|| Capítulo 3 ||

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Jisung ainda estava um tanto quanto abatido quando destrancou a porta de casa e deu de cara com a sala escura e vazia da residência. Em dias normais, sentiria falta do barulho dos utensílios de cozinha sendo manuseados enquanto sua mãe já dava início às preparações do jantar, assim como do chiar da tv da sala, que ela sempre deixava ligada para poder ouvir às notícias enquanto cozinhava. Sentiria falta de ver a mais velha aparecendo na entrada da cozinha, sorrindo e com seu avental cor de rosa, enxugando as mãos em um pano de prato qualquer, antes de pendurá-lo em seu ombro e seguir até o filho para lhe dar um beijo e perguntar como havia sido seu dia.

Naquele final de tarde, no entanto, o Han estava aliviado por não encontrar uma alma viva sequer em casa. Sabia que os pais estariam trabalhando até mais tarde naquele dia, haviam falado sobre isso durante o café da manhã e, embora não fosse o maior fã de ficar em casa sozinho, envolto no silêncio, aquela lhe parecia a melhor alternativa, já que não queria, de maneira alguma, explicar para nenhum dos mais velhos o motivo de seus olhos vermelhos e de suas bochechas ainda mais inchadas do que o normal.

Trancou a porta de entrada e nem se deu ao trabalho de acender as luzes da sala. Deixou seus tênis um tanto quanto surrados no pequeno armário que ficava ali no hall de entrada, pensando que realmente estava precisando comprar um novo par, colocou suas pantufas azuis de andar em casa, e seguiu para o segundo andar, indo direto para seu quarto. Deixou a mochila e os livros em sua escrivaninha e, por fim, sentou-se em sua cama, soltando um longo suspiro.

Conversar com Hyunjin depois das aulas havia sido, de certa forma, um alívio. O amigo, sempre muito sensato, ajudou o Han a entender que nem tudo estava perdido por conta daquela notícia. Tinha pais amorosos que com certeza o apoiariam dali em diante, mesmo que no início pudessem reagir um pouco mal à notícia – coisa que, segundo Hyunjin, ele não tinha como saber se realmente iria acontecer, afinal, não se pode prever com exatidão a reação das pessoas. Podemos até especular, mas nunca teremos certeza. "Princípio básico da análise do comportamento, Jisung. Você mais do que ninguém deveria lembrar, não é essa a sua matéria favorita?" disse o amigo diante do olhar de pânico do outro.

Hyunjin também disse que essa ideia se aplicava aos seus medos referentes à Minho, e a sua possível reação. O Lee vinha realmente se esforçando e se mostrando cada vez mais como um cara decente e realmente interessado em Jisung. Claro que ninguém quer receber a notícia de que vai ser pai assim, logo no início de uma relação que nem rotulada está, mas isso não queria dizer que o Han poderia ir enchendo a cabeça de minhoca e inventar de esconder a verdade do mais velho por muito tempo. Se ele reagisse mal e rejeitasse tanto Jisung quanto o bebê, então era sinal de que ele não valia à pena. Mas Hyunjin duvidava que isso acontecesse, e, Jisung, mesmo não entendendo como o amigo parecia ter tanta confiança em uma pessoa que nem ele, nem o próprio Jisung conheciam tão bem assim, resolveu que talvez fosse melhor escutar o que ele estava dizendo. Afinal, Hyunjin sempre teve ótimos conselhos.

Foi despertado de seu pequeno transe quando sentiu, mais uma vez, seu celular vibrar dentro do bolso traseiro da calça jeans que usava. Não precisou olhar para saber que era Minho quem lhe ligava pela quinta vez naquele dia. E aquela seria a quinta vez que Jisung deixava a ligação cair na caixa postal.

Veja, não é que Jisung estivesse de fato ignorando Minho, fugindo dele ou pensando em besteiras como sumir do mapa e não contar nunca ao mais velho sobre o bebê. Claro que, talvez, nos primeiros minutos de descoberta, o mais novo quisesse sim sumir do mapa e tudo mais, porém sabia que não poderia ser injusto ou infantil àquele ponto. Era adulto, sabia o que estava fazendo quando deu uma chance à Minho, e sabia o que estava fazendo quando transou com ele. Claro que esquecer a camisinha foi um deslize que não deveria ter sido cometido por nenhum dos dois, mas já estava feito, e agora as consequências estavam aí. Jisung sabia que não deveria esconder a descoberta de Minho, mesmo que um lado mais irracional seu insistisse em lhe dizer que o mais velho não estava sendo cem por cento sincero ao dizer que queria sossegar e tentar algo sério com ele, e que a notícia de um bebê apenas faria o outro sair correndo de si, deixando-o com um coração quebrado e com um problemão para cuidar. Sabia também que talvez – muito provavelmente na verdade – estava sendo injusto ao pensar aquelas coisas de Minho, mesmo que raramente, pois desde que haviam começado a sair, há praticamente um mês, Minho não tinha feito nada a não ser mostrar o quanto tinha falado sério na festa.

Small Bump || MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora