Eu deslizava rapidamente a mão pelo teclado, sabia que em alguns instantes depois de enviar aquela maldita mensagem eu me arrependeria, não que aquilo realmente importasse, já que em 12 horas meu vôo seria anunciado e eu finalmente deixaria todos os meus fantasmas pra trás nessa droga de cidade. As frases iam tomando forma e o peso que eu carrego à tempos sobre meus ombros pareciam pouco a pouco sumir. Não me lembro como vim parar aqui -não que isso não aconteça com frequência, porque acontece- geralmente qualquer exposição ao perigo me faz pensar se realmente valia a pena eu ir embora sem dizer a verdade, e cá estou, fazendo novamente a burrada de agir por impulso sem pensar nas possíveis consequências, ele riria se me visse nesse estado -mãos tremendo, o suor escorrendo pela minha nuca, os pés batendo no chão a melodia de uma música que eu tinha ouvido essa manhã no rádio Céus que cena patética!.
Então eu apertei o enviar e no segundo seguinte -como eu já havia previsto- veio o arrependimento, eu queria me enfiar em buraco no chão e quem sabe aparecer no Japão como nos desenhos animados, tudo seria tão mais fácil, mas como estamos falando de mim, o destino parecia ter gosto por fazer tudo sempre na maneira mais complicada -e por tabela, mais dolorosa. Os dois traços indicavam que a mensagem já tinha sido entregue, então eu desejei com todas as minhas forças que ele não estivesse perto do celular, porque eu não suportaria lidar com aquela situação no momento Burra, burra e burra!!! eu poderia ter mandado a mensagem do avião, mas uma pequena parte do meu ser tinha a esperança de que talvez ele fosse corresponder dos meus tolos sentimentos, então eu enviei, enviei a mensagem dizendo o que sentia, pra no fim, mesmo que ele correspondesse, eu fosse partir, e de novo o destino parecia ser o especialista em fazer a minha vida confusa e complicada, Liona diria para eu parar de culpar o senhor destino pelas minhas burradas épicas, e talvez ela estivesse certa, porque eu faço das coisas complicadas, eu sabia que se tivesse dito o que sinto mais cedo, a gente poderia ter dado certo, quem sabe agora nós estaríamos indo embora juntos -se bem que não, mais apegado por essa cidade que minha mãe, só ele, e jamais que ele deixaria pra trás a velha Belk Village, a cidade mais conhecida pelas suas deliciosas tortas de laranja.As horas corriam, meu tempo nesse lugar se extinguia, em meia hora eu estaria embarcando para outro país e ele ainda não tinha visto a mensagem, talvez isso fosse um sinal de que eu deveria esquecer tudo e seguir em frente, e sozinha naquele aeroporto eu desejei ter contato ao menos para Liona que eu partiria essa noite, mesmo que isso significasse que ela não pararia nem por um instante de tentar me convencer a ficar, seria bom um ombro pra chorar e quem sabe alguém pra me dar um sermão por ter sido tão medrosa por não ter admitido logo o que eu sentia, ela é esse tipo de pessoa, aquela que seca suas lágrimas e depois joga na sua cara que talvez a culpa fosse sua.
E como se ela sentisse que eu estava falando dela, vi seu nome brilhar na tela no celular com uma foto de nós duas fazendo alguma graça na noite da formatura.-Liona, isso são horas de criança estar acordada? _sabia que ela estariam revirando os olhos nesse momento.
-Nós duas sabemos que você é só alguns meses mais velha, então se controla aí. Tá em casa? Preciso falar com você. _parei de respirar, o que eu iria falar? Meu coração começou a bater mais rápido, eu não sabia mentir, não pra ela_ Alô, você tá aí?
-Sim, tô sim... Pera, não, eu não tô em casa.
-Tá aonde então? Não vai me dizer que confessou seu amor pelo rapaz de olhos azuis e não me contou? _seu tom pincava ironia, e eu sabia que dizer a ela que nunca antes tinha visto olhos tão bonitos como os dele teria um preço, e ao invés de explicar isso pra ela, me contentei em soltar uma risada baixa, mas então a ficha caiu, eu estava partindo.
-Eu tô indo embora, e antes que você comece o discurso de que eu fui injusta em esconder isso de vocês, peço só que veja as coisas pelo meu ponto de vista, e se você ainda assim quiser me berrar verdades, eu vou ouvir de cabeça baixa, porque como eu disse, são verdades. _ouvi um bufar do outro lado da linha, e com meus anos de experiência sabia que ela estava furiosa, mas ela me surpreendeu com a fala seguinte...
-Em quanto tempo vai sair o seu vôo? Tô indo pra aí...
Liona estava aqui fazia dez minutos, e a primeira chamada pro meu vôo seria feita em cinco, e ela ainda não parava de gritar sobre como eu havia sido uma idiota de primeira e depois da vergonha que ela me fez passar, me fez prometer ligar todos os dias, e vir visitá-la nas férias de inverno, coisa que eu já tinha planejado fazer, mas preferi não falar isso pra pessoa irritada do meu lado. Contei pra ela da mensagem e tive que impedir ela de ligar na casa dele dizendo que eu estava indo embora e pedir gentilmente -ou na língua dela, gritar ordenando que ele pegasse o celular- e visse a maldita mensagem.
Todos os passageiros para Londres se apresentar no portão de embarque 2
Ela me encarou com algumas lágrimas escorrendo em suas bochechas gordinhas, abracei ela forte, sentiria falta daquela desmiolada, agora éramos duas sentimentais chorando muito no meio do aeroporto. E depois de muitas lágrimas e promessas de futuras viagens, eu fui para o portão de embarque, entreguei os documentos para a mocinha na porta e continuei andando, mas então, no meio do caminho meu celular apitou, e naquele momento uma lágrima pesou não só no meu rosto, mas no meu coração.
"𝐌𝐞 𝐝𝐞𝐬𝐜𝐮𝐥𝐩𝐚"