Caso 1 - A página nove (2/2)

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Lawrence deixou um bilhete mental para si mesmo a respeito da natureza humana: "as pessoas ficam incomodadas ao ver um adulto encarando uma máquina de garras". Foram quinze minutos de olhares intensos entre Lawrence e um urso de pelúcia em particular ― e olhares curiosos dos clientes da sorveteria sobre o detetive. Para a tristeza do ruivo, o urso não lhe revelou seus segredos.

Aqueles bichos de pelúcia não pareciam possuir nada de especial e Knopp ainda não via em que eles seriam úteis para quem sequestrou a mulher de Daniel. Por que um sequestrador exigiria algo como aquilo?

Ele sentiu uma puxada de leve em seu casaco e olhou para trás. Viu que uma garotinha, de aspecto japonês, de cerca de sete anos, estava atrás dele, segurando algumas moedas. Entendendo o pedido implícito, ele chegou para o lado e a deixou passar. A menina sorriu e colocou uma moeda na máquina.

Lawrence ficou algum tempo vendo ela tentar pegar um pássaro de pelúcia vermelho. Ela tentou cinco ou seis vezes antes de desistir, frustrada. Os pais da menina passaram a mão em sua cabeça, consolando-a por não ter conseguido seu brinquedo, mas claramente felizes por ela ter desistido. Aquela brincadeira era muito cara.

"Isso é uma perda de tempo", pensou o detetive. Um vislumbre de ideia passou por sua cabeça, mas logo sumiu. Confuso por um momento, virou-se para a dona da sorveteria.

— Por favor, onde fica o zoológico?

• • •

"A página dizia roubar ou pegar?"

Daniel Lemoine tentava se lembrar das palavras do sequestrador enquanto esperava na fila da farmácia. Ele não era um homem totalmente honesto, mas nunca havia roubado nada antes e não estava nem um pouco satisfeito em fazer daquela a primeira vez.

Será que ele teria mesmo de roubar o tal alúmen? Não poderia simplesmente comprar? Daniel olhou em volta. Não parecia haver ninguém observando-o, ninguém que se assemelhasse com um sequestrador.

Ele não tinha recebido nenhuma indicação de uma farmácia específica, então pensou que não haveria problemas em ser um cidadão decente e pagar por aquilo. Mas talvez...

Dois policiais apareceram à porta naquele instante, o que contribuiu — e muito — para sua decisão.

• • •

O carro de Daniel ainda estava estacionado em sua vaga quando Lawrence chegou ao seu destino.

O zoológico já havia fechado por causa do horário, mas não foi difícil convencer o guarda de que era um detetive sério — o que era uma novidade para Lawrence, mas ele não reclamaria. Foi preciso apenas mostrar ao homem as cartas de Dawil e algumas dúzias de por favores para que, por fim, o guarda concordasse em deixá-lo passar. As únicas condições eram que não fizesse barulho para não incomodar os animais e que estivesse de volta em vinte minutos.

Lawrence aceitou os termos, sabendo que vinte minutos não seria tempo suficiente para fazer o que pretendia. No entanto, era aquilo ou nada.

Ele andou por algum tempo até encontrar a seção dos suricatos. O habitat consistia, em resumo, de uma área terrosa abaixo dos pés do detetive, decorada com pedras e vários buracos no chão. Não era das seções mais atraentes do zoológico.

Lawrence nunca tinha visto um suricato na vida, e aquela não foi a primeira vez. Eram animais exclusivamente diurnos, como o detetive descobriria ao pesquisar na internet. Isso, porém, apenas algumas horas mais tarde, o que fez com que perdes preciosos minutos tentando observar um.

A maioria dos espécimes estava dormindo, não havia visitantes e as pantufas que o detetive usava abafavam o som de seus passos. Apenas silêncio.

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⏰ Última atualização: Jul 28, 2019 ⏰

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Cartas a Dawil - Série Law [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora