Só me toco do quanto estou distraída quando ouço à risada de Miguel dizendo que eu já poderia descer do carro.De imediato começo acompanha-lo nas risadas,o agradecendo pela carona e ainda relutante desço do carro,desejando mais uma vez que tudo saia perfeitamente como planejado.
Ao colocar meus minúsculos pezinhos no pátio da escola, me deparo rodeada de diversos rostos conhecidos e outros não tão conhecidos assim.
Então vou em direção ao corredor procurando por meu nome nas portas das salas,até encontrá-lo na última sala do corredor .Agradeço mentalmente ao universo por ela ser bem pertinho da cantina.
Reconheço a maior parte dos outros nomes da lista e um sorriso se abre em meu rosto ao perceber que minha turma continua praticamente a mesma.
Ao entrar na sala comprimento todos os meus amigos e ali ficamos conversando sobre assuntos aleatórios,até o momento que me bate uma baita sede,e peço Mateus para me acompanhar até o bebedouro.Ele assente com a cabeça e saímos em direção ao corredor.
A cada passo Mateus me conta um capítulo da saga "O quão bravo estou com meus irmãos e quanto trabalho eles me dão ",enquanto me despenco em risadas ouvindo suas histórias.
Mateus é órfão,seus pais morreram à pouco menos de cinco anos,desde de então ele mora com seus dois irmãos mais velhos.Enquanto os dois trabalham ele cuida da casa.A verdade é que só nós sabemos a barra que ele passou quando seus pais faleceram naquele acidente.Somos amigos desde de que me entendo por gente,a família de Miguel sempre foram nossos vizinhos e quando seus pais morreram ele ficou um tempo em minha casa até se acostumar totalmente com a idéia. Meus pais o vêem como um filho, e acharam que seria bom pra ele ficar esse tempo com a gente,e eu claro,amei a idéia.
" Eu estou falando sério,um dia saio daquela casa e abandono aqueles dois indeliquentes. Onde já se viu,o adolescente sou eu,e eles que se comportam como se fossem duas crianças crescidas "
"Aí que drama senhor, o órfão começou a se rebelar cedo hoje"_ Respondo em meio aos risos.
"Falou a abandonada pelos pais biológicos"_ Mateus rebate e
Finjo cara de espanto respondendo que aquilo não me atingia mais,mesmo sabendo que no fundo aquilo não era verdade. Não cheguei nem mesmo à conhecer meus pais biológicos, fui deixada ainda bebê em um orfanato, onde meus pais de verdade me encontraram e como eles próprios dizem foi amor à primeira vista,e me adotaram.
Todas as influências de família que tenho vieram deles,os admiro demais,mesmo depois de gerarem quatro filhos ainda tiveram espaço para me receberem com todo o amor possível. Em relação aos meus pais biológicos eu cresci com a curiosidade de conhecê-los e saber o real motivo de me abandonarem,então quando fiz meus doze anos tentei várias vezes entrar em contato com ela,a mulher que me colocou nesse mundo,que não se deu nem ao menos o trabalho de atender as minhas ligações.Então a única coisa que me restou foi esquecer,e hoje sei que foi a melhor coisa que fiz.
"-Somos uma ótima dupla mesmo, um órfão e uma abandonada"_Comento e voltamos a rir,finalmente chegando ao bebedouro.Só então percebo que na correria ao sair de casa esqueci meu copo.
"- Que raiva Mateus,esqueci meu copo em casa!"
"- Aquele seu copo horroso do Capitão América?! Quem manda ficar acordando atrasada"
"- Aí que arrogância, e mais respeito, porque o Capitão América é maravilhoso."_Rebato Mateus,afinal que audácia, ninguém fala mal do Capitão na minha frente.
" Você quer o meu emprestado? Não é o do Capitão América mais acho que também serve."_ Ouço uma voz desconhecida me dizer, só então percebo à presença de um garoto ao nosso lado e que garoto,e que sorriso é esse senhor?! Me perco encarando um pequeno pontinho preto em seu lábio inferior, uma pintinha, uma linda e discreta pintinha,e me derreto totalmente. Só percebo que eu ainda estava encarando o garoto sem responder nada quando Mateus começa a tossir fingidamente ao meu lado e no susto acabo dizendo a pior coisa que poderia.
"- Tem certeza que isto é seguro? E que eu não irei contrair nenhum tipo de doença oralmente transmissível?"_ Sinto vontade de sair correndo quando percebo a burrice que acabei de dizer. No entanto o garoto sorri e pronuncia um lindo sim, e complementa dizendo que eu estava segura e que nada iria acontecer comigo. Meu rosto queima de vergonha e mais que depressa pego o copo da mão do garoto, nossos dedos se tocam e por um segundo sinto uma corrente elétrica passando por eles, tento me convencer de que estou ficando doida e que nada aconteceu.Quase engasgo com o líquido enquanto sinto os olhos do garoto sobre mim.
Assim que termino entrego o copo e balbucio um obrigado ao garoto desejando o mais rápido possível sair daquele local. Puxo Mateus e saio em passos apressados, desejando chegar logo em nossa sala.
"-Eii do copo?"
Ouço a voz do garoto me chamar e involuntariamente me viro de frente para ele.
" -Você não me disse seu nome?"
"-Ah sim, meu nome é Agatha, e o seu?"_ respondo o perguntando.Afinal não haveria problema algum em saber o nome do garoto, até o momento em que ele responde, e a palavra João, chega aos meus ingênuos ouvidos ao mesmo tempo que ouço pedacinhos do meu coração chegarem ao chão e as risadas de Mateus,confirmando que a desgraça em minha vida havia sido armada.

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Ties Of Life
Teen FictionÁgata é uma típica adolescente,apaixonada por livros,músicas e uma queda arrebatadora por séries e filmes classificados como o mais clichê possível. Vive sua vida entre a realidade e ficção que tanto ama.Um refúgio para a vida tão corriqueira em qu...