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Sua mente estava confusa, seu coração raivoso e sua esperança morta. O medo acompanhava seus passos, seu passado o tornava um monstro mas era ele quem decidiria isso. G-667, isso nem era um nome e ele não sabia o que era ter algo do tipo. A arrogância humana criou ele, a busca pela eternidade cegou homens que apenas queriam poder e isso fez a vida de milhões se tornar um inferno.

A simplicidade daquela pequena fazenda, o carinho de Beth e a vontade de desvendar o horizonte.
A noite logo chegou para dar o lugar as estrelas enquanto o sol descansa.
G-667 saiu do casebre no meio da madrugada para observar, aprender algo sobre o mundo e isso o fazia querer viver mais por conta de seus anos encarcerado no pentágono.
Ele foi até o meio do pasto e sentou-se no chão enquanto um turbilhão de palavras passavam em sua cabeça.
E foi no meio do nada que ele percebeu que a vida pode ser melhor, apesar de ser cruel, ela consegue ser muito gratificante.
Ele tinha descoberto o carinho e a vontade de ser bom por um propósito maior. A vida de Beth era simples, mas a sua chegada à tornou diferente.
Ele poderia aprender como seria viver ao lado daqueles que pouco tinham. Saberia que a vida era simples mas triste para algumas pessoas. G-667 ficou a noite toda observando as estrelas, mas no meio da madrugada, Beth acordou para tomar um pouco de água e percebeu que o dito cujo não estava naquele velho sofá da sala.

- Oh meu pai, aonde aquele macho se meteu ? - Disse ela ao levar suas mãos até a cintura.

Ao observar através da janela, ela o viu no ponto mais alto do pasto.
Ela colocou um pouco de café em duas canecas e andou até ele para uma conversa.

- Eai seu moço, o que tá fazendo aqui ? - Exclamou ela ao entregar uma das canecas para ele enquanto se sentava ao seu lado.

- Bom, eu só estou observando as estrelas. - Disse ele enquanto pegava a caneca de café.

- Ah sim, as estrelas são muito bonitas, não é ? Meu pai dizia que elas eram as mais belas obras de Deus porque representavam as almas boas que se foram. - Assim que terminou sua fala, ela soprou levemente o café e logo deu um gole nele.

- Deus ? E que Deus é esse ? - Falou com um tom frio em sua voz.

- Mas ué, o único que temos. - Deu outro gole. - Aquele que criou o mundo em 7 dias, e o único ser justo que existe.

- Justo ? - Ele dirige seu olhar à ela. - Por que ele é tão justo ? As pessoas crêem que um todo poderoso pode salva-las, mas como crer em um ser que condenou toda uma raça por conta de um erro cometido por duas pessoas ? - Disse ele enquanto tomava um pouco de café.

- Como assim ? Não entendi nada do que ocê disse. - Disse ela com uma feição de questionamento.

- Entenda, Adão e Eva comeram o fruto proibido, certo ? Então por que condenar toda uma espécie com a sabedoria daquele fruto ao invés de sentenciar apenas os dois ? - Exclamou enquanto tomava outro gole. - As pessoas que vieram após eles não tinham nada a ver com isso, lembro de ouvir alguém dizer que se você peca, as suas próximas 7 gerações pagaram por aquele pecado e aonde tem justiça nisso ?

Beth não conseguia pronunciar nada perante as declarações daquele ser amargurado.

- Se existe algum Deus, eu acredito que ele possa ser justo em alguns aspectos mas nenhum ser é 100% justo. - Ele voltou seu olhar para as estrelas. - Se ele é onisciente, ele sabia que os dois comeriam o fruto, então por que ele deixou acontecer ? Ele conhece o começo, o meio e o fim.
Ele sabia que os humanos iriam se tornar monstros.
Por que deixar acontecer ? Não digo que ele é ruim, mas o Yin existe em equilíbrio com o Yang.........ninguém é 100% mal, mas ninguém é 100% bom.

Beth o olhou profundamente e percebeu que ele algo muito mais profundo que o mar, mais frio do que a lua e tão extenso quanto o universo.
Pela primeira vez, alguém havia feito sua mente questionar a existência de um ser todo poderoso.
Sua bondade era inquestionável, mas a sua justiça não.

- Olha.........eu não sei nem teu nome rapaiz, você poderia me dizer ? - Ela sorria de canto enquanto tomava outro gole.

- É G-667, não tenho um nome, tenho um código. - Disse enquanto colocava o café no chão e logo se deitou no gramado para observar melhor as estrelas.

- É o que ? G-667 ? Que nome de bosta, vou te chamar de Garry que é muito mais bonito.

Ele deu um leve sorriso.

- Eu gostei do nome. - Disse ao levar suas mãos até a nuca.

- Agora me explica, por que você é tão amargurado assim ? - Ela cruzou suas pernas e sentou com perninhas de índio.

- Porque eu não pedi para nascer, fui criado em um laboratório por causa da arrogância humana e de sua obsessão em controlar a evolução.
Eu nasci para obedece-los, mas fui o ser mais inteligente que eles criaram.
Seus ideais monstruosos, suas mentes egoístas. Me criaram para ser um monstro, e então fizeram que minha vida fosse um troféu para Satan.
Eu me tornei um fantoche do maior demônio que já existiu, o homem.
Eu fui mandado a campo com coleiras de choque que matariam uma pessoa comum em uma só descarga, mas para mim, era apenas um desmaio.
A perversidade do homem ultrapassou os limites, se é que algum dia eles tiveram, o ser humano se acha a raça mais evoluída mas existem seres tão à frente deles que sua maior descoberta se torna algo insignificante perto da menor de todas as descobertas que tem pelo universo.

- Nossa, você é o ser mais inteligente que já conheci mas me contou tudo na pergunta mais simples que eu poderia fazer. - Ela se levantou e deu o último gole em seu café.

- Como assim ? - Disse ele com um tom curioso na voz.

- Em uma conversa, eu criei seu novo nome, conheci sua história e seus ideais. Você é alguém intrigante Garry. Agora vamos, meu pai vai ficar muito puto se ver a gente aqui à essa hora e eu num quero tomar esporro dele não, vamos. - Assim que terminou seus dizeres, ela andou em direção a seu casebre enquanto Garry acompanhava ela.

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