De volta ao País das Maravilhas

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Quando Wanda acorda, ela pensa que está morta, sem saber o que tinha acontecido durante e depois da queda e porquê seu corpo dói tanto, até ouvir a voz de Clint. Ele não grita, mas seu tom está mais alto que o normal. Ela abre os olhos e se levanta devagar, seus músculos ainda morgados; percebe que está em uma sala semelhante à uma caverna. As paredes bege rochosas, o ar seco, a má iluminação... É tudo familiar. E o teto é escuro demais, portanto ela associa-o a um buraco, não podendo ver onde começa, apenas que há escuridão.

Apesar de ter seus flashes de luz aqui ou ali, não há sol ou lâmpadas na caverna. É quando Wanda se dá conta do que lhe aconteceu e seus olhos se arregalam ao perceber o que tudo aquilo significa.

A menina crava seus olhos na mesa branca no centro do lugar e vê que não há mais nenhum bolo Coma-me e que o frasco Beba-me nem mesmo está lá.

Clint!

Wanda o encontra agachado em frente à porta marrom, tentando enfiar a chave na fechadura com os imensos dedos de gigante. Ela teria rido se a situação não fosse trágica, mas sente que seu corpo sabe o que fazer e decide confiar nele.

"Droga," Clint murmura frustrado, colocando a chave no chão e pegando algo em seu colo. É o frasco Beba-me ainda cheio. Ele a olha como se sentisse sua presença. "O segredo é não tomar tudo de uma vez, criança."

E então ele toma a bebida em seus lábios, esperando o efeito acontecer para enfiar outro gole goela abaixo, sua altura diminuindo mais e mais.

"Você ainda está do tamanho errado," Wanda comenta, a ansiedade para saber o que estava por vir sendo bem controlada pelo calmante que tomara esta tarde.

Ele tem o tamanho de uma criança de doze anos agora.

"Cale a boca," o homem manda, mal humorado. "Quando você veio, ficou no tamanho de uma bola de futebol."

Não sabendo mais esperar, Wanda apanha a chave no chão antes que Clint o faça e destranca a porta. Seu psiquiatra sai correndo, um enorme sorriso em seu rosto, e ela respira fundo uma ou duas vezes antes de se expor ao sol — o tempo aqui passa de forma diferente — do País das Maravilhas, preparando-se para o momento.

Não poderia ter sido melhor.

O sol que ilumina as plantas coloridas no chão brilha forte no céu, tão próximo que parece como se Wanda pudesse tocar nas nuvens e bagunçar o azul limpo. O ar frio não deixa seu suor escorrer de seu corpo e o clima mágico a deixa absorta em todas as sensações presentes. Não é muito para ela absorver, afinal, tem se preparado durante anos para esse retorno. Ali é sua casa, é onde sua alma pertence, onde sempre pertenceu.

Ela está muito feliz por voltar para conseguir pensar sobre isso.

"Wanda! Estamos atrasados, venha logo!" Manda Clint e a garota revira os olhos, mesmo que esteja sorrindo.

Eles se olham por um momento e sorriem, não sendo capazes de verbalizar os pensamentos.

Em algum momento, voltam a correr. Wanda não lembra das trilhas, dos caminhos. É tudo muito parecido e, em seus sonhos, coisas assim estavam sempre borradas, detalhes dispensáveis como esses não eram claros, então seu psiquiatra lidera a corrida e eles correm por quase quinze minutos.

Finalmente, para a saúde de Wanda, eles param. Ela ignora a dor em seus pulmões para tentar reconhecer alguma coisa. Lembra de ter visto uma árvore ou outra, mas não mais que isso. Não depois de tantos anos. Wanda olha para Clint e ele sorri, desaparecendo atrás da enorme folha à sua frente. Wanda não pensa duas vezes antes de ir atrás dele, encontrando o campo vasto de grama verde vívida e a parte traseira de um pequeno chalé rosa salmão. Daquilo ela lembra, e ele está maior do que em sua memória.

Karma ButterflyOnde histórias criam vida. Descubra agora