Capítulo 1: I don't even know your name

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Eu não sei sequer o seu nome

Entende-se por masoquista uma pessoa que gosta de sentir dor. E eu sempre tive horror a dor física, logo não poderia ser masoquista, mas, a lógica dos silogismos não se aplica ao amor.

Uma pessoa sadomasoquista é aquela que gosta não só de sentir dor, como também de provocar dor. Ainda sim, ao contrário do que os garotos que tiveram a má sorte de se apaixonar por mim devem pensar, eu não sou sádica, não senti prazer algum em fazer eles sofrerem.

A verdade é que nunca fui capaz de retribuir amor algum, achei que nem mesmo fosse capaz de amar,  e hoje escrevo essas palavras mesmo que me causem dor, pois meu coração masoquista escolheu se torturar por alguém que eu sei bem que nunca irá me amar.

Não me recordo com precisão de quando o vi pela primeira vez. Mas lembro exatamente de quando me apaixonei. Foi há dois anos atrás...

Era o meu primeiro emprego, numa grande empresa de logística, eu já sabia que era de humanas e que não tinha muita habilidade com exatas. Você deve estar se perguntando porquê eu estava trabalhando lá.

Bem, eu não tinha experiência profissional nenhuma, não pagava faculdade e também não tinha dinheiro para nada e nem tinha idade suficiente para trabalhar, não faltavam nem dois meses para que eu chegasse a maioridade, mas, fui contratada como jovem aprendiz, só que felizmente ou infelizmente, o contrato era de dois anos.

 Mesmo assim, aceitei o emprego, não podia ser tão ruim, eram só quatro horas por dia e quatro dias por semana. Além disso, como era uma empresa de logística a maioria dos colaboradores era homem, quem sabe eu não arranjasse além do emprego um namorado?

E realmente, o que mais tinha lá era homem, mas, não era como trabalhar em um harém, alguns deles eram bem bonitos até, só que para minha tristeza, a empresa parecia só admitir homens que namorassem ou que fossem casados. 

Era raro ver um colaborador que não usasse anel de compromisso ou aliança e se tem algo que eu aprendi é que não só porque um cara não usa aliança que ele não tem compromisso.

Resumindo, não havia nada de interessante para fazer, nem para ver, no meu trabalho. Eu não trabalhava na matriz, porém, trabalhava na maior filial do país e por isso, boa parte das reuniões eram feitas lá. Mas, não se anime, os executivos que se reuniam lá, além de casados, eram velhos demais para mim.

Só que naquela semana, estava rolando uma reunião com o pessoal da matriz para discutir o novo sistema da empresa com simples colaboradores e um deles chamou minha atenção, ele era jovem, moreno e seus olhos pareciam ser claros, eu não conseguia distinguir a cor do meu lugar ou será que eram castanhos como seus cabelos?

Ah, eu esperava que fossem, não sei porque as pessoas fazem tanto drama por pessoas que tem o olho azul ou verde, quando na realidade eles não passam de olhos castanhos com defeito, ou melhor, com falta de melanina.

Eu estava com sede, então, levantei da mesa para ir à copa quando alguém abriu a porta da sala de reunião, sem me ver o moreno (sim, o mesmo que eu queria ver de perto) foi andando na minha frente, abriu a porta,  de repente, parou e segurou a porta aberta para eu passar. 

Foi naquele instante que eu mordi a língua (não literalmente, é claro) ele tinha olhos verdes, não aquele castanho esverdeado comum e sim, aquele verde claro quase azul. Ele estava sorrindo, mas naquele momento eu não reparei na sua boca, eu estava perdida naqueles mares verdes... quando voltei para terra firme, tudo o que consegui foi suspirar um bom dia. Esqueci até o que eu tinha ido fazer, só lembrei porque estava com a caneca nas mãos.

Passei o resto da manhã o observando com cuidado para minha gestora não perceber. Quantos anos ele tinha? 25? Quem era ele? Ele era solteiro? Escutei todas as conversas para ver se alguém falava o nome dele e nada. 

