p r ó l o g o

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Deslizo o batom vermelho por meus lábios e respiro fundo, tentando controlar minha tremedeira

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Deslizo o batom vermelho por meus lábios e respiro fundo, tentando controlar minha tremedeira.
— Els... Está tudo bem? — Stacy segura meus ombros, me encarando no reflexo do espelho.

Fecho o tubinho preto e apoio as mãos na penteadeira, fechando os olhos por breves segundos ao sentir minha vista escurecer.
— Não dá, Stacy — a encaro de volta — Eu não consigo. Não posso fazer isso.
— Elena...
— Eu não como a três dias!
Ela aperta os lábios e suspira.
— Vou ver se encontro algo, mas pelo amor de Deus, se vista! Não sei o que o pai será capaz de fazer com você se desobedecê-lo mais uma vez.
— Obrigada... — sussurro.
Stacy sorri serenamente e sai de fininho pela porta dos fundos.

Ao ouvir a porta ser fechada, me sento na beirada da cama, pedindo a Deus que não me deixasse desmaiar enquanto Stacy não voltasse.
Minha vida é assim, sempre foi.
Sempre sendo jogada para os cantos, precisando mendigar afeto, comida... Na verdade, todo o meu começo é errado.
Fiquei órfã cedo demais, minha mãe morreu com o terrível surto de gripe espanhola assim que acabou de dar a luz à mim, e meu pai, com medo de ter o mesmo fim que ela, fugiu.
Por sorte, se é que podemos chamar isso de sorte, eu fui "adotada" por uma amiga próxima da minha mãe, Isabel.

Se existem anjos na Terra, eu tenho certeza absoluta de que ela é um deles.
— Elena? — era a voz de Stacy.
Pisco, voltando a realidade.
Ela espia rapidamente pelo corredor e me entrega um sanduíche de queijo feito ás pressas.
— Foi tudo que eu consegui... — encolhe os ombros como se pedisse desculpas.
Não falo nada, apenas mordo o meu lanche e suspiro satisfeita, sentindo meu estômago doer por passar tanto tempo de jejum.
Isabel e Stacy são as melhores pessoas que eu poderia chamar de família...
Stacy! — uma voz masculina interrompe meu momento de saciedade, fazendo meu sanduíche ameaçar fazer o caminho contrário e ser jogado no chão junto com os ácidos do estômago.
Diferente de Carter, o marido dela.
Ele entra no quarto, me fazendo levantar num salto e esconder meu lanche atrás das costas. Com passos pesados, se aproxima com os olhos cheios de ódio e puxa bruscamente Stacy pelo braço, arrancando o sanduíche de queijo das minhas mãos.
— O que foi que eu disse sobre não dar comida para ela? — esbraveja, fazendo Stacy se encolher com medo.
— Mas pai, eu...

— Fora daqui!
— Senhor Woodsen... — tento defender minha amiga, mas travo num gesto de autodefesa quando seus olhos negros encontram os meus.
— Quieta! — aponta o dedo no meu rosto.
Meu corpo estremece e os lampejos da pior noite da minha vida voltam a assombrar minha mente.
O jeito como ele me olhava. O cheiro de cerveja. Suas mãos me violando, arrancando meu pijama a força. Seu corpo me imobilizando na cama e forçando para dentro de mim.
Aperto os lábios e pisco várias vezes, me obrigando a não chorar na frente dele.
— Você vai subir naquele palco, sem fazer showzinho, ou terei de prolongar seu castigo. O que é uma pena, se olharmos a belíssima mulher que você se tornou, Elena... — segura meu queixo.
— Não encoste em mim! — digo entre dentes, dando um passo para trás.
— Seja uma boa garota, Elena e, quem sabe, eu lhe recompense mais tarde...

BROKEN - livro 1Where stories live. Discover now