Capítulo único

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Eu ansiava em vê-la uma outra vez. Andava de um lado para o outro ou conversava com meus amigos que começavam achar a história cômica enquanto vivíamos mais um dia de nossa rotina monótona. Porém não acreditavam em minha teoria, Charles Heller, um rapaz que acreditava ser um personagem. E como me sentia especial por isso, especial porque ela me escolheu!

Meu mundo estava coberto por uma camada de plástico, dividido em várias páginas e reviravoltas. E seu olhar pairou sobre ele, ela me escolheu. Esperava ansiosamente por alguém especial que se interessasse pelas minhas histórias, minhas falhas e minhas decisões. Que quisesse descobrir sobre meu mundo e saber sobre o desenrolar da minha história. Eu mostraria a ela, se sentiria em casa e o conjuntos de palavras que eu apresentaria seria seu mais novo refúgio, uma nova vida ou lar para conhecer.

E como era tão belo o seu olhar concentrado em minhas ações iniciais, como se quisesse me conhecer a cada palavra lida. Sentia meu coração aquecer quando ela sorria com as minhas piadas ou sentia vontade de me abraçar como eu queria abraça-la, embora ainda estivéssemos nos conhecendo.

Todos os dias me sentava e esperava minha bela leitora voraz vir para passar seu tempo comigo, gostava de quando ela gargalhava em alguma cena ou me levava para seu refúgio, para algum lugar tranquilo desejando mais horas de minha presença.

Sorria ao ouvir seus suspiros ou protestos quando as coisas não iam bem. Eu estava começando a ficar preocupado, mas sabia que poderia ficar tudo bem enquanto ela estivesse sendo a plateia principal da minha jornada.

Nossa amizade ficou mais forte quando ela acompanhou minha evolução e disse que me compreendia quando outros não tinham o mesmo ponto de vista. Se identificava com algumas de minhas manias, embora tenha dito que ficou com vontade de me jogar de um penhasco várias vezes.

"Charles Heller, se eu pudesse te jogar de um penhasco quando você faz o que não devia..."

Sabia que a cada página que ela lia, estava mais próximo do fim. Não queria continuar sem vê-la e sem sentir seus belos olhos pairarem sobre minhas palavras, mas meu autor me fez para tocar a várias pessoas.

Talvez o mal do personagem seja o mesmo do leitor, se encantar por todos de uma vez, não?

Então ela prendeu a respiração, estava tão ansiosa quanto eu para um belo desfecho.

Algo me preocupou quando eu estava em meio a tantos conflitos e problemas, ela sentiu minha dor e chorou comigo nas noites difíceis e no clima tempestuoso. Assim como sentia as perdas tanto quanto eu, ao ponto de deixar as páginas de lado por um instante, respirar fundo e retomar a leitura. Não gostava de vê-la triste!

Tentei acalmá-la com as minhas atitudes e minhas frases, então ela sorriu novamente.

O sorriso que me fez encantar cada vez mais pela leitora que me escolheu, não era uma fantasia como eu ou como as moças que costumava ver, ela era real e bela com todos seus traços, defeitos e manias. Minha leitora tão perfeita e real.

Meu coração se apertou ao lembrar de que talvez um dia ela pudesse não lembrar mais de mim, mas sei que lembraria. Eu esperava ter tocado-a com minha jornada da mesma forma que ela tocou a mim, que ela tenha aprendido com minhas lições e tenha se emocionado, que tenha sido divertido.

Então ela chegou ao final da minha caminhada longa, cheia de montanhas e desertos, comemorações e perdas. Talvez tenha acontecimentos que não a agradaram, eu sei, mas fiquei feliz pelas coisas que ela gostou.

O tão temido momento chegou. Ela fechou o livro.

Se despediu em meio a sorrisos e lágrimas, desejei vê-la novamente um dia ou que se lembrasse de mim quando ouvisse alguma música especial e viesse matar a saudade.

E me sentei novamente, torcendo para que meu mundo que tanto a atraiu não se tornasse poeirento. Já faziam alguns dias, até que senti meu coração despertar novamente quando ouvi sua voz.

"É ela!"

Avisei aos meus amigos, não evitei a felicidade estampada em meu rosto novamente quando eu a vi. E dessa vez ela apresentaria meu mundo a outro alguém. Esperava ser especial como ela, porque eu nunca a esqueceria.

Meus amigos ou cúmplices ainda riram da ideia cômica de Charles Heller ter se apaixonado por uma leitora. Mas sabia que o sentimento era recíproco enquanto ela estava em meio às páginas e sua imaginação comigo.

A curiosa paixão de Charles HellerOnde histórias criam vida. Descubra agora