Sem remorso

ii

Um copo a mais,
um a menos.
O mal de quem frequenta os bares
é querer transgredir o espaço
e se levantar da cadeira.
Nunca é um bom motivo,
não leva a muita coisa.
uma briga,
uma discussão,
um cigarro errado,
alguém que não importa muito no fim.
Não se levanta da mesa de um bar não ser
para voltar de vez pra casa.
Os hiatos da mesa de bar são uma ruína
Viva.
amaciando a carne
a mente
ameaçando o nosso pouco
a servir,
a desgastar.
Uma roleta russa
com uma bala a mais
girando,
tragando,
amando
por nada mais.
Sagrado é todo ambiente
que tira a noz do cotidiano.
As causas e os efeitos dos bares
e das igrejas
se confundem.
O homem justo
precisa fugir.
Para Deus
para ele,
para longe dos dias á deriva
de sua desintegração.
Mesas de bar recebem homens sãos,
perdidos e conscientes de onde estão,
que sabem por onde caminhar
a chegar ao lar,
e mesmo assim se embebedam
nos caminhos
para a lâmina da dormência,
furar o todo dia,
que corta mais fundo e sem remorso.
Santifiquem o que tira
o homem são
do chão.