Tempestade

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N/A:

Estava morrendo pra escrever algo, pq eu to meio louca da pedra nos headcanon, e daí era pra ser um angst, mas virou um fluffy e muita chuva e muito carinho.

Ah, também foi minha primeira tentativa com o famigerado "narrador em segunda pessoa", espero que tenha ficado razoavel :)

Boa leitura!

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Tormenta.

Uma barreira, um lugar a salvo, uma chance de fugir.

Você abre os olhos num lugar escuro. O que é estranho, pois tem a sensação de que eles continuam fechados. O cheiro ácido impregna suas narinas e há uma sensação estranha de que alguém te observa.

Ali não há deserto, não há sequer areia. Só um pequeno cômodo, um caixão em forma de quatro paredes onde não há espaço suficiente. E, por mais que olhe, e por mais que procure, você está só.

Então, por que você não se sente a salvo?

Você ouve clamor. Vozes abafadas que escapam pelo buraco da fechadura por trás do ruído fraco de algo que parecia raspar... Pedras ou unhas. Aí você se dá conta, e então lembra: esta não é a primeira vez. 

Não é a primeira vez que a maçaneta queima sua mão ao tentar fugir. Que a bola de cinzas se forma em sua boca ao tentar gritar e que não há nada que possa impedir seu corpo de queimar.

E você pensa, quem sabe, até fosse para ser assim.

Quem sabe, de fato, você já tivesse até queimado antes junto com tudo e com todos, porque o que sobrou intocado se sentia tão deformado e rompido que é como se nada tivesse restado.

Um vidro quebra. Uma criança chora. E o brilho que havia pouco, se torna tão mais claro e ofuscante que você consegue sentir o vapor escaldar sua pele e evaporar suas lágrimas.

Você precisa sair. Precisa correr, precisa se esconder, mas o que sente ao tentar se mover é o sinal de que as solas de seus pés estão costuradas ao chão.

Então ali você fica. Se sentindo arder e se deixando despedaçar.

Você abre a boca pra falar, para tentar emitir qualquer som que possa provar que está vivo ou que ainda é humano. O que sai são os resquícios de misericórdia que ninguém poderia chamar de respiração.

Quando você inspira, o osso da costela prensa seus órgãos internos e a única esperança que te resta é a de que alguém enfie a mão por sua garganta e salve, ao menos, seu coração.

Enrolado em seus próprios braços, não há para onde escapar, então você apenas afunda. Afunda até não haver mais parede para escorregar. Afunda até que não há mais abismo por onde cair e a crueza do piso ao fim da queda seja a única certeza a lhe salvar da morte certa.

E já não há som, mas o abafar das mãos contra seus ouvidos não te traz o menor conforto.

Não há fogo, embora o calor das labaredas seja real demais para que você se atreva a duvidar.

O gosto do cobre na ponta da tua língua e a certeza ficta de que nada mais te rodeia no mais profundo espaço de seus pensamentos mantém você ali.

Em algum lugar um sussurro ecoa e você pouco acredita que ainda seja o murmurar de sua sanidade. Um arrepio te atinge pelo corpo. Paralisa e dói. Você fecha os olhos sem notar que estavam abertos.

Você reza.

E amaldiçoa.

Um piche viscoso cobre seus tornozelos, sujando suas meias e afogando suas esperanças. Ainda que você tivesse certeza de que não passava de uma poça, segundos antes.

Tempestade [Gaalee]Onde histórias criam vida. Descubra agora