FASES

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Catarina Moreira Sang Simas, 5 anos.

O que seria um bom programa para um sábado chuvoso na cidade que não tinha inverno? Certamente um edredom, uma série e um par pra ficar junto e trocar calor não é? Não é! O sábado havia começado cedo, e seria longo o suficiente para sentir saudades dele, saudades de casa, mas os compromissos deveriam ser cumpridos. E ela até gostava de ansiar a volta pra casa, era sempre bom, sempre gratificante. E naquele dia eles quase não se falaram durante o tempo em que ela esteve no trabalho, por vários motivos, o principal: silêncio e concentração nos estúdios, e ela era profissional demais para saber que aquilo era um dever de seu trabalho, que tanto gostava.

Entre uma cena e outra ela pegava seu aparelho de celular para ver algumas mensagens, mais precisamente as dele e sorriu ao ver que tinha recebido uma foto de uma hora atrás, dele junto com Chico no tapete da sala, deitados despojadamente. E ela nunca desejou tanto estar ali no meio deles, curtindo o frio que estava dentro daquele apartamento graças ao ar-condicionado que lhes contemplava. Ela apenas respondeu com um coração e voltou sua concentração para o pão doce que comia anteriormente.

Um funcionário da produção lhe chamou pra continuar as cenas do dia e a fez trocar de roupa e voltar ao trabalho para que a última sequência fosse gravada. Ela estava vivendo intensamente seus últimos dias de filmagem. Desde a chegada de Catarina há quase - pasmem - cinco anos a rotina de trabalho dela e de Rodrigo havia se modificado. Ambos seguiram trabalhando bastante, mantendo a característica obstinada dos dois capricornianos apaixonados pelo trabalho, no entanto ainda durante a gestação da pequena o casal já havia concordado em não assumir trabalhos longos simultaneamente pois, embora pudessem contar amplamente com a ajuda de seus pais, parentes e amigos próximos, os cuidados e educação da filha tinha se tornado o objetivo central de suas vidas.

Assim, Rodrigo havia emendado três novelas, desde o nascimento de Cata, e agora aproveitava as primeiras semanas de folga depois das gravações de uma super-série que, apesar de ter exigido meses de imersão no centro-oeste brasileiro, vinha rendendo um grande reconhecimento de crítica e público.

Ela, por sua vez, voltou com uma participação em novela assim que a filha completou seu primeiro ano e depois integrou o elenco de uma importante série produzida para o streaming da emissora, chegando ao fim na terceira temporada, que encerra as filmagens agora, depois de conquistar prêmios e ser aclamada pelos fãs.

Após o último "corta" do sábado, alcançou novamente o celular e sorriu. Os comentários nas postagens dos irmãos e amigos, os vídeos, fotos e mensagens enviados pra ela indicavam: ele devia estar extremamente entediado sozinho. O mau tempo dos últimos dias modificou o cronograma de gravações e o que era pra ser seu dia de folga, foi transformado em um sábado de estúdio, para compensar as externas que teriam de ser feitas na próxima semana, assim que o tempo abrisse.

— Cheguei! — anuncie assim que cruzei a porta de nosso apartamento, sendo recebida com o sorriso de Rodrigo que vinha da cozinha ao meu encontro. — Que cheiro bom é esse? — perguntei enquanto ele me alcançava, cobrindo meu pescoço de beijos.

— Brigadeiro, pra comer de colher. Eu sei que vocês adoram. — Rodrigo não media esforços para agradar suas garotas, pensei ao fechar os olhos me rendendo aos seus carinhos.

— Quanto tempo ainda temos? — perguntei entre nossos beijos.

— Combinei de pegar a Cata, no Fi, às oito... um pouco menos de duas horas. — ele conferiu no celular, sem me tirar de seus braços.

— Um banho, então? — convidei, puxando-o em direção ao nosso quarto.

— Um banho é sempre bom! — me puxou pela cintura, intensificando suas carícias em resposta ao meu convite.

Catarina Onde histórias criam vida. Descubra agora