A Verruga da Princesa

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 Realmente houve um tempo em que existiam os reis os príncipes e as princesas. Em um reino distante existia uma princesa lindíssima – ora por que as princesas precisam ser lindas – não importa a estória é minha e eu quero que a princesa seja linda, afinal se ela não for linda, não dará certa a estória – como toda mulher muito linda ela também nunca estava contente com sua beleza! Usava de todos os recursos do reino para ser a mais bonita de todos os reinos, tudo que pudesse fazê-la mais bonita ela ia atrás ou mandava buscar

Um dia ouvindo o cochicho de suas servas, percebeu que elas falavam de um feiticeiro que vivia na floresta dos ciprestes em uma caverna, vivia sozinho – Por que será que os feiticeiros precisam viver só nestas estórias? só pode ser por que são pessoas que não se dão bem com ninguém – a princesa chamou suas servas e as indagou sobre o tal feiticeiro

— Me diga sobre este tal feiticeiro?

— Será que ele tem poder mesmo?

— Dizem que sim, senhora. Que é muito poderoso

— Será que pode melhorar a minha face, corrigir algumas imperfeições?

— Pode ser, minha senhora! Dizem que suas poções fazem milagres (Está até parecendo os cremes de hoje em dia!)

— Já decidi! Vou até ele.

Ao anoitecer do mesmo dia a princesa se reuniu com um grupo de guardas e servas de sua inteira confiança e se dirigiu a floresta dos ciprestes. Depois de caminhar por densa mata e muitas perguntas pelo tal feiticeiro, acabou por chegar a montanha onde ele morava. Soube por um casal que o feiticeiro se chamava: Emerc e que não gostava muito de companhia.

Chegando a entrada da caverna onde ele morava, pediu a todos que a esperassem, pois tinha algo pessoal a pedir para o feiticeiro. Bateu na porta da entrada da caverna por alguns instantes, até que o tal feiticeiro atendeu.

— Boa noite senhor Emerc

— Boa noite princesa

— Sabe que sou uma?

— Ora tenho uma bola de cristal! Antigamente as imagens vinham pela antena, agora tenho bola de cristal a cabo, são muito eficientes sabia?!

— Por que me incomodas?

— Sabes que não pode falar assim com uma princesa

— Ah, ah, ah! Falo como quiser, não preciso respeitar nada! Nem reis nem príncipes, muito menos você!

— Pensando bem, eu sou a intrusa aqui!

— Isto mesmo!

— Queria saber se você pode me fazer um favor? Posso pagá-lo

— Seu ouro não vale aqui!

— Desculpe-me pela ofensa! Serei eternamente grata se me ajudares.

— Diga o que quer!

— Sei que sou muito bonita, mas quero ter o mais belo rosto de todos os reinos.

— Não vejo nenhum problema com seu rosto

— Eu vejo! Sei que se pode melhorar muito.

— Você não precisa de nenhuma mudança em seu corpo! E mesmo que fosse vista por todos como a mais bonita, mesmo assim envelhecerias.

—Quero o rosto mais bonito de todas as mulheres.

— Quer colocar o eterno no efêmero isto sim!

— Vá para casa, já tomou demais o meu tempo.

— Espere! Espere! Não feche a porta.

— Vou te dar o que precisa!

Fechando a porta quase totalmente, pelo vão da porta ele falou: Vou lhe dar o rosto que precisa por um ano, depois disto voltarás ao normal. A porta se fechou. A princesa ouvindo aquelas palavras sem entender voltou ao castelo já tarde da noite. Foi-se deitar, meditava em seu coração o que o feiticeiro queria dizer. Conseguiu dormir.

Ao amanhecer, tão logo ela acordou, correu em direção ao espelho do quarto. E qual não foi o seu impacto ao ver ao lado de seu lindo narizinho uma imensa verruga que tinha o tamanho de uma ervilha, de cor arroxeada, uma coisa horrível para qualquer ser humano ainda mais para uma princesa vaidosa. A princesa se derreteu de tanto chorar, estava inconsolada, ficou sem comer, não saiu do quarto por vários dias. O rei convocou todos os sábios da corte, mas ninguém pôde ajudá-la.

