Reviravolta no sertão

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Vicente, ao chegar no lagadeiro, depara-se com a triste situação que a seca trouxe para aquela região. O jovem atendia retirantes em um campo de concentração perto de sua fazenda, mais não tinha ideia da situação que fez com que essas pessoas saíssem de onde moravam. Ainda abismado, entrou em sua fazenda, que herdou dos seus pais. E logo lembrou da sua infância naquele lugar. Ao redor da moradia tinha matos verdes, bichos gordos de todos os tipos. Vicente sentiu um grande desgosto, estava com o coração exilado, ele abaixou a cabeça, e de repente ouviu algo aproximando dele, era um bezerro tão magro, raquítico, tão faminto. O jovem pegou o bicho no colo e prosseguiu andando por suas terras. Viu plantas, que desde quando mudou-se para cidade não tinha visto mais. Viu um rio, que antes era imenso, cercado de juremas, patos, mas já não era como antes. Estava secando, não tinha mais plantas, e os matos tudo seco. Ele viu algo que lhe tirou um sorriso, era uma jovem, nadando dentro do rio, tinha a pele morena como a canela, cabelos pretos, um corpo cheio de curvas e ao mesmo tempo um rosto tão delicado. Era uma beleza que nunca tinha visto antes em mulher alguma. Ficou por minutos observando a mulata. A jovem era espertalhona, logo percebeu, e fingiu está afogando-se, o jovem correu o mais rápido que pode e mergulhou dentro do rio.Conceição mobilizou-se por trás e disse a Vicente:

- Por que está me olhando?

Vicente respondeu:
- Desculpa, se ofendi a senhorita. Foi porque no meio dessa triste aflição, a única beleza que vir foi a sua. Alumiou tudo com o brilho da sua graça. 

 Conceição soltou Vicente, sem nenhum receio saiu da água, e começou a vestir a roupa naturalmente. O rapaz ficou abismado com aquela situação, pois nunca esteve tão perto de mulher com aquela ousadia, sempre esteve perto de mulheres recatadas e submissas. Conceição começou a andar em direção ao centro da cidade, Vicente foi atrás dela, a moça parou e disse a ele:

- Por que está me seguindo, desconhecido do mato? 

- Quero lhe conhecer melhor.

- Por hora é 50,00 réis.

 - Como assim?

- Você ainda não entendeu? Trabalho em um bordel! 

 Vicente mais uma vez surpreendeu-se com Conceição, aquilo foi um laque para ele, pois apaixonou-se á primeira vista por ela, a diaba da noite. Ela prosseguiu e ele continuou lá, parado, abismado com as fortes emoções que passou. O jovem começou a andar por outro caminho, e o cenário era o mais drástico. Por todo o caminho tinha ossos de animais, carniças, traças, e bichos morrendo. Vicente nunca tinha visto aquela situação antes, a seca era muito devastadora, ele passou uma boa parte da sua infância e adolescência estudando no exterior, nas grandes cidades perto de pessoas da alta sociedade. Pelo mesmo caminho passou Chico Bento e seus filhos, tão magros, esturricados, tristes, famintos. Vicente logo reconheceu seu amigo de infância e disse:

 - Chico Bento? É você meu amigo?! 

Chico respondeu:

- Vicente é você? Como está diferente, mais bonito, gordo. Está um meninote. Os dois abraçaram um ao outro, contentes. 

Vicente: Para onde está indo, com essas crianças?

Chico: Para São Paulo, não tem mais trabalho por aqui, minha mulher morreu, não aguentamos mais passar fome e necessidade.

Vicente: Não vá! Minha fazenda precisa de cuidados, eu e meus irmãos nos ausentamos por anos, a fazenda está uma balbúrdia.

Chico: Muito grato.

Os dois foram para a fazenda e Chico começou a trabalhar com muito empenho. Vicente era muito rico, podia manter aquela fazenda por anos de seca. Passou uma semana e todos esses dias ele pensava em Conceição, mais o preconceito o impedia de ir atrás dela. Até que um dia, conversando com seu amigo, Chico contou-lhe o ocorrido, e ele explicou: 

Reviravoltas no sertãoWhere stories live. Discover now