Capítulo 4 - Matheus

2 0 0
                                    

Sala da diretoria.

A cadeira acolchoada da diretora, era seu trono. Sua instituição de ensino era seu reino a governar com mãos firmes, pois os camponeses, são também a maior ameaça. O mais difícil em governar as pessoas, ela pensa, é quando se torna necessário proteger a plebe, deles mesmos.

E com essa classe inferior e geralmente subestimada, ela se referia aos alunos.

Havia, agora mesmo, três deles sob custódia na sala ao lado, esperando um julgamento preliminar. Os relatos sobre suas acusações são contraditórios. São fantásticos, na verdade. O que pensar disso?

Mas seja o que tiver acontecendo, eles irão falar. São crianças.

A vice-diretora abre a porta sem bater e corta sua concentração.

- Desculpe, diretora. Os alunos já estão esperando, peço para eles entrarem? Devemos chamar os pais deles?

- Ainda não, prepare as gravações das câmeras na sala de vídeo. Depois de falar com os garotos eu quero ver eu mesma, o que aconteceu.

- Sim, senhora!

A Vice mas jovem e disposta dá meia volta com pressa e dá um grito de susto no corredor.

A diretora levanta, alguns funcionários se aglomeram e há um pequeno alvoroço.

Um PM de ronda estava carregando outro. Esse outro estava segurando um braço quebrado, e gritava de dor.

- Ele quebrou o meu braço! Como ele fez isso? Tá doendo muito!

- Calma, amigo. Alguém chama um médico aqui, por favor.

Como figura de autoridade, a diretora manda a Vice-diretora ligar para os médicos e levar o homem para uma sala onde haja primeiros socorros a serem feitos.

Mas assim que o oficial abatido havia sido levado para longe do seu parceiro que o carregava, a diretora o chama em seu escritório e pergunta o que houve:

- Tem dois alunos atrás da quadra, senhora. Um casal. Alguns alunos disseram que viram eles com uma garrafa. Quando o oficial Martinez se aproximou do garoto, ele girou o braço dele pra trás! A senhora tinha que ter visto!

- Como ele fez isso?

- Eu não sei. Mas era bebida alcoólica. E a garota com ele parecia, bem, a namorada dele.

- Oficial Rubens, eu sei que seu parceiro foi ferido em serviço e todos os cuidados necessários estão sendo providenciados nesse momento, mas não podemos permitir que nem por um minuto a mais, aquele garoto continue manchando a imagem dessa escola, e desrespeitando a minha autoridade, e a do senhor. Chame todos os homens que tiver agora mesmo. E tragam aquele garoto aqui.

O policial, treinado militarmente a anos para analisar e neutralizar ameaças, não tinha argumentos para com as ordens daquela mulher. Ele apenas se retirou em silêncio da sala dela, e no corredor, ouvia os gritos de seu parceiro.

- Chagas! O nome dele é Matheus Chagas!

...

Onze da manhã é um período singular do dia. Claro, hora e manhã são conceitos arbitrários, mas nessa hora rola uma vibe diferente. O recreio já acabou faz tempo, mas ainda falta esse mesmo tempo para a saída e o almoço. É um grande vazio no relógio. Ótimo pra se ficar entediado e sentir vontade de morrer.

As salas de aula fervilhavam dentro do grande prédio de concreto, com tantos alunos, professores e conhecimento. Tanto quanto estava vazio e silencioso aquele pátio abaixo deles, aquela quadra e todo aquele campo gramado brilhando forte ao sol.

Os Bugados - MayaraWhere stories live. Discover now