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O despertador toca, na verdade o celular, eram 6:30 da manhã. Mesmo Recife sendo uma cidade muito grande, Luís tinha sorte de morar perto da escola. Os olhos dele estavam ardendo o que era comum nos dias em que dormia pouco, ele já não dormia 8 horas por noite faz muito tempo. Na verdade, parecia que seu corpo o controlava para sempre dormir depois da meia noite, mesmo que ele tentasse, não dormia mais cedo. Não era nem insônia, simplesmente o tempo nunca o ajudava, acontecia o mesmo quando ele tentava chegar cedo aos lugares.  O quarto estava escuro por conta da cortina blecaute, e a luz do celular o deixou cego por uns segundos até ele abaixar o brilho da tela.
Foi semiacordado para o banheiro e a água quente desceu pelo seu corpo de maneira relaxante. Vestiu sua farda branca e se encarou no espelho do quarto, os olhos estavam com duas olheiras que cada dia se tornavam maiores. Ele gosta do uniforme da escola, não por ser bonito, mas porque simplesmente significava que ele poderia economizar suas roupas normais, além disso, o uniforme o escondia no meio da multidão, não gostava de ser notado. 
Era abril e tinha acabado de passar as provas bimestrais, época que a escola era só um ambiente que o mantinha preso e quase não fazia uso de seu cérebro. Luís era um aluno mediano, não tirava notas baixas, mas não era nada extraordinário. Porém na escola estadual que ele frequentava, qualquer aluno mediano se tornava um aluno nota 10, pois as provas eram muito fáceis.   Somando o fato de que ele estudou todo o fundamental 1 em escola particular,  era um período onde seus país se preocupavam mais com o seu futuro.
Se olhando um pouco mais no espelho, vendo o rosto como um todo além das olheiras, Luís se viu feio. Para falar a verdade, ele se achava feio a maior parte do tempo, mas ele realmente estava assustador. O único período que Luís se achava bonito era quando estava com o cabelo cortado, ou seja, 5 dias por mês.  O som de notificação o tira da hipnose que o espelho tinha o jogado. Era Miguel, uma figurinha de algum cachorro com efeito deformado que deixava ele com dentes grandes, em seguida um “Bom dia boy, vai pra escola hoje?”. Miguel é o melhor amigo de Luís, se conhecem há 6 anos, não sabia da existência de Miguel até o conhece no sétimo ano onde soube que morava na mesma rua que ele.
“Vou, passo aí às 7”, tentaria pelo menos.
Na cozinha, a mãe dele estava na mesa mexendo no notebook, na verdade ela só fazia isso o tempo todo. Ela é advogada.
-Bom dia filho- disse sem tirar os olhos da tela- eu sei que você foi dormir tarde de novo, eu vi o seu visto por ultimo.
Na verdade ele nem se importava com isso, pois ele não queria esconder a sua rotina de sono de ninguém. Existem coisas muito melhores para serem escondidas.
-Quanto a senhora recebe pra me espionar? Diga que eu pago o dobro. –Luís disse sem sorrir.
- Eu tô falando sério Luís, sono é importante pra saúde, não basta comer somente, o cérebro também precisa de um descanso!
-Já bastam as 9 horas que eu fico sem usar ele na escola.
Era incrível como a mãe dele parecia se importar com ele às vezes, mas sem tirar os olhos da tela do computador, ele era sempre o segundo plano.
Saiu de casa exatamente às 7 horas, mais um horário não cumprido para a conta. Subiu a rua para passar na casa de Miguel que já estava do lado de fora quando ele chegou lá, que sabia do costume de atrasar do amigo e o esperava mexendo no celular descontraído.
-Ei doido, eu ontem comecei a assistir uma série nova, muito boa, mas não vou dizer.
Miguel era um pouco mais gordo que Luís, e muito mais claro que ele, eram quase opostos, porém Miguel era a única pessoas que Luís de identificava quase que totalmente.
-Não é nenhuma sobre policiais não é? Caso seja não é melhor nem me contar porque seu gosto por essas serie é horrível.
- Não, não é série policial, e mesmo que fosse eu não iria te contar só a contarei quando eu terminar. E você respeite minhas séries policiais, eu não tenho culpa se fui feito com gosto superior ao seu.
- Tentarei parar de procurar lógica em bingo de macaco. Mas porque tu não vai me dizer a série? Eu poderia assisti com você também.
-Na verdade eu até poderia dizer, mas você tem que me garantir que não vai me dar spoiler.
-Tu não queria dizer só  porque ta com medo de levar spoiler? -Miguel tinha o costume de dar spoiler aos outros propositalmente, as vezes ele nem assistia uma serie e ia pesquisar sobre ela somente para ter spoilers para contar- Na verdade, não me diga, eu não vou assistir mesmo. Tô sem tempo.
Após uns 10 minutos andando, eles chegaram à Avenida Caxangá, que era onde ficava a escola. E pararam no semáforo esperando ele abrir para atravessarem.
