Por mais que eu e Agatha gostássemos das coisas planejadas e organizadas, desde a gravidez de Catarina entendemos que podemos ser muito bons no improviso, porque a maior parte do tempo com a nossa filha era assim, sem roteiro, fora do script. Cata é uma menina maravilhosa, desde o início, mas nos últimos meses ela nos exigia bastante equilíbrio.Enquanto eu viajava a trabalho Agatha comentava diariamente em nossas conversas: muda o ritmo, mas Catarina segue nos dando seus bailes diários. Eu ria, considerando uma pitada de exagero no tom de minha mulher, mas desde que voltei pra casa e assumi os cuidados de nossa pequena, quase que integralmente, entendi que Agatha não podia ser mais realista. Nossa filha crescia a cada dia e para dar conta de suas dúvidas e a necessidade de limites que sempre batiam à porta, nós dois precisávamos ser rápidos e amadurecer também. Não tínhamos mais uma bebê em casa.
Finalmente o dia de nossa campanha em família chegou. Seria um dia de muitas fotos e gravações em Angra, na beira da praia, para uma linha de protetor solar e nossa filha não podia estar mais empolgada. Tanto que dispensou sua habitual manha matinal e nos tirou da cama, antes mesmo do despertador tocar.
No caminho para a locação Catarina não podia se conter e levava um papo animado com minha mãe, que nos acompanhava, enquanto eu e Agatha observávamos, pelos retrovisores.
— Vovó? Você sabia que meu pai dirigiu por mais de doze horas pela África e que depois disso ele ainda pulou de bungee jump com a minha mãe? — ela disparava sem tomar fôlego, enquanto a vó concordava enchendo-a de carinhos — E a minha mãe pulou primeiro, porque ela é muuuito corajosa e eu vou pular de bungee jump também, porque eu sou igualzinha a ela e o meu pai? — disse mexendo as mãozinhas e arrancando o nosso riso.
Tirei uma das mãos do volante, enlaçando-a com a de Agatha, que me lançou um sorriso e um olhar de cumplicidade. A felicidade de Catarina e o orgulho que ela expressava em se parecer com nós dois, sempre nos afetava e derretia nossos corações. Éramos rendidos por aquela pequena tagarela.
— Vovó Ana, eu estou tão feliz que você vai acompanhar minha estreia!! — Catarina seguia sua explanação, balançando as perninhas e pondo as mãos no coração — Mas você acredita que eles não mandaram meu texto vovó?
Minha mãe ria, ao lado da neta, enquanto reforçava uma expressão de incredulidade para o que a pequena lhe dizia.
— Eu queria estudar, como os meus pais fazem. Pintar as letrinhas com as canetinhas coloridas como a minha mãe e escrever as coisas num caderno como o papai... mas o meu caderno ia ser mais bonito! Mãe eu quero um caderno das princesas, ou de unicórnio pra estudar as minhas cenas! — pediu ansiosa.
— Ah, pronto! — Agatha respondeu em meio às nossas gargalhadas e sob o olhar questionador de nossa filha.
— Vocês estão rindo, mas como eu vou ser uma atriz capoeirista se não mandam meus textos? Eu não sei o que é pra eu falar!
— Calma filha! - falei vendo-a, através do retrovisor, fazer o bico da mãe e cruzar os braços. — Talvez eles não te mandaram o texto porque sabem que você é uma menina de cinco anos, que ainda não aprendeu a ler. — observei ela relaxar a expressão sem perder o dengo no olhar, herdado de Agatha, que me aquecia o coração.
— É por isso que o papai e a mamãe vão estar contigo, filha. — Agatha enfatizou. — Nós dois ficaremos com os textos e roteiros e você vai brilhar como atriz capoeirista, o que acha? — nossa pequena sorriu, ao receber uma piscada da mãe e coçando os olhinhos foi dando mostras que o tempo de estrada, até ali, já lhe convidava para um cochilo.
Foram mais cerca de duas horas de viagem e chegamos ao resort que nos serviria de locação por aquele dia, Catarina continuava dormindo agora no colo de Agatha, que acompanhada de minha mãe foi diretamente para o quarto reservado para nós, enquanto eu falava com as pessoas da produção. Gravaremos por todo o dia de hoje e metade de amanhã, e eu já estou começando a me preocupar com o fato da pequena não estar tão acostumada com o nosso ritmo. Mas já estava tudo acertado e ela estava feliz demais, vai dar certo.
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Catarina
FanfictionAh! As mudanças da vida... Tão importantes, tão necessárias. Ela cresceu!