Depois de uma semana a princesa pensou "Vou até o feiticeiro pedir desculpas pela minha insolência, acho que assim posso voltar ao normal" Na noite do mesmo dia partiu com o rosto coberto até a caverna do feiticeiro. Chegando ao lugar nada mais encontrou, procurou, procurou desesperadamente, até que desistiu e voltou para o castelo muito triste.

Por várias vezes na solidão de seu quarto pensou em se atirar pela janela. O rei conseguiu encontrar em seu reino um homem que podia queimar a tal verruga. Foi chamado e com toda sua artimanha conseguiu queimar a verruga, mesmo com a ferida no rosto, ainda assim a princesa ficou feliz, pois achou que agora era só cicatrizar. Mas no outro dia ao amanhecer estava lá de novo a enorme verruga. Lembrou-se então que deveria durar um ano e seu rosto voltaria a ser como antes. Resolveu ficar escondida no alto da torre.

Como é difícil ficar sem fazer nada a princesa olhava os livros antigos, brincava sozinha com um rato que aparecia na torre. Passaram-se alguns meses, a princesa já se sentia bem melhor. Na torre havia um espelho para ela poder ver seu rosto, como ela estava sempre sozinha pediu que alguma serva do castelo a visitasse. Todos os dias uma serva ia até a torre e a princesa ficavam longas horas conversando com alguma criada, fez muitas amizades neste tempo, percebeu o quão importante é a presença das pessoas. Na hora em que uma de suas amigas estava para chegar seu coração saltava de alegria ao revê-la. Não sabia como agradá-la, queria que se sentisse feliz, mostrava os livros, apresentava seu amigo rato e tecia alguns elogios sobre a vida dela.

Uma de suas amigas disse a princesa:

— Uma pessoa tão maravilhosa como você não pode estar presa aqui! Lá fora existem pessoas que querem conhecer sua beleza!

— Beleza! Eu! Eu não sei mais o que é isto, não me cuido a muito tempo.

— Vamos sair daqui tomar o sol da manhã.

— Não sei se devo!

— Vamos ficar perto da torre, qualquer coisa a senhora volta.

— Acho que posso ficar pelo menos perto da porta.

A princesa e sua nova amiga sentavam-se sempre perto da porta, colhiam algumas flores e brincavam muito. Todo dia a princesa se afastava um pouco da torre e se aproximava do povoado vizinho, sempre com um véu sobre o rosto, pois não queria mostrar sua marca. Fez muitos amigos no povoado, as pessoas gostavam de escutar o que ela falava, de vez em quando mostrava rapidamente seu rosto e logo cobria. O tempo passou e ela já não escondia sua marca, todo mundo já aceitava ela do jeito que era.

Exatamente no dia em que fazia um ano após a visita ao feiticeiro, numa bela manhã ensolarada, a princesa acordou alegremente, passou a mão no rosto e sentiu que faltava algo. Como não fazia muito correu até o espelho mais próximo, olhando no espelho viu seu rosto exatamente como era antes da visita ao feiticeiro. Seu coração se encheu de alegria pois recuperara sua antiga fisionomia. Correu até suas amigas para contar-lhes a novidade, mas antes que pudesse encontrá-las parou para contemplar um imenso pé de ipê amarelo que estava todo florido. Sentou-se em um tronco caído, viu uma imensa quantidade de flores amarelas ao seu redor, viu o sol na fresta das árvores, os pássaros que cantavam ao seu redor. Entendeu a imensa transformação havia acontecido dentro de si, percebeu que as pessoas viam sua beleza, mas a beleza que não está por fora, a beleza que não se nasce com ela, mas aquela que se cultiva no dia a dia. Pensou consigo: "Na verdade o que ganhei ninguém mais pode me tirar, mesmo que envelheça vai continuar sendo minha, o que o feiticeiro me deu foi um presente, foi para que eu descobrisse a verdadeira beleza, sendo assim não vou precisar dizer para ninguém porque a verruga sumiu."

Seguiu ela até seus amigos sem dizer nada, pois sabia que sua verruga continuava fora do corpo. Estava em sua alma como lembrança daquilo que a fez mudar de atitudes. Muitos de seus amigos nunca perguntaram por que a sua verruga sumiu! 

O Amor É Uma Flor Roxa Que Nasce No Coração Dos...Onde histórias criam vida. Descubra agora