dormir e meter-me na cama.

Fechei os olhos, chamando o sono. Tinha 4 horas de sono para aproveitar antes de ter que acordar para ir para a escola. Estava no último ano do liceu e depois disso poderia finalmente sair deste buraco e ir tirar um curso de Engenharia medicinal.

Acordei sobressaltada, com o que parecia ter sido um grito vindo do quarto ao lado. Olhei para o relógio que tinha na mesa-de-cabeceira, eram 03:33. Esfreguei os olhos enquanto me levantava. Esquecida que tinha deixado as meias perdidas na patela do chão quase escorreguei, segurando-me na porta do meu guarda-roupa. Abri a porta do meu quarto só o suficiente para colocar a cabeça. Estava tudo às escuras e calmo. Fechei a porta e abanei a cabeça, devia ter sonhado com isso. Comecei a ir para a cama, mas ouvi um barulho vindo do quarto dela. Não liguei. Sentei-me na cama, colocando os pés dentro do lençol para me deitar. Uma batida forte soou vindo de algo que tinha caído ao chão. Levantei-me e saí do quarto. Encostei o ouvido na porta do quarto da minha mãe. Ouvi barulho.

-Mãe…Está tudo bem? Eu… - Disse enquanto abria a porta e ligava a luz. Não acabei o que estava a dizer.

O meu coração parou. Na cama estava o corpo da minha mãe, esfaqueada no peito, e ela estava com os olhos abertos, morta, virados para o meu lado. Quis gritar mas estava com um aperto demasiado forte na minha garganta para dizer alguma coisa. Paralisei. Em cima dela estava uma rapariga que ao me ouvir, virou-se para mim. Ficou com os olhos negros e saiu de cima da minha mãe, voltando-se a mim com a faca ensanguentada que segurava na mão.

Comecei a correr apavorada. A minha mãe dizia-me que se algum dia algo acontecesse, o quer que fosse, que eu devia correr para o porão da casa, que lá ficaria em segurança. Não pensei em mais nada, apenas nas palavras que ela teimava em dizer todos os dias antes de sair para trabalhar.

Desci as escadas, quase caindo e abri a porta de ferro que se empunha à minha frente, fechando-a o mais rápido possível. Nunca tinha entrado ali antes. Apalpei as paredes à procura de um interruptor mas nada encontrei. Sentei-me no chão, encostando os joelhos ao peito e cruzei os braços, aterrorizada.

Não ouvi mais barulho nenhum. Fiquei assim durante o que me pareceu ser uma eternidade. Pisquei os olhos abruptamente, tentando controlar a respiração.

-Devo estar a dormir… Só pode. Isto não passa de um pesadelo. - Tentei convencer-me, esfregando os olhos. -Só um pesadelo. - Fechei os olhos com força. Abri, ainda estava ali. Belisquei-me, não aconteceu nada. Comecei a sentir um nó na garganta e o queixo trémulo. Bati na minha cabeça. - Acorda! - Gritei quase a chorar. Bati de novo e não parei até me começar a doer. - ACORDA! - Berrei, começando a chorar desesperada.

Abri a porta. Continuava às escuras. Ainda soluçava, mas tentava não fazer barulho. Com as pontas dos pés, subi as escadas e fui até ao meu quarto. Debrucei-me sobre a minha cama e peguei no meu revólver 45 mm. Tinha as mãos a tremer e conter as lágrimas estava a ser difícil.

Entrei na sala, virando-me para todos os lados, não estava lá ninguém. Fui para a cozinha, vazia. Debrucei-me sobre o balcão, passando as costas da mão na testa suada. Pousei a arma, não sabia o que estava a fazer. Vi o telefone fixo no outro lado da divisão e pensei logo telefonar à polícia. Caminhei até lá, sentindo as minhas pernas a falhar. Agarrei-o.

-Estou aqui. - Ouvi uma voz atrás de mim, rindo-se. Virei-me atirando o telefone ao vulto que estava à minha frente. Ouvi-o estilhaçar-se no chão. Apalpei o balcão, agarrando na primeira coisa que encontrei, e atirei-lho. Era o salgueiro; coisa mais estúpida para lhe atirar. Mas ela parou, por um momento. Corri para o outro lado, agarrando no meu revolver. Ela virou-se para mim.

-Isso não me afeta, querida. - E começou a caminhar. Preguei o gatilho, acertando-lhe no peito. Ela nem tossiu. Pressionei de novo. Ela parou, mexendo os ombros, irrequieta. - Isso não é simpático.

Senti uma lágrima a escorrer-me pela cara. Olhei para o lado, estava a porta de entrada. Comecei a correr mas senti uma mão a agarrar-me pelos cabelos e a bater com a minha cabeça contra a parede.

Abri os olhos. Estava deitada no chão e vi-a uns sapatos engraxados, olhei para cima e tinha um homem de gravata a olhar para mim. Tentei levantar-me e reparei que tinha uma faca ensanguentada nas minhas mãos, também elas ensanguentadas. Senti duas mãos a agarrar-me e a puxar-me para cima.

-Queres explicar o que aconteceu aqui? - Perguntou o homem, olhando para mim, sério. No cinto das calças tinha um distintivo. Era um polícia.

Fechei os olhos com a pontada de dor que me deu na cabeça. Abanei-a, tentando concentrar-me.

-Uma mulher. Ela estava aqui e ela matou a minha mãe…

Ele olhou para mim, cheia de sangue. Não estava a acreditar em mim.

-Ela tinha olhos totalmente pretos! - Continuei. Ele franziu a testa. - Eu baleei-a duas vezes, mas ela continuou de pé… Eu… Eu tentei fugir mas ela agarrou-me e eu perdi os sentidos.

Um outro sujeito aproximou-se e disse-lhe algo ao ouvido. Ele consentiu com a cabeça e o homem afastou-se, voltando ao trabalho.

-Onde está a arma, então? - Perguntou. Olhei para o lado mas ela não estava lá. Fiquei perdida. Ele acenou com a cabeça, soltando um suspiro rápido. - Sabes, o que eu tenho aqui? Tenho um cadáver naquele quarto, morto por esfaqueamento. E tenho à minha frente a filha com a arma do crime e cheia de sangue. Queres explicar isso?

-Estou a dizer a verdade! - Gritei. - Tem de acreditar em mim. Não fui eu! - Ele com a cabeça mandou o homem que me agarrava levar-me. Agarrei-me às bermas da porta. - Os olhos!!!

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