Dia a dia

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Todos os dias pego um trem que demora 45 min. para chegar em meu destino. Nesse meio tempo, costumo ler quando estou sozinha ou conversar quando estou com alguém. Bom, nem sempre, as vezes leio enquanto converso, mas é um caso velado.
Uma estação antes costumo guardar meu celular na mochila ( muitas leituras empolgantes param ai e isso é muito amargo ), então me sobra 5 minutos para pensar estrategicamente no que vou estudar quando chegar em casa, qual será meu jantar, qual horário levantarei no outro dia e todo o roteiro que a vida adulta me reserva. Não é raro usar esse tempo para questões mais específicas, como " por quanto valerá meu tempo após a graduação? ", pensar porque "planeta dos macacos" tem uma alusão tão boa a teoria de Rousseau e a metaforização da vida em sociedade mediante a uma grande desigualdade ou porque Renato Russo cita niezstche na música Indios.
Paralelo a isso, percebo que me encaixo e me flexibilizo naquilo que essa rotina maçante me reserva. Reflito na possibilidade de uma garota pensar também porque Renato Russo tem uma tendência nilista, assim como Amélie Poulain acha divertido contar o número de casais que tem orgasmo na mesma hora. Curiosamente, quando eu tinha meus 13 anos, também ficava tentando imaginar quantas pessoas faziam a mesma coisa ao mesmo tempo no mundo todo.
Assim como Helena Morley acha interessante a ideia de ter vestidos babados e depois recusa a ideia por ser trabalhoso passar todas as rendas dele, somos levados a ter pensamentos profundos para depois simplesmente rejeitar aquela ideia e seguirmos em frente. Imagina se pudéssemos contar cada pensamento paralelo que temos durante a vida? Bem, esse texto faria parte dele e Amélie Poulain estaria contente em ter algo mais para contar, no entanto, imagina se fosse possivel levar cada pensamento a diante, e nós, por exemplo, termos uma estatística exata de quantas pessoas secam os pés as 18:00 ou terminam de ler o mesmo livro que você estava lendo há 5 minutos atrás?
A dispersão do tempo é muito relativa. Gosto dos 5 minutos que a insegurança de andar com o celular na mão me proporcionam, porque é talvez o unico momento que me interligue a outras milhões de pessoas que também fazem o mesmo movimento na mesma hora, pelo mesmo motivo, e assim me possibilitam de pensar, divagar e...
opa!
Chegou a hora de guardar o celular.
Não disse que sempre acontece nas horas mais empolgantes?

Diária mente crônicaWhere stories live. Discover now