Hourglass - Luwoo

Chapter two

20 de dezembro de 1595

– Pare de se mexer, Yukhei, eu preciso dar os pontos. – disse um chinês alto de cabelos castanhos escuros. Era o único médico presente no navio.

– Desculpe, Kun. – Yukhei soltou um suspiro. Tiveram sucesso no ataque aos navios espanhóis, porém, alguns tripulantes saíram machucados, Wong Yukhei era um deles. Havia sido esfaqueado na perna, e não conseguiria andar normalmente tão cedo.

– Acho que você estará bem até o próximo ataque, descanse por agora. – Kun pegou suas coisas, e foi até Chenle e Renjun, eram os tripulantes mais novos, mas não deixaram de sofrer na batalha.

Yukhei pegou seu diário, se aproximando mais da luz da única vela que iluminava aquele canto, leu a última coisa deixada por Jungwoo.

"Já fazem três dias que você não escreve de volta, estou preocupado, me diga que você está bem."

O chinês sorriu, não entendia como alguém poderia se preocupar com ele, durante sua vida toda foi feito de escravo em navios pirata, trabalhando até seu corpo dar sinais de não suportar mais, e o que recebia em troca eram grãos para se alimentar, e se reclamasse, apanhava do capitão. Yukhei não se importava em ganhar um olho roxo ou duas costelas quebradas para proteger seus companheiros, tratava Kun, Chenle e Renjun como irmãos.

"O ataque foi um sucesso, outrora, tenha sido esfaqueado.
… por que estás preocupado comigo?
… Aliás, eu li seus últimos poemas, você gosta muito de flores, tenho notado."

"Você foi esfaqueado? Isso não é bom, você está se cuidando?
… eu não sei o porquê de minha preocupação, portanto, não sei lhe responder, mas saiba que prezo pelo seu bem. É bom ter alguém que se importe com você.
… Sim, gosto de flores, e contemplo seus significados, não é a toa que trabalho em uma floricultura."

"Floricultura?
… E sim, o médico do navio já cuidou de mim, só preciso descansar um pouco."

"É um lugar em que se vendem diversos tipos de flores e plantas.
… você quer que eu te dê um tempo para descansar?"

"Me parece ser um lugar bonito e agradável, então. Pelo menos agora sei mais alguma coisa sobre você.
… meu descanso é falar com você, Kim Jungwoo."

Yukhei não tinha discernimento do porquê de estar sentindo suas bochechas quentes, mas gostava daquela sensação. E esperava que Jungwoo também.

"Kim Jungwoo, agora é a sua vez de me dizer como você é."

"Você é estranho, Lucas, muito estranho. Você me deixa envergonhado com as coisas que fala.
… como eu sou?
… espera! Eu quero tentar algo."

"O que você está tramando?"

"Abra na última página do diário, não mostre isso para mais ninguém.
… Esse sou eu."

Yukhei fez o que o outro garoto mandou, e para a sua surpresa, encontrou um pedaço de papel, não sabia muito bem identificar do que era feito, no verso estava escrito: "para o melhor marujo que já conheci." O chinês deu um sorriso de orelha a orelha.

Virando-o, Yukhei viu o rosto de um rapaz magro, com roupas que, na visão do chinês, eram estranhas de mais, ele observou cada detalhe da fotografia que, até então, para ele, não era uma fotografia. Kim Jungwoo tinha um sorriso encantador, o chinês passava o polegar pelo rosto do coreano. Estava feliz em saber como o rapaz do futuro era.

"Como você é loiro? Nunca havia visto um asiático de cabelos claros antes."

"É tinta, meus cabelos são escuros naturalmente."

"Tipo tinta que usam nos tecidos?"

"Parecido com isso."

"Posso guardar essa foto comigo?
… você é muito bonito, Kim Jungwoo."

"Pode.
… e obrigado, novamente você está me deixando envergonhado, Lucas."

"Não foi a minha intenção, perdão."

"Está tudo bem, não se preocupe."

Yukhei não parava de olhar a foto do outro menino, soltava sorrisos bobos. O chinês já era um adulto, mas era bobão, sua inocência era visível, contagiava o coreano.

O chinês escondeu a fotografia rapidamente entre as páginas do diário quando notou o capitão se aproximando.

– Tripulação, vamos fazer uma parada nas ilhas virgens britânicas, iremos ficar dez dias. Até mesmo os feridos terão que trabalhar. – Francis Drake subiu novamente para o timão do navio, sem ter mesmo esperado uma resposta.

O chinês pegou novamente o diário, voltando a escrever.

"Vou para as ilhas virgens britânicas, creio que não poderei escrever-te por enquanto, pois terei que prestar trabalho."

"Quanto tempo você ficará lá?
… e espera, você está machucado!"

"Apenas dez dias.
É trabalhar ou apanhar e ficar sem comida."

"Fique bem, por favor."

"Eu ficarei. Escreva mais poemas enquanto eu não estiver."

"Tudo bem."

"Eu gosto muito de você, Kim Jungwoo."

"Por favor, Lucas, pare de dizer essas coisas, é impossível gostar de alguém que nunca se viu na vida."

"Eu já te vi por meio da pintura que você mandou."

"Eu digo pessoalmente, face a face.
… e o que te mandei não é uma pintura… okay, continue achando que é uma pintura."

"Estou pondo toda a sinceridade em minhas palavras, ninguém nunca se preocupou comigo antes, estou feliz por ter um amigo, mesmo que eu não possa tocá-lo, obrigado por existir, Kim Jungwoo."

"Obrigado por ter existido, Wong Yukhei."

O chinês ainda estava vivo, ali, carne e osso, mas ele entendeu o que o outro menino quis dizer.