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  Três anos depois de ser demitida

     Meu celular vibra sobre o balcão da cozinha, olho para o relógio do microondas onde marca dez da manhã. Largo a faca com a qual estava cortando alguns legumes e pego o celular.

Sorrio ao ver uma mensagem do David. Ele geralmente me manda mensagem durante a noite e raramente nos falamos durante o dia.

<<<< Oi, pode falar?>>>>

<<<< Estava no meio de uma interessante maratona de cortar legumes, mas sim posso. >>>>

Não leva nem dois segundos para que meu celular comece a tocar. Nos últimos três anos estamos nos apoiando mutuamente através de ligações e mensagens... Sem saber nada especificamente do outro.

Você não estava online ontem. Aconteceu alguma coisa?

Suspiro prendendo o celular entre o ombro e a orelha para voltar a cortar os legumes.

— Precisei traduzir alguns livros que estavam atrasados. Como foi sua noitada com seus colegas de trabalho?

É a vez dele suspirar e isso me faz ri. Ele não era um homem de suspiro até adquirir meu hábito.

Você sabe como é sair para beber com colegas de trabalho... É trabalho. Uma extensão do trabalho e uma maneira desagradável de ver eles bêbados agindo de forma que você não deveria ver.

Solto outra risada.

— Bem, eu nunca fui de sair para jantares assim e detestava reuniões e também nunca vi ninguém do meu trabalho bêbado. Graças a Deus, não é?

Você disse que estava cortando legumes... Já está preparando seu almoço?

Olho paras as cenouras, batatas e cebolas picadas na minha frente. Não bem o meu almoço, só estou testando a receita que li em um dos livros que estava traduzindo.

Ah, você está testando novamente uma receita de algum livro que traduziu, não é?

— É claro que não! Tenho coisas mais interessantes para fazer. — Digo, com confiança, mesmo não sendo uma verdade.

Ouço sua risada sonora através do fone do celular.

Eu te peguei, não adianta fugir dessa.

Coloco todo o conteúdo picado dentro da água fervente e tampo.

— Você é irritante demais. Seus colegas de trabalho deve odiar essa sua intromissão.

Basicamente, mas eu sou fofo, e isso supera o intrometido.

Seguro o celular com a mão e caminho até minha escrivaninha onde está meu notebook e dicionário.

— Você tem muita confiança em si mesmo, e isso deveria ser um crime. O excesso de confiança contradiz ao bom senso.

Ouço alguém falar algo com ele e sei que já está na hora de encerramos nossa ligação.

Minha confiança é baseada no bom senso. Então, não tem nada ilícito. Tenho que ir agora. Nos falamos mais tarde se estiver disponível?

— É claro. Tenha um bom dia!

Desligamos. Sento na minha cadeira estofada abrindo a tampa do meu notebook na página onde estava traduzindo um livro coreano.

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