Será que ele era de T.I? Eu não podia simplesmente perguntar para os meus colegas de trabalho, todos eles eram homens e iriam me zuar para sempre. A única pessoa com quem eu poderia falar sobre isso era a minha prima, mas ela trabalhava em outro setor.

Bati o ponto e como de costume fiquei esperando por ela.

- Até que enfim, Thaila!

- Nossa que pressa toda é essa- ela disse enquanto batia o ponto.

- Menina, nem te conto- eu estava prestes a contar tudo para ela quando um dos meus colegas de trabalho desceu para almoçar, calei a boca na hora.

- Conta- ela disse toda interessada, ainda bem que numa fração de segundos entendeu que eu não podia falar ali, o que só aumentou o a curiosidade dela.

Passamos pela portaria.

- O que aconteceu? Vai falaaaaa- ela disse, quase me agarrando.

- Prima, veio um moreno lindoooo da matriz hoje. Ele é alto, forte e os olhos dele...

- Eram azuis como o céu?

- Não, eram verdes como o mar e eu quase me afoquei neles.

- FALOU COM ELE?- ela praticamente berrou.

-Bem, eu dei bom dia- eu acho, até hoje não sei se pensei ou se realmente disse.

- Só? Quem é ele? Ele é novo ou velho?

- Novo, mas não sei quem ele é.

-Como assim não sabe?

- Não sei, ué. Acho que ele é T.I. Ele não estava usando crachá.

- T.I. ah não, dono da empresa nós sabemos que ele não é, mas se ele estava na reunião, pode ser gestor...

-Acho que não- eu respondi, a minha chefe tinha 35, os gestores ficavam na casa dos quarenta, ele era muito novo para isso.

Semanas se passaram. Eu já tinha quase esquecido dele, quando chegou o dia da segunda reunião, no entanto, é claro que eu sendo aprendiz nem sabia quem estava em reunião. 

Estava fazendo o relatório mensal, quando minha chefe disse que tinha uma impressora para mim e pediu para que eu fosse pegar (não era uma impressora daquelas que a gente tem em casa, era uma impressora menorzinha que imprimia cupons de pedágio).

Então, a segui para sala de reunião, sem nem imaginar que o universo ia me pregar outra peça.

Entrei discretamente na sala para não atrapalhar, minha chefe procurava a caixa com a impressora na prateleira, a luz estava apagada, a única claridade vinha do retroprojetor e lá estava ele no canto da sala, nossos olhares se encontraram, porém dessa vez eu não desviei o olhar.

- Oi, tudo bem?- dissemos ao mesmo tempo. Minha gestora deixou algumas coisas caírem no chão e todo mundo virou para olhar por causa do barulho, envergonhada e sem saber o que dizer, me abaixei e ajudei ela a recolher as coisas.

- Ainda bem que isso é de ferro- comentei. Ainda bem que era de ferro? Era melhor eu ter ficado de boca fechada. Nem arrisquei olhar de novo para ele. Apenas peguei a impressora e voltei para minha mesa. O que tinha sido aquilo? Me sentei no meu lugar.

Uma coisa chamada educação corporativa, já ouviu falar? Não foi nada, ele só estava sendo educado com você mais uma vez. Disse a voz debochada da razão na minha cabeça. É que era tão estranho alguém que não fosse da minha equipe me enxergar...

Eu passei o restante do expediente com a mente à deriva, vendo aquele tom verde mar toda vez que fechava os olhos. 

Dei tchau para a minha chefe e para os meus colegas. Abri a porta com cuidado para não bater ela na cara de ninguém, quando alguns metros à frente, o vi falando ao celular.

Aproveitei que ele estava distraído para olhar só mais um pouquinho. Quando ele notou que eu estava ali, fiquei atônita, mas ele apenas me deu tchau com a mão, sorrindo, o que me fez reparar nas covinhas em sua bochecha. 

Dei tchau toda boba e desci as escadas, decidida a descobrir quem ele era.

Coração Masoquista. HSOnde histórias criam vida. Descubra agora