Quando saímos da estação, já não sinto qualquer resquício da estranha calmaria que tinha me acometido no metrô, e por algum motivo, sinto falta da sensação. Marlene e Dorcas me lançam olhares preocupados a cada cinco minutos, e eu só sorrio como se nada tivesse acontecido. Tremo só de pensar no que isso pode significar e tento focar no caminho até a fonte.
Fico maravilhada com as ruas de Roma e nem vejo quando chegamos ao nosso destino: a Fontana di Trevi. Alice disse que estaria em um dos mil cafés que rodeiam a fonte, junto com Emmeline, e nem tento procurá-las diante da imensidão de pessoas que estão no local.
A loucura que foi vir pra Itália à convite de Alice ainda não me parece real. Alice Fortescue, há 2 meses atrás, havia encontrado sua alma gêmea. E o que isso tem a ver com a nossa viagem?
Bem, tudo.
Alice encontrou, segundo ela, a pessoa mais incrível da face da terra aqui na Itália, enquanto fazia uma viagem com os pais. Fortescue agora vê o mundo em seu completo esplendor. Não sabemos quem é, o que faz da vida, onde vive e a aparência do sujeito, tudo isso porque Alice diz que é de extrema importância mantermos a discrição, e é mais fácil se não soubermos de nada. Ela claramente gosta de fazer um mistério, sequer explicou o por quê dessa palhaçada, mas a alma gêmea de nossa amiga tem uma ótima condição financeira e é bem generoso, já que trouxe todas nós para Roma.
Se eu vejo problema nisso? Olha, não mesmo. Tanto que já estou andando pelas ruas desse antigo império.
Apesar de achar estranho um desconhecido pagar passagens e hospedagem para 4 mulheres assim, do fucking nada.
No meio do meu devaneio percebo que não escuto mais as conversas altas de Lene e Doe, que estavam andando à minha frente. Tento enxergar o vestido longo — que Lene diz ser amarelo, mas eu só vejo cinza — de Dorcas, ou a trança boxeadora de Marlene no meio das pessoas, mas falho. Ótimo, formidável mesmo.
Decido percorrer o resto do caminho sozinha, espremendo-me entre a multidão de pessoas que rodeiam a fonte, enxergo a Fontana Di Trevi e sorrio imediatamente. É surreal ver esse lugar com meus próprios olhos, apesar de não ver as cores que o embelezam. Puxo meu celular da pequena bolsa de costas que carrego e após tirar umas fotos da fonte, procuro o contato de Alice e rapidamente ligo para ela.
— Lily? Já estão chegando? — Ela não me espera responder — Estamos em uma cafeteria, o nome é Antico Caffè Greco.
— Oi, Ali. Então, eu perdi as meninas de vista, mas logo encontraremos você e Emme, não se preocupe — Digo rápido para Alice não ter tempo de reclamar, mas ela suspira do outro lado da linha, certamente por estarmos atrasadas.
— Certo, até logo, ruiva. Estamos esperando.
Me despeço de Alice e quando começo a digitar o número de Dorcas, sou interrompida pela sensação do trem que me preenche mais uma vez. Hum, pra quem eu deveria ligar mesmo? Olho de uma lado para o outro esperando um sinal, talvez, mas os turistas à minha volta continuam contentes admirando a fonte. Eu me sinto relaxada mais uma vez, essa deveria ser a sensação? Fico desesperada por alguma coisa que explique essa chama se alastrando em mim. A súbita calmaria vira sufoco, da onde vem isso? Eu devo me preocupar? Tento controlar minha respiração e meu receio, mas fico sem ar e me forço a respirar fundo. Você consegue lidar com isso, Lily. Só respira fundo e não surta.
Alguém se choca comigo, e antes que eu possa sentir o impacto do chão de pedra, alguém em um movimento firme me segura.
Toque.
E eu queimo como nunca antes — a chama? não é nada comparado ao incêndio que sinto agora. Eu DEFINITIVAMENTE não consigo lidar com isso.
Me sinto atordoada com o toque, o fogo se torna estranhamente familiar e fico mais calma do que antes, do que nunca. Sei o que isso significa, agora. Vejo desconfiada os braços de um homem e de repente me torno muito atenta aos seus movimentos. Que diabos, sinceramente. Não consigo explicar a confusão de sensações que me preenchem, é extremamente atordoante. Pisco com força, e extasiada, vejo lampejos do que seriam cores.
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Between her arms
FanficTodos da banda Mischief Managed já viam o mundo em seu completo esplendor. Bem, todos menos James. E ele não esperava encontrar sua soulmate em Roma durante o último show da turnê mundial. Num mundo onde você só vê cores se já beijou sua alma gêmea...