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Como tudo pode acabou assim? Iara pensou, lembrando-se do como tudo aconteceu.
Não acreditava em tudo o que havia ocorrido, não acreditava que seus irmãos foram capazes daquilo, de tentar matá-la. Apesar de anos terem se passado, ela nunca esqueceria do que aconteceu naquele dia.

***

Iara havia sido chamada por seus irmãos para uma caçada - algo que Iara apreciava muito e, por isso, nem hesitou em aceitar o convite de seus irmãos. A jovem índia andou distraída, sempre pensando em como poderia melhorar como guerreira (não que ela precisasse, afinal, era excelente, a melhor guerreira de sua tribo). Os pensamentos da menina dissiparam-se quando ouviu seus irmãos relembrando os passos do plano de morte que fizeram contra ela. Para ela - e para todos os outros da tribo - era óbvio que os irmãos tinham inveja de seu talento, mas chegar áquilo? Nunca lhe passaria pela cabeça que eles chegariam a esse ponto.

Seu coração começou a acelerar, ela estava abalada demais. Preciso contar ao meu pai, ela murmurou. Conseguiu dar alguns passos para trás, mesmo que suas pernas estivessem tremendo. Contudo a sorte não parecia estar ao seu lado hoje tendo em vista que, logo depois de virar-se, ela pisou em um pedaço de galho e o estalo que o mesmo fez ao quebrar fizera com que seus irmãos - que até então estavam focados demais no plano de elidir Iara que nem sequer tinham a notado ali - reparassem que a jovem guerreira os observava.

Eles pegaram suas respectivas armas e se colocando em posições de batalha, virados para a irmã mais nova.
Iara, que não era tão inocente assim, sabia que ou sobrevivia ela, ou sobreviviam eles e, sinceramente, a primeira opção lhe pareceu muito mais tentadora do que a última. Sendo assim, pois-se na posição que costumava lutar.


Após uma intensa luta, Iara viu se ferida e rodeada com os corpos - já sem vida - de seus irmãos. Seus batimentos cardíacos aceleraram ainda mais ao pensar no que aconteceria se alguém descobrisse o que aconteceu ali. A matariam, disso ela tinha certeza.
Entrou em desespero. Suas mãos trêmulas foram até seu rosto, limpando toda a mistura de sangue e lágrimas que ele continha. Como contaria a seu pai sobre o plano dos irmãos e sobre o que tinha feito? Era simplesmente impossível!

A índia largou suas armas e disparou. Sem ter para onde correr, embrenhou-se na mata e fugiu; porém, o que ela não esperava é que seu pai viria a descobrir que ela matou os próprios irmãos. E assim que ele o fez, o pai de Iara - que era pajé da tribo em que eles viviam -, com muito pesar, sentenciou-a à morte no rio Solimões. Ordenou os índios de sua aldeia que à caçassem e assim eles fizeram; caçaram-na como se estivessem caçando a mais cruel das criaturas.
Para o infortúnio de Iara, conseguiram capturá-la e, como ordenava sua sentença, jogaram-na nas águas da divisa entre os rios Negro Solimões.
A índia, fraca e cansada demais pela perda do sangue na batalha que ocorrera recentemente, afundou; se sentindo afogar nas águas escuras dos rios; sentindo toda a vida esvair de seu corpo.

Naquela noite de lua cheia, pós os peixes salvaram-a, ela transformou-se em um ser metade peixe, metade humano, que mais tarde viria a ser conhecido como sereia.

***

Iara suspirou, sabia que estava fadada áquilo pela eternidade; devorar índios pescadores toda santa lua cheia. Irritante, era como ela definiria, mas não podia fazer nada, este era o preço por matar seus irmãos.

A índia caminhou até a beira do rio e mergulhou na água gelada de coloração amarronzada. Bolas de ar subiam enquanto suas pernas se transformavam e davam lugar a sua bela calda. Era hora da rainha das águas alimentar-se novamente.

IaraOnde histórias criam vida. Descubra agora