-Cara você tá horrível, -Miguel disse- parece que não dorme tem uns 5 anos.
-Eu to tentando dormir mais, porém meu corpo faz questão de me atrapalhar.
-Sabe o que você poderia fazer? Ler antes de dormir, sempre me da sono ler.
O sinal abiu
-Na verdade eu leio até tarde meu boy. Porém meu problema não é insônia eu realmente não consigo é dormir cedo. E nem venha zoadar comigo, porque eu tava falando com tu ontem á noite e era bem tarde.
Chegaram na escola era exatamente 7:30. Entraram e foram para o segundo andar que era onde ficavam as salas das turmas do terceiro ano.  Era aula de geografia, Luís odeia a matéria, porém a sala inteira se divertia com a maneira da professora falar, mas riam sempre sem ela ver. Era um dia um pouco nublado, o que era comum em Recife, e mesmo estando na primeira aula Luís já estava muito cansado. Mais ou menos na metade da aula, uma moça da secretaria veio até a porta da sala e chamou a professora, depois de 1 minuto de conversa do lado de fora da sala, a professora entra com um sorriso no rosto e com uma menina seguindo ela. A menina era assustadoramente branca, e com algumas sardas perdidas no rosto, além de ser ruiva. Usava um moletom cinza, sapato preto e óculos bonitos. Após ver a menina a sala inteira ficou em silencio exceto por uma ou outra risadinha maldosa comum a turma do fundão.
- Turma- disse a professora com uma voz retumbante e caracteristicamente engraçada- Essa é nossa nova aluna, Alice Anderson. Espero muito que vocês a recebam muito bem, pois ela veio de muito longe. Vamos todos dizer bom dia à Alice.
-BOM DIA ALICE. - a sala disse em couro.
A professora indicou um lugar para a Alice sentar ao lado da parece direita e ela foi sem olhar para a turma. Após isso, a aula correu normalmente, pelo menos a professora tentou. As meninas que estavam atrás de Luís já estavam cochichando a respeito de Alice. E uns meninos que foram se sentando em cadeiras próximas das dela já tentavam puxar assunto, sem sucesso.
-De onde será que ela veio?-disse Miguel.
-Não sei, mas tenho quase certeza que veio do sul, ela é muito branca. - e Luís também a achou muito bonita.
-Verdade, será que eu consigo o número dela se eu pedir?
- Você sendo tão charmoso, porque ela ousaria recusar? A propósito, eu soube que as meninas do sul tem o costume de dar o número delas pra qualquer cara, principalmente se for nordestino, você deveria tentar.
-O que seria do mundo sem o seu humor- disse ele com desdém-, fique tranquilo que eu tenho minhas fontes, logo logo eu estarei a par de tudo sobre a individa sujeita.
Miguel se virou pra trás e começou a conversar com as meninas das cadeiras vizinhas. Luís olhou por alguns segundos para as costas de Alice, que era escondida pelas suas imensas madeixas carmesim. E depois se viu perdido em pensamentos imaginando como seria se ele tivesse os cabelos daquela cor sendo negro, ia ficar a cara do curupira, ou algum vilão de fantasia. E de repente a sua viagem foi interrompida por Miguel.
-Santa Catarina!
-O que?
-A menina, Alice, é de Santa Catarina. Parabéns, você acertou.
-Ah sim,-disse Luís destraído- misericórdia, como vocês descobriram isso tão rápido?
-As meninas fuçaram o nome dela no instagram e acharam, e também ela gosta de cachorros, e é bem religiosa.
Luís ficou assustado com o poder investigativo das garotas da sala, mas quando era pra procurarem alguns arquivos que os professores enviavam para a turma no grupo do WhatsApp, a maioria parecia ser cega. O resto dia, a turma viu-se imersa no incrível objetivo de saber sobre a garota nova. Nos intervalos Luís notou que diversas pessoas da sala tentaram ir falar com ela, e sem sucesso voltavam para seus lugares nas panelinhas dos corredores. No fim do dia, as 17:30, em frente a escola junto ao imenso fluxo de pessoas loucas para deixar a escola, Miguel apareceu do meio da multidão.
-Luís, tu vai fazer o que hoje a noite?
-Não sei, talvez nada. Só quero comer, ler, fazer o máximo de nada possível.
-Que tal bater um game hoje a noite? –Miguel parecia um pouco agitado demais para um fim de tarde- Amanhã eu não tenho aula.
-É, mas eu tenho. -Miguel iria ao médico no dia seguinte- Mas talvez, qualquer coisa chama no Discord.
-Cara- continuou Miguel- na verdade você precisa dormir, é melhor nem jogar. Ah sim, tu nem ficou curioso com Alice, a menina nova, o que foi, achou ela feia ou oque?
-Nada, só tenho algo mais importante pra me preocupar, minha vida.
E tinha Luís de fato tinha muito com o que se preocupar.

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