Os Bugados - Mayara

Capítulo 2 - Samuel

Os Bugados
Capítulo 2 - Samuel

Samuel era considerado estranho para a maioria dos seus colegas de sala de aula.

Mas Samuel desconsiderava completamente a opnião de qualquer pessoa que conhecia, principalmente dos seus colegas de sala de aula, logo, não fazia diferença.

Ele é jovem, negro e rockeiro. Isso, e a falta de compreensão alheia moldou essa sua filosofia de vida por muitos anos.

Seu melhor amigo sempre foi seu fone de ouvido.

Está na sala de aula agora, há mais de uma hora que nenhum professor dava as caras.

Falta de organização do colégio, pensou.

Ele senta no fundo, é claro. Sossegado, enquantos todos os seus colegas ao redor se comportavam como macacos. Aquela anarquia natural, da falta de um adulto presente.

Ele alterna entre observavar tudo em volta e focar na música. Procurando se desligar até de seus próprios pensamentos.

De repente, um outro aluno senta do seu lado e diz algo que ele não consegue ouvir.

- Oi? - Samuel tira o fone de uma das orelhas e pergunta.

- Eu perguntei se tu é roqueiro. É que tu vive de preto num calor desse, e tá sempre no teu canto, aí eu queria saber.

- Sou sim. E você?

- Eu não curto essas parada não, tá ligado? Eu sou da igreja. Escuto funk. Um pagodinho. Tu já foi pra igreja?

- Já. Não me dei muito bem com as pessoas de lá. Vivem querendo me mudar.

- Hi, fica assim não, meno. Cola com a gente que tu esquece rapidinho essa parada.

- Como assim?

- Ué. Tu é roqueiro porque não tem amigos, não é? Meus amigos alí querem te conhecer, pô.

Samuel olhou então para esses amigos, em um grupo no canto oposto da sala, rindo muito e olhando pra ele e tentando ser discretos.

- Todos eles curtem muito funk e putaria, não é?

- Claro pô, isso que é bom!

- Perdão, eu dispenso.

- Qual foi, meno! Vai desmerecer?

- Me desculpa de novo, mas acho que vocês não são o tipo de amigo que eu procuro, no momento. Eu nem sei se tô procurando amigos...

- É porque tu não tem amigo nenhum, menó. - O garoto diz e levanta de forma abrupta, e volta para seu grupo.

Todos começam a falar baixo e dar risada, do Samuel.

Ele coloca o fone de volta na orelha e volta pra parte da música que perdeu, e claro, a tentar não pensar em nada.

Nesse momento, algo mais estranho do que o normal aconteceu.

Ele continua ouvindo aqueles garotos falando alto, até mais alto do que a música.

Tirou os dois fones e olhou pra eles. Pôs os fones de volta, e não ouvia eles falando ainda.

Dizendo coisas maldosas, sobre ele.

Tentou ignorar por algumas estrofes, mas antes do refrão já tirou os fones de novo, e se virou, pronto pra gritar pra calarem a boca.

Mas quando reparou bem naqueles garotos, percebeu que não estavam falando mais.

Samuel cerrou os olhos e sentiu um calafrio, tipo quando você vê uma ilusão de ótica e seu cérebro buga. Olhou bem firme, mas sem ser percebido, para aquele garoto incoveniente que falou com ele agora há pouco.