a verdade.

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No fim, você estava certo. Eu não mereço estar aqui, como você não merece estar aí. Quero que me perdoe por todas as vezes que te fiz sangrar para que eu pudesse tapar os meus buracos, mas não dá. Agora chega. Eu estou botando um fim nessa velha história. Quando eu percorro as ruas, as casas, vejo os ares e entro nos mares, quando toco outras peles, fito outros olhos na esperança de encontrar você, eu continuo me perdendo de mim. Eu continuo nesse mesmo pico, incessantemente na esperança de te encontrar, mas eu não vou. Eu nunca vou.

Eu sussurro no alto da montanha para que meu grito atinja teu peito com a força imensurável do meu ser. Eu abraço meus joelhos, porque tenho medo de abraçar a multidão e nunca sentir teus braços ao redor de meu corpo. Choro na esperança de que me reencontre, mesmo que nunca seja possível. Eu olho os céus na esperança de que sorria pra mim e eu sempre te enxergo na mais brilhante estrela. Você fala comigo através das nuvens e me diz sempre que vai ficar tudo bem. Mas enquanto não fica, o que eu faço? Como sobrevivo esse mar de ossos até que chegue a maré que me acalma?

Me embolo nas falas, nas falhas e no que me machuca. Me desfaço das algas marinhas que voltam sempre a me puxar para o precipício. De que adianta minha existência se não há a tua? Diga-me como amar alguém se não me amo? Como estabilizar uma mente de alguém tão perturbado? Onde procuro vida? Teu sorriso levo para que acalmem meus dias chuvosos, mas de que adianta a chuva se eu não saio da cama? Que me adianta o belo céu azul se eu não enxergo? O medo me cerca. A incerteza do que pode vir a acontecer, se é que algo acontecerá. A corrente de ar mais forte ainda me deixa sem respirar. A alegria mais forte ainda não me atinge o miocárdio. Eu não me recordo de teu rosto e não me lembro do teu toque, mas eu ainda sinto teu perfume e como tua voz continua ressoando no fundo de minha mente. Se há felicidade, você foi a que viveu em mim. Desvio das flechas e no fim sempre me acertam. Não posso passar a eternidade como um alvo, mas não posso correr toda vez que piso na areia. Ela é movediça, só me resta afundar. Usar o fôlego que me resta e dedicar-lhe minhas últimas falas.

Desesperadamente eu não faço a mínima ideia do que eu falo, porque cada palavra que utilizo aqui eu vomito do meu ser num pedido agoniado de socorro. Mas ninguém me salva. Ninguém nunca saberá como me salvar de mim mesmo. É sempre um enorme balanço que sempre que penso estar no topo, volto a cair. Volto a me machucar e me sufocar com algo novo. Ainda que eu fuja, estou preso a um passado doloroso que me resta, que não me permite seguir, quando o meu maior sonho era deixar que se fosse. São como memórias coladas em todas as paredes, em todos os espelhos, rostos e corpos. De que me adianta me livrar num bom banho de banheira, se no final estarei submersa?

Eu me afoguei.

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⏰ Última atualização: Jan 30, 2020 ⏰

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